Por Guilherme Pimenta, G1 Minas — Belo Horizonte


Praça da Estação é palco da Parada do Orgulho LGBT em BH — Foto: Antônio Salaverry/Arquivo pessoal

Pessoas trans, pretas, pardas e indígenas sofrem mais impactos causados pelo isolamento social, durante a pandemia. Esse é o resultado de uma pesquisa feita por um coletivo que atua pela causa LGBT, divulgado neste domingo (28), e mostra que esses grupos estão entre os mais vulneráveis diante das consequências do isolamento. As pessoas bissexuais também aparecem como destaque entre os mais afetados pelo cenário de restrição social.

O objetivo da pesquisa foi traçar marcadores por meio do cruzamento de dados sobre o acesso à saúde, trabalho, renda e exposição ao risco de infecção ao novo coronavírus. De acordo com o relatório, a união desses fatores ajuda a entender a capacidade das pessoas em se sustentar e se manter em isolamento social, criando o índice de Vulnerabilidade de LGBT+ à Covid-19 (VLC).

Ainda de acordo com a pesquisa, a metodologia utilizada na construção do VLC é a mesma que caracteriza o índice de vulnerabilidade social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Os resultados do VLC variam entre 0 e 1, sendo que, quanto mais próximo a 1, maior a vulnerabilidade à Covid-19 do grupo analisado.

Pesquisadores construíram régua que ajuda a fazer a leitura do índice VLC — Foto: Reprodução / Coletivo #VoteLGBT

Índice de Vulnerabilidade à Covid-19

Grupos Índice de Vulnerabilidade Renda e Trabalho Exposição ao risco Saúde
LGBT+ 0.488 0.293 0.751 0.420
Cis 0.485 0.287 0.753 0.415
Mulher cis 0.499 0.314 0.757 0.426
Homem cis 0.474 0.266 0.750 0.407
Trans 0.520 0.353 0.733 0.475
Branco/Asiáticos 0.470 0.272 0.754 0.384
Preto/pardo/indígenas 0.519 0.328 0.746 0.482
Lésbica 0.491 0.302 0.753 0.418
Gay 0.473 0.261 0.754 0.403
Bissexual 0.509 0.336 0.750 0.441

De acordo com a tabela levantada pelos pesquisadores, as pessoas trans (0.520), as pessoas pretas, pardas e indígenas (0.519), além dos bissexuais (0.509), tendem a sofrer maiores impactos diante das desigualdades enfrentadas por esses grupos. Os resultados mostram que eles fazem parte do índice considerado grave para os reflexos do isolamento social, com média acima de 0,500.

Arrecadação virtual

A partir dos resultados, o coletivo pensou em uma maneira de ajudar as pessoas mais vulneráveis, nesse período de isolamento social. Desenvolveram uma campanha para arrecadar fundos direcionada às entidades que amparam a comunidade LGBT+. A iniciativa vai gerar recursos para instituições em diferentes cidades do país, entre eles o Transvest, em Belo Horizonte. Para contribuir, basta clicar aqui.

Outras descobertas

A análise da pesquisa também possibilitou ao coletivo enxergar outros problemas trazidos pela quarentena. A maior parte deles está diretamente ligada à falta de emprego e renda e pode desencadear alterações psicológicas.

“Se na adolescência essas dificuldades de comunicação de identidade são permeadas pela falta de independência financeira, na fase adulta questões de saúde mental são combinadas com ausência de trabalho e renda. Já nas idades mais avançadas, a solidão aparece como um dos maiores desafios”, resume Samuel Silva, demógrafo da UFMG que participou do trabalho.

  • Pessoas acima dos 55 anos apresentaram 80% mais de chance de reportar solidão como o maior problema quando comparados com as pessoas de 15 a 24 anos;
  • A falta de dinheiro também foi um problema que aumentou sua relevância com o aumento da idade. Entre as pessoas com 45 a 54 anos, a chance de indicar essa como a maior dificuldade da quarentena foi 70% maior em relação às pessoas com entre 15 e 24 anos;
  • Pretos, pardos e indígenas possuem 22% mais chance de indicar a falta de dinheiro como a maior dificuldade da quarentena do que Brancos e Asiáticos;
  • 4 em cada 10 pessoas LGBT+ e metade das pessoas trans (53%) não conseguem sobreviver sem renda por mais de 1 mês, caso percam sua fonte de renda;
  • Quase metade (44,3%) das pessoas tiveram tiveram suas atividades escolares totalmente paralisadas durante o isolamento;
  • A taxa de desemprego padronizada entre os LGBT+ foi de 21,6%, quase o dobro do registrado pelo IBGE no restante da população;
  • 3 em cada 10 dos desempregados estão sem trabalho há 1 ano ou mais;
  • 1 em cada 4 (24%) perderam emprego em razão da Covid-19;
  • Durante a quarentena, 7 em cada 10 pessoas (68,42%) só saem de casa quando inevitável;
  • 8 em cada 10 pessoas perceberam uma alteração de humor durante a quarentena;
  • 28% das pessoas já haviam recebido diagnóstico prévio de depressão, número quatro vezes maior do registrado no restante da população, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde;
  • 47% foram classificadas com o risco depressão no nível mais severo.

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