As madrugadas dela são dentro de uma sala de cirurgia, trazendo vida ao mundo. Neste mês, tirou uns dias de folga, por outro motivo nobre: disputar a Rio 2016. Houry Gebeshian é a primeira ginasta da Armênia a se classificar para uma Olimpíada. Ela tem 27 anos, mora nos Estados Unidos e possui dupla cidadania. O sonho olímpico só nasceu em 2010, quando pintou a oportunidade de competir pela Armênia, país de seus avós, refugiados.
Houry trabalha toda noite, inclusive aos fins de semana, em uma clínica em Cleveland, onde mora. A jornada é de 40 horas semanais. Dorme apenas três horas por dia e, quando acorda, veste o collant e treina. É apaixonada pelo que faz: sua função é de assistente de cirurgiã. Chegou a abandonar a ginástica depois de se formar em Medicina.
- Eu ajudo a trazer vida ao mundo. É um trabalho maravilhoso. São de oito a dez bebês por plantão - conta a ginasta.
Para chegar até a Olimpíada, Houry precisou de muito mais do que nove meses de espera, como suas pacientes grávidas. Em 2010, entrou em contato com a Federação da Armênia e iniciou uma campanha para tentar se classificar aos Jogos de Londres 2012. Na seletiva, porém, estava lesionada. A vaga escapou. Ela não desistiu. Continuou trabalhando, dormindo pouco e treinando muito. Conseguiu.
No Rio, ela é só carisma. Quebra o silêncio do ginásio do Parque Olímpico. Grita para incentivar outras ginastas, aplaude. Sai do treino e dá um grande sorriso ao ver os repórteres. Conta com
orgulho que os avós e outros familiares nasceram na Armênia. Muda a
expressão e explica que, por causa de guerras, decidiram sair de lá.
Viraram refugiados. Primeiro foram para o Líbano e, então seguiram para
os Estados Unidos. Ainda tem parentes por lá, alguns primos de segundo
grau.
Talvez você esteja se perguntando por que a Armênia não tem tradição na ginástica. Pois é. O país fez parte da União Soviética até 1991. Tinha muitas atletas olímpicas. Depois da independência, porém, os investimentos diminuíram bastante.
- É incrível estar aqui, isso é muito significativo. É algo muito grande, que vai abrir portas para as ginastas da Armênia.
A Olimpíada será filha única. Mas Houry, que é madrasta de um menino, quer que a família da ginástica aumente bastante.
- Minha carreira na ginástica está completa. Quero voltar para casa e me reconectar com a família da Armênia. Estamos construindo uma história. Espero que, com meu sucesso, teremos
reconhecimento e apoio que precisamos para fortalecer a ginástica. E
espero que as meninas se inspirem.
A estreia de Houry será no domingo, dia da eliminatória do individual geral. Ela competirá no solo, na trave, nas barras e no salto sobre o cavalo.