• Giuliana Viggiano *
Atualizado em
Jonathan Bergman (Foto: Divulgação)

Jonathan Bergmann (Foto: Divulgação)

Existe uma grande inquietação da sociedade acadêmica quando o assunto é ensinar e aprender. Uma série de novas hipóteses têm sido lançadas e experimentadas para tentar fazer com que os alunos, jovens ou não, tenham mais facilidade de aprender, o que melhora o nível de sua educação.

A “Flipped Classroom” ou “Sala de Aula Invertida” é um desses métodos educacionais. Ele consiste em introduzir os conteúdos básicos antes das aulas, a partir de recursos como vídeos, textos, áudios e games.

Segundo Jonathan Bergmann, um dos desenvolvedores da ideia, a mágica está na troca dos momentos: “Nessa situação, no tempo em classe os alunos tiram dúvidas, criam, praticam, analisam, debatem, têm conversas mais profundas e experienciam”, disse em entrevista à GALILEU.

O especialista esteve no Brasil no fim de agosto de 2017, quando foi convidado pelo GEN Educação para participar do 1º FlipCon Brasil, congresso mundial sobre sala de aula invertida.

Leia mais:
Educação ainda está distante da favela, diz autor do 'Rap da Felicidade'
Vencedora do Nobel da Paz, Malala é aprovada na Universidade de Oxford

A ideia é flexibilizar e modernizar os métodos de aprendizado, tornando-a uma área em que as pessoas precisam ser ativas, não passivas. Para o especialista, essa é uma das chaves dessa tática de ensino, juntamente com o estreitamento dos laços entre alunos e professores: “Quando um professor está dando a aula como uma palestra uma distância é criada”, argumenta.

Entretanto, os docentes não podem começar a fazer vídeos da noite para o dia. Um treinamento é necessário, pois, segundo Bergmann, há uma forma correta de aprender a usar a tecnologia para ensinar os alunos a também se educarem a partir dela.

“Não consigo ver pontos negativos nesse método. Se os professores forem treinados da maneira correta, os alunos não ignorarão as atividades de casa e saberão que devem tomar notas e levar dúvidas para as aulas”, aponta.

Sobre o custo desse tipo de educação, Bergmann não hesita: “Se o educador tem um celular ou uma câmera e a escola tem wifi para os alunos poderem baixar os conteúdos já é o suficiente”. Ele lembra de quando implantou o sistema pela primeira vez na escola em que lecionava no Colorado, Estados Unidos: “Gastamos cinquenta dólares para baixar um programa de edição. Essa é muito mais uma questão de mudar a forma de pensamento do que de gastar dinheiro”.

Mudança de pensamento, aliás, que defende fortemente. Ao ser questionado sobre o maior problema da educação atual, foi incisivo em dizer que a resposta é a tradição. “Sempre fizemos de um jeito e temos medo de mudar, mas se olharmos para o resto do mundo, todos os outros sistemas estão se alterando, se adaptando”, afirma.

Para Bergmann, a situação se assemelha a um médico descobrir a cura do câncer e os outros não quererem usar por preferirem o método anterior. “Há questões como praticar exercícios ou se alimentar direito que tem a ver com o que cada um quer. Aplicar o que é melhor para um indivíduo em um grande sistema como a educação é egoísmo”.

Concordando ou não, fato é que a nova forma de educar dá resultados. Na Universidade de British Columbia, por exemplo, professores de física aplicaram a metodologia e conseguiram um aumento em 20% na presença e em 40% na participação dos estudantes, além das notas, que foram duas vezes maiores que as das classes que ainda utilizavam a metodologia tradicional.

Já em Harvard, professores de matemática conduziram um estudo de 10 anos em suas classes de cálculo e álgebra, através do qual descobriram que alunos inscritos em aulas invertidas obtiveram ganhos de 49 a 74% a mais na aprendizagem que alunos inscritos em aulas tradicionais.

O segredo, portanto, é usar a tecnologia como aliada na hora de ensinar (em todas as etapas da educação). “No passado aulas eram gravadas para aqueles alunos que faltavam poderem assisti-las depois. A proposta aqui não é essa, mas aumentar a participação em sala de aula, além de fazer crescer o tempo que o professor pode se dedicar aos alunos”.

*(Com supervisão de Nathan Fernandes.)

Curte o conteúdo da GALILEU? Tem mais de onde ele veio: baixe o app da Globo Mais para ver reportagens exclusivas e ficar por dentro de todas as publicações da Editora Globo. Você também pode assinar a revista, por R$ 4,90 e baixar o app da GALILEU.