Economia Petróleo e energia

Petrobras vende 1º campo no pré-sal por US$ 2,5 bi

Norueguesa Statoil é a compradora; negócio tem como meta reduzir endividamento

Sede da Petrobras, no Centro do Rio
Foto: Carlos Ivan / Agência O Globo
Sede da Petrobras, no Centro do Rio Foto: Carlos Ivan / Agência O Globo

RIO e SÃO PAULO - A Petrobras anunciou ontem sua primeira venda de um campo do pré-sal. A estatal se desfez de sua participação de 66% no Campo de Carcará, considerado uma das “joias da coroa”, na Bacia de Santos, por US$ 2,5 bilhões à petroleira norueguesa Statoil. Carcará fazia parte da lista de ativos que a estatal colocou à venda desde o ano passado para reduzir seu endividamento e cumprir a meta de levantar US$ 15,1 bilhões no biênio 2015-2016 com a venda de bens. O mercado financeiro recebeu bem a operação. Os papéis preferenciais (sem direito a voto) fecharam em alta de 3,76%, a R$ 11,87. Já as ações ordinárias (com voto) avançaram 5,02%, a R$ 14,01.

De acordo com o diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, a venda do campo é a maior operação já realizada no segmento de petróleo no país e o segundo maior negócio anunciado este ano, atrás apenas da compra da operação brasileira do HSBC pelo Bradesco, por US$ 5,2 bilhões:

— Nosso objetivo é reduzir a dívida líquida da companhia e aumentar a previsibilidade do que a Petrobras faz.

O Campo de Carcará só iniciaria a produção entre 2020 e 2023, mas começaria a pressionar o caixa da Petrobras em 2018, quando fosse declarado comercialmente viável, informou a diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Solange Guedes, em entrevista para explicar a operação. Ela informou que os investimentos na área seriam elevados, mas não citou valores.

PETRÓLEO DE ALTA QUALIDADE

Solange observou, entretanto, que os equipamentos de exploração a serem usados em Carcará, pelas próprias características do campo, estão fora do padrão adotado pela companhia, o que aumentaria os custos entre 25% e 30%.

— Nossa estratégia é priorizar os ativos que terão geração de caixa a curto prazo e que não pressionem a alavancagem da companhia. O objetivo é alocar os recursos em ativos que já estão produzindo ou devem iniciar a produção a curto prazo — afirmou a diretora.

O geólogo Pedro Zalán, da Zag Consultoria, explicou que Carcará é uma das maiores descobertas do pré-sal já feitas pela Petrobras. Ele avalia que as reservas podem ser muito maiores do que o estimado até agora porque os reservatórios se encontram acima de um vulcão antigo, cujas rochas fraturadas poderiam ter ainda mais óleo. O geólogo destaca que o petróleo é de excelente qualidade, e que, ao contrário de outras acumulações do pré-sal, as condições facilitam muito a extração de óleo.

Para o especialista, a venda da fatia da Petrobras foi a melhor solução para o país, porque a estatal está sem caixa para investir.

— Consequentemente, a produção deste imenso volume de óleo estaria postergada por muitos anos caso a Petrobras continuasse como operadora. Assim como os royalties, impostos, empregos e investimentos decorrentes deste megaempreendimento — destacou Zalán.

De acordo com o negócio anunciado ontem, metade do valor total (US$ 1,25 bilhão) será paga no fechamento da operação. O restante, segundo a Petrobras, depende da conclusão do processo de unitização do campo — quando as reservas de petróleo extrapolam para áreas contíguas. O montante será pago em parcelas relacionadas a eventos como a celebração de um acordo de individualização da produção. Na prática, significa definir quanto de petróleo deve ser considerado como parte de cada campo.

Atualmente, o Campo de Carcará (BM-S-8) é operado pela Petrobras (66%), em parceria com Petrogal Brasil (14%), Queiroz Galvão Exploração e Produção (10%) e Barra Energia do Brasil Petróleo e Gás (10%).

A diretora de Exploração e Produção da Petrobras explicou que a preferência de compra da fatia da estatal foi oferecida aos demais sócios no bloco, mas o negócio acabou sendo fechado com a Statoil, empresa com a qual a Petrobras mantém acordos tecnológicos há mais de uma década.

— Tínhamos a ambição de materializar um acordo que pudesse ter a presença da Statoil aqui no Brasil, trazendo a empresa para uma parceria estratégica — disse ela, lembrando que a parceria pode ser ampliada, já que há uma série de ações potencias.

CAIXA REFORÇADO COM US$ 1,4 BI

Para Solange, a venda para a Statoil independe da aprovação da mudança das regras no marco regulatório do setor pelo Congresso.

— São atos distintos. Esse ativo foi obtido dentro do regime de concessões de 2000 e é um negócio tradicional e regular dentro da Bacia de Santos. Portanto, a mudança do marco regulatório não afeta a parte da concessão que estamos negociando — afirmou.

Com as vendas realizadas este ano, já entrou no caixa da empresa cerca de US$ 1,4 bilhão, sem contar a operação anunciada ontem.

Este ano, a Petrobras vendeu sua participação de 67,19% na Petrobras Argentina (Pesa) para a Pampa Energia por US$ 900 milhões. Também concluiu a venda de sua companhia de distribuição de combustíveis no Chile por US$ 490 milhões. Em fato relevante, anunciou negociações para a venda de sua participação na Companhia Petroquímica de Pernambuco (Petroquímica Suape) e na Companhia Têxtil de Pernambuco (Citepe) para a mexicana Alpek. Em dezembro de 2015, a Petrobras vendeu, por US$ 700 milhões, sua participação de 49% na Gaspetro.