Série ASérie BEuropa

- Atualizado em

Nasceu! Cirurgiã que faz partos à noite será a 1ª ginasta armênia na Olimpíada

Houry Gebeshian tem 27 anos, dupla cidadania e trabalha como assistente
em uma clínica nos Estados Unidos. Ela dorme apenas três horas por dia

Por Rio de Janeiro

As madrugadas dela são dentro de uma sala de cirurgia, trazendo vida ao mundo. Neste mês, tirou uns dias de folga, por outro motivo nobre: disputar a Rio 2016. Houry Gebeshian é a primeira ginasta da Armênia a se classificar para uma Olimpíada. Ela tem 27 anos, mora nos Estados Unidos e possui dupla cidadania. O sonho olímpico só nasceu em 2010, quando pintou a oportunidade de competir pela Armênia, país de seus avós, refugiados.

Houry Gebeshian ginástica (Foto: AP)Houry é puro carisma no Rio de Janeiro (Foto: AP)


Houry trabalha toda noite, inclusive aos fins de semana, em uma clínica em Cleveland, onde mora. A jornada é de 40 horas semanais. Dorme apenas três horas por dia e, quando acorda, veste o collant e treina. É apaixonada pelo que faz: sua função é de assistente de cirurgiã. Chegou a abandonar a ginástica depois de se formar em Medicina.

Houry Gebeshian ginástica (Foto: Reprodução)Houry na clínica (Foto: Reprodução)

- Eu ajudo a trazer vida ao mundo. É um trabalho maravilhoso. São de oito a dez bebês por plantão - conta a ginasta.

Para chegar até a Olimpíada, Houry precisou de muito mais do que nove meses de espera, como suas pacientes grávidas. Em 2010, entrou em contato com a Federação da Armênia e iniciou uma campanha para tentar se classificar aos Jogos de  Londres 2012. Na seletiva, porém, estava lesionada. A vaga escapou. Ela não desistiu. Continuou trabalhando, dormindo pouco e treinando muito. Conseguiu. 

No Rio, ela é só carisma. Quebra o silêncio do ginásio do Parque Olímpico. Grita para incentivar outras ginastas, aplaude. Sai do treino e dá um grande sorriso ao ver os repórteres. Conta com orgulho que os avós e outros familiares nasceram na Armênia. Muda a expressão e explica que, por causa de guerras, decidiram sair de lá. Viraram refugiados. Primeiro foram para o Líbano e, então seguiram para os Estados Unidos. Ainda tem parentes por lá, alguns primos de segundo grau.

Houry Gebeshian ginástica (Foto: Reuters)Houry treina no Rio (Foto: Reuters)

Talvez você esteja se perguntando por que a Armênia não tem tradição na ginástica. Pois é. O país fez parte da União Soviética até 1991. Tinha muitas atletas olímpicas. Depois da independência, porém, os investimentos diminuíram bastante. 

- É incrível estar aqui, isso é muito significativo. É algo muito grande, que vai abrir portas para as ginastas da Armênia.

A Olimpíada será filha única. Mas Houry, que é madrasta de um menino, quer que a família da ginástica aumente bastante. 

- Minha carreira na ginástica está completa. Quero voltar para casa e me reconectar com a família da Armênia. Estamos construindo uma história. Espero que, com meu sucesso, teremos reconhecimento e apoio que precisamos para fortalecer a ginástica. E espero que as meninas se inspirem.

A estreia de Houry será no domingo, dia da eliminatória do individual geral. Ela competirá no solo, na trave, nas barras e no salto sobre o cavalo.

Houry Gebeshian ginástica (Foto: Reuters)Houry fará sua primeira e última participação olímpica (Foto: Reuters)