Por G1


Venezuela é um país dividido entre chavistas e os opositores

Venezuela é um país dividido entre chavistas e os opositores

As ruas de Caracas, capital da Venezuela, foram tomadas por confrontos nesta terça-feira (30) que deixaram mais de 70 feridos após o presidente autoproclamado do país, Juan Guaidó, ter convocado a população a se manifestar contra o regime de Nicolás Maduro. Guiadó anunciou o apoio de militares para derrubar o governo e deu início à fase final da chamada Operação Liberdade.

Já Maduro acusa os oposicionistas de tentativa de golpe. Ele postou mensagem na qual diz que militares demonstraram "total lealdade ao povo, à Constituição e à Pátria". Também convocou às ruas a população que o apoia. "Venceremos", escreveu o chavista em rede social.

Em Nova York, o embaixador venezuelano na Organização das Nações Unidas (ONU), Samuel Moncada, afirmou que "o governo do presidente Nicolás Maduro derrotou todas as tentativas de criar uma guerra civil", em seu país, referindo-se à movimentação liderada por Guaidó. Disse ainda o país foi alvo de um típico golpe articulado pelos Estados Unidos na América Latina – e que desta vez não teria ido adiante.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse ao jornalista Wolf Blitzer, da CNN, que Maduro estava pronto para deixar o país nesta terça-feira, mas foi convencido a ficar pela Rússia. Segundo Pompeo, "Ele tinha um avião na pista, estava pronto para partir esta manhã até onde sabemos e os russos indicaram que ele deveria ficar...ele estava indo para Havana". A informação não foi confirmada.

Maggia Santi, diretora do Centro Médico Salud Chacao, disse que 71 pessoas ficaram feridas, sendo 43 atingidas por bala de borracha, duas pessoas feridas por armas de fogo, 21 que sofreram lesões traumáticas, três que tiveram problemas respiratórios, uma pessoa que teve um ferimento na mão e uma que sofreu um desmaio.

Ainda pela manhã, grupos de manifestantes tentaram entrar na principal base aérea do país, a Generalísimo Francisco de Miranda, conhecida como La Carlota. O local – que fica na região leste de Caracas, a cerca de 13 quilômetros do Palácio Miraflores, sede do governo – foi escolhido como ponto de apoio a Guaidó.

Venezuela vive dia de confrontos entre forças do governo e da oposição

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Manifestantes forçaram as grades, mas os militares responderam com disparos de bombas de gás. Carros blindados da polícia também avançavam sobre manifestantes.

Um dos veículos chegou a acelerar sobre a multidão, atropelando pessoas e provocando uma correria que derrubou mais gente perto da La Carlota (veja abaixo). Logo após o carro avançar, uma chama foi vista sobre o veículo. Não era possível identificar, no entanto, de onde partiu o fogo.

— Foto: Reprodução/GloboNews

O que aconteceu até agora

O vídeo abaixo resume os principais fatos do dia:

Entenda o que aconteceu hoje na Venezuela

Entenda o que aconteceu hoje na Venezuela

  • Presidente autoproclamado Juan Guaidó convocou população às ruas e disse ter apoio de militares.
  • Presidente Nicolás Maduro afirmou ter conversado com todos os comandantes das chamadas Redi (Regiões de Defesa Integral) e Zodi (Zona de Defesa Integral), que, segundo ele, manifestaram "total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria".
  • Líder da oposição Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar após decisão sob o regime de Maduro, foi liberado e circulou pelas ruas ao lado de Guaidó. Mais tarde, o ministro das Relações Exteriores chileno disse López foi para a Embaixada da Espanha, depois de passar pela missão diplomática do Chile.
  • Diosdado Cabello, que comanda a Assembleia Constituinte pró-Maduro, convocou apoiadores do governo a se dirigir para o Palácio presidencial de Miraflores.
  • Policiais dispararam bombas de gás contra manifestantes em Caracas. Segundo TV estatal, eles tentaram dispersar "golpistas".
  • O presidente Jair Bolsonaro reafirmou apoio a Guaidó e disse que o Brasil "acompanha com bastante atenção" a situação.
  • O vice-presidente Hamilton Mourão disse que crise chegou ao limite e que ou Guaidó será ou preso ou Maduro vai embora.
  • Já o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que o Brasil espera que militares venezuelanos apoiem a "transição democrática" no país vizinho.
  • 25 militares venezuelanos, nenhum de alta patente, pediram asilo na embaixada brasileira em Caracas.
  • O presidente americano, Donald Trump, postou em rede social mensagem na qual diz acompanhar de perto a situação e que "os Estados Unidos apoiam o povo da Venezuela e a sua liberdade".
  • O embaixador venezuelano em Washington nomeado por Juan Guaidó, Carlos Vecchio, disse que os EUA não tiveram nenhum papel na coordenação do movimento desta terça.
  • Cuba, Bolívia e Rússia criticaram a ação de Guaidó.
  • O embaixador venezuelano na ONU, Samuel Moncada, disse que o governo Maduro derrotou "tentativa de criar guerra civil".

Conflitos nas ruas

Vídeos mostram confrontos e tensão na Venezuela

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Nas ruas, mais cedo nesta terça, militares já haviam disparado bombas contra manifestantes. De acordo com a rede de TV estatal Telesur, policiais tentaram dispersar com gás lacrimogêneo aqueles considerados "golpistas".

A base La Carlota, onde aconteceram conflitos, foi declarado, em 2002, zona de segurança militar. Os voos para lá estão proibidos desde 2014, de acordo com o jornal colombiano "El Mundo".

Guaidó surpreendeu ao aparecer nas imediações de La Carlota em companhia de Leopoldo López, o líder da oposição que estava em prisão domiciliar e foi libertado – ele reapareceu em público pela primeira vez justamente nesta terça.

Depois, o ministro das Relações Exteriores chileno, Roberto Ampuero, confirmou que López foi para a residência da missão diplomática do Chile, acompanhado por sua mulher e uma filha do casal.

À noite, Ampuero disse que Lopéz e Tintori decidiram deixar a missão diplomática do Chile rumo à Embaixada da Espanha, por decisão pessoal.

íder da oposição da Venezuela, Juan Guaidó, discursa para apoiadores em Caracas — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Após os conflitos da manhã, já na tarde desta terça, Guaidó escreveu em rede social:

"Venezuela: temos em nossas mãos o poder de alcançar o fim definitivo da usurpação. Estamos em um processo que é imparável. Temos o apoio firme de nossa gente e do mundo para alcançar o restabelecimento de nossa democracia. #TodaVenezuelaNaRua".

Já perto do Palácio Miraflores, uma multidão pró-Maduro fez uma manifestação.

O ministro da defesa, Vladimir Padrino López, se pronunciou na TV e disse que "este ato de violência foi derrotado. Quase todo esse grupo de uniformizados com armas deixou o distribuidor e foi para a praça Altamira, repetindo 2002 [naquele ano, houve um golpe que derrubou Hugo Chávez temporariamente]".

López terminou o pronunciamento dizendo "Chávez vive!".

Multidão de manifestantes pró-Maduro participa de protesto em defesa do presidente perto do Palácio Miraflores, em Caracas, a cerca de 10 km da base aérea 'La Carlota' — Foto: Matias Delacroix/AFP

Censura corte em transmissão de TV

A colunista de política internacional do G1 Sandra Cohen informou que o Sindicato Nacional de Trabajadores de la Prensa de Venezuela (SNTP) denuncia a censura prévia e o corte nas transmissões de duas emissoras de TV estrangeiras e uma nacional promovidos pelo regime de Maduro. Entre elas, está a CNN Internacional.

Manifestante apoiador de Guaidó atira de volta uma bomba de gás-lacrimogêneo atirada por forças de Maduro durante confronto em frente à base aérea 'La Carlota', em Caracas — Foto: Matias Delacroix/AFP

Reação internacional

Brasil, Estados Unidos e Colômbia apoiaram o movimento contrário a Maduro. O presidente Jair Bolsonaro afirmou, por uma rede social, que o país "acompanha com bastante atenção" a situação e está "ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos."

O secretário de estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, afirmou, também por meio de rede social, que o governo norte-americano "apoia plenamente o povo venezuelano em sua busca por liberdade e democracia". "A democracia não pode ser derrotada", diz o post.

Cuba, Bolívia e Rússia criticaram.

A chancelaria russa acusou a oposição venezuelana de usar métodos violentos de confronto e pediu para que a violência pare. Os problemas do país devem ser resolvidos por meio de negociações, sem condições prévias, segundo a agência Interfax.

Grupo de Lima

Os governos de Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Venezuela, membros do Grupo de Lima, se reuniram por teleconferência nesta terça e emitiram um comunicado, no qual expressaram seu respaldo ao “processo constitucional e popular empreendido pelo povo venezuelano e liderado por Juan Guaidó para recuperar a democracia e rechaçam que o processo seja qualificado como um golpe de Estado”.

O Grupo de Lima também se declarou em sessão permanente e anunciou que irá se reunir presencialmente em Lima, no Peru, na próxima sexta-feira, dia 3 de maio.

Nova etapa da Crise na Venezuela — Foto: Juliane Souza/G1

Crise na Venezuela

Relembre 7 momentos recentes da crise na Venezuela

Relembre 7 momentos recentes da crise na Venezuela

A tentativa de derrubar o regime de Nicolás Maduro é o mais recente capítulo na profunda crise política da Venezuela. Há mais de 15 anos, o país enfrenta uma crescente crise política, econômica e social.

A Venezuela vive um colapso econômico e humanitário, com inflação acima de 1.000.000% e milhares de venezuelanos fugindo para outras partes da América Latina e do mundo.

Neste mês, diversas interrupções no fornecimento de energia e água ameaçaram uma catástrofe sanitária.

A ONG norte-americana Human Rights Watch disse que a saúde do país está sob "emergência humanitária complexa".

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