12/04/2013 13h05 - Atualizado em 12/04/2013 19h49

'Carimbó chamegado' de Dona Onete atrai público para show em Belém

Apresentação será na Black Soul Samba desta sexta-feira, 12, às 21h.
Aos 73 anos, cantora lançou seu primeiro disco, "Feitiço Caboclo".

Gil SóterDo G1 PA

Dona Onete (Foto: Divulgação)Dona Onete se apresenta nesta sexta-feira (12), na Black Soul Samba (Foto: Divulgação)

De flor vermelha nos cabelos, saia rodada e riso largo, Dona Onete vive o auge da carreira no alto de seus 73 anos. Autora de mais de 200 composições, ela canta temas de amor com capricho na performance. O seu “carimbó chamegado” tem conquistado público pelo país, e recentemente atravessou o oceano: a paraense foi selecionada para participar dos festejos do ano do Brasil em Portugal. “Eles são reservados. Mas quando comecei a cantar meu carimbó, todo mundo dançou a jamburana”, garante a artista, que promete não deixar ninguém parado na Black Soul Samba desta sexta-feira (12).

No show, Dona Onete apresenta a tradição do ritmo mais marcante do Pará. “Vamos tocar o carimbó de raiz vindo do Baixo Tocantins, no pau e corda. O carimbó é a nossa raiz musical. Vou cantar as nossas coisas de caboclo”, antecipa a cantora, que vai se apresentar, pela primeira vez, ao lado da família. “Meu filho e minha neta irão tocar comigo”, conta Onete, que traz ainda na banda Márcio Monteiro, Luiz Bola, Argentino Neto e Douglas Dias.

A sonoridade cabocla que a cantora levará aos palcos remete à juventude de Dona Onete. Mesmo antes de colocar no papel as primeiras canções, Ionete da Silveira Gama já se anunciava uma artista. Aos 15 anos, cantava nas serestas ribeirinhas de bares do Marajó, região onde nasceu. “Recebia cerveja como pagamento, mas eu nem bebia. Cantava mesmo porque me alegrava”, relembra.

Dona Onete  (Foto: Divulgação)O balanço brejeiro de Onete chamou a atenção e 
ela foi convidada para participar dos festejos do
ano do Brasil em Portugal (Foto: Divulgação)

Quando adolescente, mudou-se para Igarapé Miri. Lá, foi professora de estudos amazônicos e de história. “Nessa época, eu pesquisei muito sobre cultura negra e indígena. Descobri ritmos, danças, e costumes dos nossos povos”, diz Onete, que começou a compor aos 30 anos. Começava, então, sua empreitada pelos batuques afro e temas mestiços. Sua musicalidade a fez incursionar por alguns festivais de cultura regional, mas nada que a fizesse assumir uma carreira artística.

A história ganhou novo rumo em um momento inesperado. Já aposentada, Dona Onete se mudou para Belém. Foi morar no bairro da Pedreira, vizinha de diversos núcleos de cultura. “Só na minha rua tem três grupos de carimbó”, diz. O balanço brejeiro de Dona Onete não poderia passar despercebido pela antena de um grupo de rapazes que bem ali, ao lado da cantora, misturava rap, música eletrônica e acordes de carimbó e brega. Já parceiros do velho rockeiro Mestre Laurentino, a banda convidou a professora aposentada para se integrar ao grupo. “Eu já estava sossegada, e na hora, não quis. Mas meu marido disse: ‘Eles já tem o Laurentino, por que tu não vais também?’. Ai eu resolvi embarcar”, conta.

A então Ionete recebeu da banda seu primeiro – e certeiro – nome artístico: Dona Onete. “Os meninos do Coletivo me puseram esse nome e eu gostei”. Ao invés de pendurar as chuteiras, a senhorinha ganhou os palcos Brasil a fora. “Às vezes, quando a gente acha que já deu tudo o que tinha que dar, descobre que tem muito mais pela frente”, diz Dona Onete sobre o tardio e surpreendente voo em sua carreira.

Em 2009, fez a primeira gravação de suas canções, com a ajuda do guitarrista Leo Chermont. Foram 50 cópias piratas, distribuídas no Fórum Social Mundial. “Já recebi notícias que o disco chegou até na Inglaterra”, diz Onete.

Dona Onete (Foto: Divulgação)Em 2012, Dona Onete lançou seu primeiro disco, "Feitiço Caboclo" (Foto: Divulgação)

Entre suas mais recentes aventuras, uma delas a enche de satisfação. Uma de suas composições, “Chamego de Boto”, foi escolhida como trilha pelos cineastas Beto Brant e Renato Ciasca para ser trilha sonora do filme “Eu Receberia As Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”, filmado em Santarém e lançado ano passado. Foram mais de 120 discos avaliados, até que Dona Onete arrebatou a cena, literalmente. A cantora fez participação especial, ao lado da protagonista do filme, Camila Pitanga. “Ensinei ela a dançar carimbó”, revela a cantora, que acaba de ver gravados duas se suas canções por novos e prestigiados nomes da música paraense, como Aíla Magalhães e Gaby Amarantos.

Em 2012, Onete lançou “Feitiço Caboclo”, o primeiro disco oficial da carreira e conquistou elogios da crítica especializada. Dona Onete garante que o segredo do sucesso do álbum foi a jamburana. “Tem o jambu, que dá o ardor na boca, e tem a jamburana, que é a planta feminina. Ela esquenta, faz o fogo subir”, diz a cantora e compositora, que acaba de voltar de terras lusitanas, onde se apresentou como convidada na programação do ano do Brasil em Portugal. “Cantei com a camisa do Pará, e levei uma do Remo e outra do Paysandu comigo”, conta Onete, que lembra com alegria o sucesso que a jamburana fez em terras estrangeiras. “Todo mundo dançou. Nossa música é maravilhosa, é capaz de romper qualquer fronteira”.

Serviço:
Nesta sexta-feira (12), show Dona Onete e o “Carimbó Chamegado” na Black Soul Samba, a partir de 21h, no Bar Palafita, localizado na rua Siqueira Mendes, ao lado da Casa das Onze Janelas. Participação especial do DJ Azul. Ingressos à venda no local.

tópicos:
veja também