Nova espécie de caracol é descoberta no Arquipélago de Currais, no Paraná

Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) descobriram uma nova espécie de caracol no Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais, em Pontal do Paraná. Batizado de Drymaeus currais, o molusco é resultado de um processo evolutivo que o tornou distinto do Drymaeus castilhensis, natural da Ilha de Castilho, que fica a aproximadamente 70 quilômetros ao norte do parque. 

Em um artigo publicado na edição de novembro da Papéis Avulsos de Zoologia, revista da Universidade de São Paulo (USP), os autores explicam que, embora a concha rajada seja muito similar à do Drymaeus castilhensis, a análise da anatomia do animal demonstrou importantes diferenças. As principais características exclusivas da espécie encontrada nas Ilhas dos Currais foram observadas nos sistemas reprodutor e digestório.

O achado foi uma surpresa para os estudiosos, pois encontrar moluscos terrestres em um local que possui grande variedade de invertebrados marinhos é curioso. "Moluscos terrestres são organismos muito sensíveis, por isso é difícil imaginar que um indivíduo pudesse ter chegado até a região flutuando em alguma coisa ou carregado por aves marinhas”, conta Carlos Eduardo Belz, um dos pesquisadores, em comunicado.

Segundo ele, indícios levam a acreditar que o invertebrado iniciou o processo de especiação há centenas de anos, quando o mar de toda a costa brasileira era mais recuado. “Nessa época, Currais ainda não era um arquipélago e pertencia ao continente", explica Belz. "Provavelmente espécies similares circularam por essa região e, com o avanço do mar e da linha de praia, as ilhas ficaram isoladas e segregaram também essa população de molusco". Com o passar do tempo, os caracóis começaram a se reproduzir entre eles, levando a divisão das linhagens.

O gênero Drymaeus pertence à família de moluscos gastrópodes (com concha em espiral) bulimulidae que já tem cerca de 300 espécies descritas, das quais 49 ocorrem no Brasil. O Drymaeus currais foi encontrado em uma área sombreada na Ilha do Grapirá, a maior do parque, habitando troncos e folhas da vegetação arbórea da floresta e nas bromélias de costões rochosos.

“Os indivíduos estão limitados a essa ilha, nem nas outras ilhas desse mesmo arquipélago foram localizados exemplares. Por isso, esse pequeno ambiente tem extrema importância para a manutenção dos animais dessa classe", alerta o coautor Marcos de Vasconcellos Gernet. "Qualquer interferência ou desequilíbrio que ocorra nessa ilha, como uma queimada na vegetação, implica o desaparecimento da espécie”.

A umidade é essencial para a sobrevivência de moluscos como o caracol descoberto. Atualmete, a estiagem pela qual o estado está passando é um fator de risco para esses animaizinhos, pois, na ilha, basicamente a umidade a que têm acesso é proveniente da chuva.

Os especialistas esperam que a descoberta ajude a divulgar a existência do Arquipélago de Currais, que, em 2013, se tornou o terceiro Parque Nacional Marinho do Brasil – os outros dois estão localizados em Fernando de Noronha (PE) e Abrolhos (BA). O arquipélago é composto por três pequenos ilhéus rochosos e tem extrema importância para a biodiversidade marinha do litoral do Paraná.

“É muito importante o fato dessa nova espécie estar em um Parque Nacional Marinho paranaense e que ainda tem pouco conhecimento gerado a seu respeito", comentou Belz. "Isso valoriza o parque, que precisa de apoio e divulgação.”