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Por Amanda Kestelman, Marcelo Baltar e Rapahel Zarko — Rio de Janeiro

Não é exagero dizer que foram 30 dias tensos. Desde a eliminação do Carioca, há exatamente um mês, o Flamengo segue rodeado de pressão interna e externa, e ainda pena para dar rumos ao futebol. A política conturbada do clube em ano de eleição deixa mais em ebulição os problemas de um time que ainda procura sua identidade após quase cinco meses de temporada.

No momento, o Flamengo, como um todo, é uma panela de pressão. Na noite desta sexta, a crise trouxe consequências mais graves. Torcedores excederam limites. Os jogadores ficaram expostos, foram cercados e hostilizados no embarque para Fortaleza por membros de organizadas. Houve tensão e temor por agressões de fato. Diego foi o mais cobrado.

A relação time/torcida azedou de vez. O clima, que já era tenso, piorou. Todo elenco se solidarizou com o camisa 10. Os jogadores ficaram acuados e assustados e pensaram em suas famílias. Temem a escalada de episódios desse nível e querem providências. Especialmente em caso de um tropeço contra o Ceará, no domingo.

Diego foi cercado e hostilizado no embarque para Fortaleza — Foto: Reprodução/Esporte Interativo

O GloboEsporte.com lista as mudanças e os problemas de bastidores que se instalaram no clube desde a saída do técnico Paulo César Carpegiani e do diretor Rodrigo Caetano, há um mês.

Gestão do futebol: Noval ainda discreto, Fred Luz presente

Questionado há mais de um ano, Rodrigo Caetano não suportou a eliminação para o Botafogo. O diretor deixou o clube principalmente pelo clima insustentável após as declarações do vice de futebol, Ricardo Lomba, logo após a derrota na semifinal.

Para a função, a resposta rubro-negra foi rápida. Dias depois, o diretor da base, Carlos Noval, assumiu a posição. Discreto, só falou com jornalistas em sua apresentação e está se adaptando ao cargo. Noval ainda busca um equilíbrio para tomar frente das principais ações do departamento. A delicada conversa para a renovação de Paolo Guerrero, por exemplo, tem o CEO Fred Luz à frente.

Desde que assumiu como diretor de futebol, Carlos Noval só falou na sua apresentação — Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

Ricardo Lomba ganhou força política logo após a demissão de Carpegiani e Caetano. No entanto, ainda sofre com a desconfiança dos jogadores desde que questionou os atletas após o fracasso no Carioca.

Treinador: ''Vamos levando''

O alvo principal era mesmo o técnico Renato Gaúcho, do Grêmio. Com a recusa, o Flamengo não encontrou um nome de consenso disponível e deu o comando do time ao auxiliar Maurício Barbieri. Ele tinha poucos meses de clube.

Mauricio Barbieri não é unanimidade no Fla — Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

Com o elenco, Barbieri tinha amparo. E isso também pesou ao mantê-lo por ora. Internamente, a diretoria fez questão de respaldar o técnico para o grupo. Apesar da cautela no discurso oficial - ele segue como interino.

Internamente, não há convicção em relação ao nome de Barbieri. O Rubro-Negro está sim de olho no mercado dos treinadores e ainda busca um nome que agrade ao departamento de futebol e se enquadre no momento do clube.

Na falta de opções de consenso, o clube busca alguém para a função de coordenador técnico para dar suporte ao interino. Zinho recebeu proposta na semana passada, mas não houve acordo. A pressão interna e externa pode acelerar o processo para a contratação de um novo técnico.

Logo após a saída de Carpegiani, o presidente Eduardo Bandeira de Mello dizia que o Flamengo estava de olho dentro do clube e no mercado. Questionado sobre prazos para uma definição, disse: ''Vamos levando''.

Atuação do time

Carpegiani deixou o clube questionado pela atuação do time. A verdade é que 30 dias depois, o Flamengo segue longe de apresentar um bom futebol. Estruturalmente, Barbieri manteve a formação do início da temporada até a semana passada.

Diego é um dos jogadores cobrados pela torcida — Foto: ANDRÉ MELO ANDRADE/ELEVEN/ESTADÃO CONTEÚDO

Com a suspensão de Everton Ribeiro, o técnico interino acabou trocando para a formação com dois volantes. Jogou com Willian Arão de volta ao time diante de América-MG e Santa Fe, na Colômbia. Mesmo assim, não houve uma atuação sequer que convencesse. A equipe não apresentou evolução desde a saída de Carpegiani e, em alguns aspectos, parece ter regredido.

Vale ressaltar, no entanto, que o clube perdeu o atacante Everton, titular absoluto. Ele deixou o Rubro-Negro para reforçar o São Paulo.

Muros da Gávea foram pichados — Foto: André Durão

Protestos e ambiente político

Nesta semana, o Flamengo ouviu xingamentos e cobranças no embarque e no desembarque do jogo diante do Santa Fe. Pequenos grupos fizeram barulho sem poupar praticamente nenhum jogador e atacando diretamente a figura do presidente, Eduardo Bandeira de Mello. No treino de sexta, torcedores levaram faixas e jogaram pipoca e cascas de banana na porta do Ninho do Urubu. Mais tarde, no Galeão, mais protestos que excederam limites: torcedores cercaram Diego e outros jogadores. Poucos foram poupados antes da viagem à Fortaleza.

Politicamente, a gestão de Bandeira vive seu pior momento no último ano do mandato. Enquanto a eleição começa a tomar forma, as derrotas políticas se misturam com cobranças pesadas sobre o departamento de futebol. Nesta semana, a situação teve a reunião de aprovação de contas no conselho deliberativo suspensa. Clique aqui e entenda.

Torcedores colocam faixas em frente ao Ninho do Urubu — Foto: Carla Araújo/Coluna do Flamengo

Neste sábado, o elenco rubro-negro treina no estádio Alcides Santos, no Pici, em Fortaleza. A atividade será fechada para torcida e imprensa. Minutos após desembarcar no Ceará, o clube emitiu nota oficial repudiando os episódios recentes:

"O Flamengo vem a público protestar contra a atitude absurda de alguns torcedores organizados, que estiveram no aeroporto internacional Tom Jobim para intimidar e tentar agredir nossos atletas no embarque para a partida contra o Ceará no próximo domingo, pelo Campeonato Brasileiro.

O Flamengo sempre respeitará o direito de seu torcedor em expressar insatisfação. Porém, o clube jamais vai aceitar atos de intimidação como estes, que se tornaram uma realidade infeliz no futebol brasileiro.

Tentativas de agressão, verbais ou físicas, no ambiente de trabalho de qualquer profissional são inadmissíveis."

— Foto: Divulgação

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