Por G1 — Brasília


Fernando Haddad (PT) é entrevistado no Jornal Nacional

Fernando Haddad (PT) é entrevistado no Jornal Nacional

O candidato a presidente Fernando Haddad afirmou nesta sexta-feira (14) em entrevista ao Jornal Nacional que o modelo de financiamento empresarial de campanhas criou as condições para que "pessoas" tentassem ajudar o PT de forma irregular, mas não admitiu corrupção do partido.

Haddad fez a declaração ao ser confrontado, em uma pergunta do jornalista William Bonner, com informações sobre membros do PT – entre os quais os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, e Dilma Rousseff, ex-ministros, tesoureiros e dirigentes partidários – que são condenados, réus ou investigados na Operação Lava Jato. "Eu gostaria de saber, como é que o senhor se contrapõe a essa evidência", disse o jornalista.

"Na verdade, o financiamento empresarial de campanhas criou uma série de brechas que permitiram a pessoas, algumas tentarem ajudar o partido de forma irregular e outras enriquecerem pessoalmente. Agora, eu não condeno ninguém por antecipação. Você citou pessoas que já foram, inclusive, excluídas de processos penais", afirmou Haddad.

Registrado na última terça-feira (11) como candidato do PT em substituição a Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso, Fernando Haddad foi o quinto e último entrevistado da série do JN com presidenciáveis. O primeiro foi Ciro Gomes (PDT); o segundo, Jair Bolsonaro (PSL); o terceiro, Geraldo Alckmin (PSDB); e a quarta, Marina Silva (Rede).

Na entrevista, Haddad também respondeu sobre os motivos pelos quais foi derrotado na eleição de 2016 e não conseguiu se reeleger prefeito de São Paulo. Segundo ele, o eleitor foi "induzido a erro".

Para Haddad, 2016 foi um ano "muito atípico" na cidade de São Paulo. Na interpretação do ex-prefeito, naquele ano estava criado um "clima" de antipetismo no Brasil e havia informações represadas sobre outros partidos.

"Pergunte aos brasileiros o que acham do Temer e aí você vai saber o que aconteceu em 2016. Aconteceu uma indução a erro. O eleitor foi induzido a erro. As informações que ele tinha era que o PSDB era de santos, o PMDB era de santos, o PP era de santos e o demônio do país virou o PT. E isso se provou errado", disse.

Haddad foi questionado se a crise econômica não iria se agravar com o retorno do PT ao Planalto, uma vez que Dilma _indicada por Lula, assim como Haddad_ deixou o governo com 11 milhões de desempregados.

O candidato do PT alegou que a recessão econômica foi influenciada mais pela "sabotagem" sofrida por Dilma do que pels erros de seu governo.

"As pautas-bomba [matérias aprovadas pelo Congresso que geravam excesso de despesas para o governo] e a sabotagem que ela sofreu, reconhecida pelo presidente do PSDB, teve mais influência na crise do que os eventuais erros cometidos antes de 2014."

Ao mencionar o presidente do PSDB, ele se referia a uma entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" do senador Tasso Jeressaiti (PSDB-CE), que presidiu o partido de maio a novembro de 2017.

"O Tasso Jereissati falou: 'Nós cometemos três erros. Nós, pela primeira vez questionamos o resultado eleitoral no Brasil'. Isso é um crime contra a democracia, não se faz. Segundo lugar: 'Nós aprovamos uma pauta em que nós não acreditávamos para prejudicar o PT'. As palavras são dele, Tasso Jereissati. Três: 'Nós embarcamos no governo Temer'. E quatro: 'Nós embarcamos em Aécio Neves'. Esses quatro elementos é responsabilidade do PSDB."

Temas da entrevista

‘Partidarização’ do Judiciário

JN: O senhor e outros integrantes do seu partido criticam também o judiciário, muitos petistas já se referiram àquilo que seria uma conspiração do Judiciário. No entanto, quando a gente olha a lista de ministros integrantes do Supremo Tribunal Federal, a gente observa o seguinte, nos dois governos de presidentes petistas, Dilma Rousseff e Lula, foram nomeados 13 ministros do Supremo Tribunal Federal. Dos atuais 11 integrantes da Casa, 7 foram indicados ou por Lula ou Dilma. No Superior Tribunal de Justiça, são 33 cadeiras, e 28 foram indicadas por governos petistas. Dos 141 atuais desembargadores da Justiça Federal, 92 foram indicados por Lula ou por Dilma. O TRF-4 (onde Lula foi condenado em segunda instância) tem 27 integrantes, e 22 foram indicados por Lula ou Dilma. Diante desses números, eu lhe pergunto, houve uma conspiração no Judiciário ou houve uma enorme prova de isenção da Justiça?

Haddad: Você está perguntando para o Fernando Haddad. O que você testemunha aqui é que nós nunca partidarizamos o Judiciário. Nunca. O presidente Lula jamais indicou ministro do STF, do STJ pensando em como o ministro iria votar. Se ia votar a favor de A ou de B, perseguir A ou B. O que sua pergunta demonstra por números é que nunca partidarizamos o Judiciário. Isso não significa que o Judiciário não possa errar. Eu nunca usei a palavra ‘conspirar’. O que eu digo é que o Judiciário tanto pode errar que os recursos são previstos na Constituição para corrigir erros do Judiciário. Se fosse infalível, bastava o juiz de primeira instância.

‘Antipetismo’

JN: O presidente Lula indicou em várias eleições candidatos até então pouco conhecidos da imensa maioria do eleitorado. Os analistas costumam até ter um nome para esse tipo de candidato, é “candidato poste”. Indicou em 2012 o senhor para a Prefeitura de São Paulo e o senhor se elegeu. E quatro anos depois, o senhor tentou se reeleger não mais como candidato desconhecido, mas como alguém que tinha administrado por quatro anos a maior cidade do país. E o senhor perdeu a eleição, foi o primeiro candidato à reeleição da história da cidade de São Paulo a perder uma reeleição em primeiro turno. A maioria do eleitorado paulistano desaprovou a sua administração. Eu lhe pergunto: por que os eleitores devem acreditar que, apenas dois anos depois, o presidente Lula o indica como candidato à Presidência da República, o senhor não vai ter de novo a administração reprovada pela maioria do eleitorado?

Haddad: O clima que se criou no Brasil de antipetismo, porque se represou informações sobre os demais partidos, foi enorme. O que aconteceu em 2016? O Temer assumiu a Presidência e o Tasso Jereissati admitiu ontem que o maior erro do PSDB foi ter contestado as eleições de 2014, foi ter aprovado pautas-bomba contra o governo da Dilma e ter embarcado no governo Temer. Em 2016, o país tirou uma presidenta eleita legitimamente e colocou o Temer, que atraiu um programa completamente diferente e elegeu João Doria na Prefeitura de São Paulo. Pergunte hoje para os eleitores de São Paulo o que acham do meu sucessor. Pergunte aos brasileiros o que acham do Temer e aí você vai saber o que aconteceu em 2016. Aconteceu uma indução a erro. O eleitor foi induzido a erro. As informações que ele tinha era que o PSDB era de santos, o PMDB era de santos, o PP era de santos e o demônio do país virou o PT. E isso se provou errado.

Crise econômica e recessão

JN: Na eleição de 2010, o presidente Lula indicou Dilma Rousseff, exatamente como fez com o senhor em 2012 para a Prefeitura de São Paulo e agora para a Presidência da República. Mas, ao sair do governo, ao ter que deixar o governo, a presidente Dilma deixou o Brasil na crise em que todos nós brasileiros estamos mergulhados hoje e quase 11 milhões de desempregados. Hoje esse número já são 13. Por que que os eleitores devem acreditar que com o senhor, com partido que deixou mais de 11 milhões de desempregados, não vai agravar a crise?

Haddad: Estou dizendo que as pautas-bombas e a sabotagem que ela [Dilma] sofreu, reconhecida pelo [ex-]presidente do PSDB [Tasso Jereissati], teve mais influência na crise do que eventuais erros cometidos antes de 2014. Tínhamos a menor taxa de desemprego em 2014. Você está falando de desempregado? Pega a série histórica: 4,9% de desemprego em dezembro de 2014. E aí começa o Eduardo Cunha, o Aécio Neves a aprovar despesas no Congresso Nacional. Despesas em cima de despesas para sabotar um governo que precisava fazer um ajuste, mas não jogar a economia na recessão. Para recuperar a economia, como já tinha acontecido em vários momentos.

Gestão em São Paulo

JN: O senhor prometeu construir 55 mil moradias e entregou 15 mil, o senhor prometeu construir 43 Unidades Básicas de Saúde e o senhor entregou 12. No fim de seu mandato, havia quase meio milhão de paulistanos esperando para fazer um exame médico. Na área da segurança pública, o senhor prometeu contratar 2.000 guardas civis e entregou 600. O senhor não cumpriu promessas como prefeito de São Paulo. Muito bem, por que o eleitor haveria de imaginar que o senhor virá a cumprir as promessas que faz como candidato à Presidência da República?

Haddad: O meu plano de metas, William, tinha 123 metas. Eu cumpri a maioria delas. [...] Agora, são 123 itens, nós cumprimos mais de 50%, 100% das metas, e 85% ou 100% ou mais de 50% das metas. Detalhe: o PIB brasileiro entre 2015 e 2016 caiu 8%. Eu peguei a maior da recessão da história da cidade de São Paulo. E entreguei a cidade com grau de investimento. Você sabe o que é grau de investimento? Então, fique sabendo que, com a maior recessão da história da cidade, eu entreguei com R$ 5,5 bi em caixa, com dois e duzentos para pagar. Eu tive responsabilidade de manter a cidade de São Paulo sã em um período de crise.

Delações

JN: O senhor se apresenta como candidato à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores, o Partido dos Trabalhadores tem esta lista imensa de integrantes envolvidos na Lava Jato de alguma maneira, alguns estão presos, outros não estão, são réus, outros são investigados. Essa situação não é criada pela Rede Globo de televisão, nem pela mídia, nem pela imprensa, é uma situação dada. Eu estou oferecendo ao senhor a oportunidade de se contrapor a esta evidência, porque o senhor diz que petistas erraram, não o Partido e o Ministério Público diz que havia era uma organização, um sistema de corrupção que integrava essas pessoas todas

Haddad: Hoje, a delação virou uma indústria, que todo mundo, para tentar diminuir 80% da pena, fala o que quer sem apresentar provas. Você acha isso correto? Uma pessoa pega 20 anos de cadeia, faz uma delação, não apresenta nenhuma prova, a pena cai para 4 anos e a pessoa vai para a prisão domiciliar gozar do seu patrimônio intacto, enquanto os trabalhadores da empresa estão demitidos.

Denúncias em SP

JN: O senhor acabou de ser denunciado pelo Ministério Público por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha. O senhor e mais quatro pessoas, entre elas o ex-tesoureiro do PT João Vaccari. O senhor, portanto, é denunciado na Lava Jato. Isso não o constrange como candidato à Presidência da República?

Haddad: Se o que foi anunciado pela própria imprensa for verdade – a não ser que vocês tenham subvertido os fatos – a Odebrecht e a UTC... teve [a obra do] túnel da Avenida Roberto Marinho suspensa no meu segundo mês de mandato, eu tinha exatos 44 dias à frente da Prefeitura de São Paulo, quando eu suspendi uma obra por indícios de superfaturamento. Essas duas empresas resolveram me retaliar e, sem apresentar nenhuma prova, foram ao Ministério Público denunciar o que seria um pagamento de uma despesa de campanha que eles não provaram até hoje. Esses promotores que me denunciaram eles estão sendo investigados pelo Conselho do Ministério Público por terem entrado com uma ação faltando 30 dias para a eleição. Isso é um fato inédito na história do Ministério Público.

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