Rio

Novo sistema de bondes só começará a operar em 2014

Trajeto será estendido até o Silvestre para fazer conexão com o trem do Corcovado

Oficina de Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística, onde os bondes de Santa Teresa são consertados. Foto de 29/08/2011
Foto: Márcia Foletto / O Globo
Oficina de Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística, onde os bondes de Santa Teresa são consertados. Foto de 29/08/2011 Foto: Márcia Foletto / O Globo

RIO - Santa Teresa ainda terá que esperar por mais dois anos para ter de volta os bondinhos. O estado divulgou, na manhã desta sexta-feira, detalhes do projeto de reestruturação do sistema e anunciou que segunda-feira será publicado o edital de licitação para a construção de 14 novos bondes, que só começarão a operar no primeiro trimestre de 2014. Até lá, a promessa é de muitas reformas. Uma das novidades será a ampliação da rede. O traçado original dos trilhos será reativado e oferecerá a possibilidade de integração com o trem do Corcovado. O pequeno trecho da Rua Francisco Moratori, que liga o bairro à Lapa, também será reativado. Com isso, a linha que hoje tem 7,2 Km passará a ter 10,5 Km.

De acordo com o projeto, orçado em R$ 110 milhões e apresentado pelo Secretário estadual da Casa Civil Regis Fichtner, e pelo presidente da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central), Eduardo Macedo, os novos bondes serão mais seguros e não permitirão viagens no estribo.

Os estudos foram elaborados pela Central, com a consultoria de técnicos da Carris, empresa pública portuguesa, contratada pelo governo logo após o acidente com um dos bondes, em 27 de agosto de 2011, deixando seis mortos e 54 feridos. Para dar mais segurança aos passageiros, os novos bondes só terão estribos nas extremidades para embarque e desembarque de passageiros. E, mesmo assim, serão retráteis, um sistema que recolhe a estrutura após o uso. As novas composições também só terão balaústre nas pontas para evitar que pessoas viagem penduradas, cena comum do sistema antigo. As composições terão, ainda, um sistema de freio de emergência e câmeras de monitoramento. Outra novidade será a instalação de proteções de policarbonato nas laterais, em toda a extensão do bonde, para evitar quedas.

Os 14 novos bondes substituirão os seis que operavam antes do acidente e terão capacidade para 24 pessoas, enquanto os antigos carregavam até 80 passageiros, de acordo com o presidente da Central. A redução da capacidade será compensada, segundo Regis Fichtner, pelo intervalo menor entre as composições. A cobrança passará a ser feita por um sistema eletrônico e a possibilidade de haver preços diferenciado para moradores e turistas ainda não é certa:

— Isso será definido pelo governador — informou.

O projeto prevê também a troca de todos os trilhos. Eles serão substituídos por trilhos bilabiados, mais específicos para bondes, que reduzem a trepidação e o ruído. Também será feita a reforma de rede aérea e a substituição de 28,6 Km de cabos e fios de energia. Os 39 postes do sistema serão reformados, e outros 39 serão instalados. A estação Central receberá equipamentos novos e o museu também será reformado.

Além disso, o projeto prevê a reforma de estações, como a ampliação da Estação Nelson Correia da Silva, a antiga Estação Carioca, onde será criado o Centro de Controle Operacional do sistema, e a reforma da Parada Silvestre, onde terá a conexão com o Trem do Corcovado. Já e estação do Curvelo, segundo Fichtner, será reformada pela Prefeitura, que instalará no local postos da Guarda Municipal e de informações turísticas.

— Vamos entregar à população um transporte remodelado, muito mais seguro e de alta qualidade — afirmou o secretário.

A presidente da Associação de Moradores de Santa Teresa, Elzbieta Mitkiewicz, disse que a população do bairro está na expectativa dos novos bondes, mas lamentam a demora:

— Estamos sentindo muita falta deles, nosso principal meio de transporte há 115 anos. Além do preço mais barato da passagem, o tempo de viagem é menor do que os ônibus. E, quando há manutenção, é mais seguro que os coletivos, que trafegam em alta velocidade. Os comerciantes estão reclamando muito porque a falta dos bondes esvaziou o bairro de visitantes.

Ela lamentou a falta de comunicação entre o poder público e os moradores do bairro.

— A sociedade precisa ser ouvida. Que bonde é esse? De onde vem? Por isso é importante a participação do Ministério Público nesse processo. Chega de erros. A omissão já matou.

O sistema deixou de operar após o grave acidente com o bondinho de Santa Teresa , que aconteceu em 27 de agosto do ano passado e deixou seis pessoas mortas e 54 feridas. Embora seja o mais grave, esse não foi o primeiro acidente com o transporte em Santa Teresa. Em junho de 2011, o turista francês Charles Damien Pierson morreu após despencar de um bonde que passava sobre os Arcos da Lapa. Ele viajava no estribo quando escorregou e caiu de uma altura de aproximadamente 15 metros.

Em 2009, a professora Andreia de Jesus Resende, de 29 anos, morreu e outras dez pessoas ficaram feridas após um bonde perder o freio numa ladeira de Santa Teresa e ser atingido por um táxi. Ao deixar o veículo em pânico, a professora foi atropelada por um ônibus.