Coronavírus

Por Pedro Fonseca, Reuters


Funcionário anda com roupas protetoras e um guarda-chuva em meio a túmulos no cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, no dia 25 de fevereiro. — Foto: Michael Dantas/AFP

A variante brasileira do coronavírus, que provavelmente emergiu em Manaus no fim de 2020, pode driblar o sistema imune de indivíduos já infectados pela Covid-19 e causar uma nova infecção, de acordo com uma nova pesquisa divulgada nesta segunda-feira (1°). Além disso, pode ser até 2,2 vezes mais transmissível do que as outras variantes do vírus.

"Esta nova variante pode infectar mesmo quem já tem anticorpos contra o novo coronavírus depois de uma primeira infecção natural" - Ester Sabino, imunologista e professora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP)

O estudo, coordenado por Sabino e pelo pesquisador da Universidade de Oxford Nuno Faria, foi feito com base na análise genômica de 184 amostras de pacientes diagnosticados com a Covid-19 em um laboratório de Manaus, entre novembro de 2020 e janeiro de 2021.

Por meio de modelagem matemática, cruzando dados genômicos e de mortalidade, a equipe de pesquisadores calculou que a variante de Manaus, conhecida como P.1., é entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que as linhagens que a precederam, segundo nota da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que apoiou o estudo.

"Os cientistas estimam ainda que em parte dos indivíduos já infectados pelo SARS-CoV-2 - algo entre 25% e 61% - a nova variante seja capaz de driblar o sistema imune e causar uma nova infecção", disse a Fapesp. O trabalho de modelagem foi feito em colaboração com pesquisadores do Imperial College de Londres.

Diante de uma variante mais transmissível, há uma grande preocupação sobre como as vacinas aprovadas contra a Covid-19 irão reagir a ela. Segundo Sabino, apesar de também tratar de imunidade, o estudo não tem relação com eventual eficácia das vacinas, uma vez que o trabalho se baseou apenas na imunidade de pessoas que já tiveram a doença.

VÍDEO: o que já sabemos sobre a variante brasileira do coronavírus

VÍDEO: o que já sabemos sobre a variante brasileira do coronavírus

"O trabalho sugere que esse vírus consegue evadir a imunidade adquirida por infecção, não dá pra falar de vacina nesse momento. Depois vai depender da vacina, podem ser vacinas diferentes", afirmou a imunologista. O estudo foi enviado para processo de revisão por pares e está em processo de avaliação de revistas científicas.

O trabalho também apontou que em apenas sete semanas a P.1. tornou-se a linhagem do SARS-CoV-2 mais prevalente na região de Manaus. Segundo Sabino, "parece bastante provável" que a nova variante consegue se replicar mais no organismo humano do que a linhagem anterior.

A nova variante é apontada como uma das causas do colapso do sistema de saúde de Manaus no início deste ano, quando a capital do Amazonas sofreu uma falta de oxigênio nos hospitais devido à explosão de casos novos, com pacientes morrendo sufocados nos leitos.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!