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Por Alessandro Jodar, Eduardo Rodrigues e Felipe Ruiz — Curitiba


Com cinco vitórias seguidas no comando do São Paulo, Cuca revela grandes paixões fora das quatro linhas

Com cinco vitórias seguidas no comando do São Paulo, Cuca revela grandes paixões fora das quatro linhas

Santa Felicidade é um bairro de Curitiba, no Paraná, que reúne bons restaurantes, uma pitada de clima do interior e um povo acolhedor. É lá que o técnico Cuca, do São Paulo, nasceu. E é o lugar que ele hoje adota como refúgio nos momentos de folga. Em uma rua pacata, o treinador encontra sua "santa felicidade" ao lado da família.

Na casa sem grandes luxos, mas com muitas referências à religiosidade, principalmente à Nossa Senhora Aparecida, a Santa de devoção de Cuca, a monotonia não tem vez. Mãe, esposa, filhas, sobrinha, genro e, principalmente, a neta alegram o dia a dia da casa que o técnico só visita de vez em quando. Tem uma folga? Cuca não hesita em fazer a ponte aérea.

E a família Stival abriu as portas de sua casa à reportagem do Grupo Globo para contar quem é o Cuca longe dos gramados. Quem é Alex Stival pai, marido, filho, sogro e avô.

Cuca abriu sua casa ao Esporte Espetacular — Foto: Eduardo Rodrigues

Nos três dias de gravação, vivenciamos o amor da neta Eloah por “Cucaí”, como ela o chama, o orgulho das filhas Maiara e Natasha, a fé da esposa Rejane, toda a simpatia da mãe Nilde e a simplicidade e cordialidade de Cuca ao receber a equipe em sua casa.

A partir de agora, contamos todos os bastidores desta reportagem que foi ao ar no Esporte Espetacular deste domingo (veja a matéria completa no vídeo acima):

Vovô “Cucaí” e a neta Eloah

A história do Cuca longe da área técnica não poderia começar a ser contada se não fosse pela sua relação com a neta. Com apenas dois anos, Eloah tem o poder de derreter o coração de Cuca (e de quem está por perto).

Técnico do São Paulo, Cuca brinca com a pequena Eloah, sua netinha e grande xodó

Técnico do São Paulo, Cuca brinca com a pequena Eloah, sua netinha e grande xodó

Quando estão separados, Eloah pergunta do avô a todo instante. Se vê uma imagem com o rosto dele, fala: “Vovô Cucai!” e aponta o dedo para a fotografia. Quando estão juntos, não se desgrudam um minuto.

Eloah e Cuca não se desgrudam quando estão juntos — Foto: Arquivo pessoal

Eloah nasceu em 2017, quando Cuca estava na Bahia junto com o Palmeiras para a disputa da oitava rodada do Campeonato Brasileiro daquele ano. O avô não conseguiu acompanhar de perto o nascimento da neta, mas a partir daquele momento sua vida mudou por completo.

– Nossa, a Eloah... Ser pai é bom, sabe, Maiara, Natasha, uma maravilha... Mas ser avô é melhor ainda. É bem melhor, porque você não tem o compromisso da educação direta dela. Dá até pra dar uma deseducada de vez em quando, dar uma balinha escondido – brincou Cuca.

– E você está mais velho, mais sensível, então você curte muito mais do que quando eu tive as meninas, que eu estava jogando, então não tinha tempo muito de ficar em casa. Hoje, quando eu venho para cá, eu só quero ficar com a Eloah. Só a parte boa, fralda essas coisas não, deixa para a mãe – completou.

Eloah dorme nos braços de Cuca, na sala da casa em Curitiba — Foto: Felipe Ruiz

Os cavalos e o sítio

Além do amor pelo futebol, a família tem um outro apreço: os cavalos. A dez minutos da casa de Cuca, o treinador tem um sítio aconchegante, com cavalos, pôneis, vacas e até lhamas. E, claro, uma quadra de futebol society, onde toda terça tem futebol antes do jantar.

Lhama do Cuca — Foto: Felipe Ruiz

O total descanso do treinador acontece nesse sítio, em Campo Magro. É lá que ele passeia a cavalo com a Eloah, joga um futebol e mantém a família unida nos churrascos e jogos de cartas (outra paixão do treinador).

Eloah, inclusive, sabe o nome de todos os cavalos e de quem é quem. O Fetiche, por exemplo, pertence a Cuca, e algumas imagens do animal decora as prateleiras da casa.

Cuca e Eloah andam a cavalo no sítio do técnico do São Paulo

Cuca e Eloah andam a cavalo no sítio do técnico do São Paulo

– Esse lugar representa toda a minha infância. Essa chácara era do meu avô, pai do meu pai. Desde quando eu era pequenininha ele já trazia a gente pra cá para andar a cavalo. E ficou pro meu pai de herança. Desde os 9 meses ela vem para cá, pesca, toma chimarrão, passa um domingo aqui fazendo tudo. Eu amo esse lugar – contou Natasha, a filha mais nova de Cuca e mãe de Eloah.

Natasha, mãe de Eloah, brinca com a filha perto de Dólar, o pônei que pertence à menina. — Foto: Felipe Ruiz

Flamengo de Santa Felicidade

Engana-se quem pensa que Cuca aposentou as chuteiras. Quando está em Curitiba, o ex-jogador vira o craque do Flamengo de Santa Felicidade, equipe formada por jogadores com mais de 50 anos. Em uma das últimas partidas da equipe, Cuca marcou três gols da vitória de sua equipe .

– Olha, não vou falar como treinador, vou falar como jogador: ele é diferente, ele é muito bom jogador, ele é um cara que dentro do nosso time faz muita diferença, eu acho que ele é o principal jogador do campeonato de cinquentinha que tem em Curitiba – disse Severino, técnico da equipe.

Cuca joga pelo seu "Flamenguinho de Santa Felicidade" — Foto: Arquivo Pessoal

Mas nem sempre a presença do treinador do São Paulo é um bom sinal...

– A gente torce para ele ser desfalque, porque ou ele vem nas folgas ou vem quando está desempregado, e aqui ninguém torce para ele ficar desempregado (risos).

Na sala de troféus montada na sala residência de Cuca, o Flamenguinho também tem seu espaço reservado com muito orgulho.

Cuca posa com a camisa do Flamenguinho — Foto: Felipe Ruiz

A padaria e o empreendedorismo

– Depois que eu parei de jogar, em 97, eu tinha que fazer alguma coisa, e eu falei "vou tocar a padaria". Mas não é fácil, cara, é melhor treinar, melhor ser jogador do que mexer com o povo.

Estivemos na famosa padaria que antecedeu o trabalho de técnico de Cuca. Foi ali, nas imediações de sua casa, que o hoje treinador deu seus primeiros passos como empreendedor. Ele não teve muita paciência para seguir na "Pão do Cuca", primeiro nome da padaria, mas ali foi o início de uma promissora carreira.

Anos depois, a profissão de técnico deslanchou, a padaria permaneceu, mas passou a dividir as atenções com um restaurante e salão de festas em Santa Felicidade. Anos depois, surgiu uma concessionária de carros, que também tem um nome sugestivo: Eloauto. O empreendimento é gerenciado pelo genro Caique.

Mas no fim das contas, quem sofre é a filha mais velha, a Maiara...

– Para mim é bom, porque eu descarrego tudo na Maiara, coitada, tem dia que ela tá... não deve ser fácil, porque a gente também tem os problemas da gente e acaba passando para ela. Em grande parte deles, mas ela absorve bem também – contou Cuca.

A ligação de Maiara com o pai é tão forte que ela fez questão de eternizar umas das imagens mais marcantes do treinador. Na conquista da Libertadores de 2013, com o Atlético-MG, Cuca tinha a camisa de Nossa Senhora Aparecida como amuleto e comemorou o título ajoelhado e com os punhos cerrados. A foto foi parar nas costas da filha (veja na foto abaixo).

Filha de Cuca, Maiara eterniza imagem do pai nas costas — Foto: Arquivo pessoal

Assim, marcado na pele e na vida das pessoas que convivem com ele, Cuca mostra-se um homem diferente daquele que esbraveja à beira do campo. "Um filhão, paizão, vozão... sei lá, nem consigo achar palavras para defini-lo", diz Nilde, sua mãe. E em um pedacinho de terra dessa América que Cuca já conquistou em 2013, reina uma felicidade única. Por lá é Santa Felicidade.

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