28/07/2016 11h16 - Atualizado em 28/07/2016 11h26

Luta de 'Paulinho' contra a leucemia deixa legado em Juiz de Fora

'#JuntosPeloPaulinho' aumentou número de doadores de medula óssea.
Garoto será velado na capela quatro do Cemitério Parque da Saudade.

Marina ProtonDo G1 Zona da Mata

Arthur e Paulinho irmãos Juiz de Fora (Foto: Vivian Lemos/Arquivo Pessoal)Paulinho (à direita), com o irmão Arthur, que foi o doador da medula (Foto: Vivian Lemos/Arquivo Pessoal)

A morte de Paulo Sérgio, o Paulinho, causou comoção nas redes sociais, entre funcionários da Fundação Hemominas e deixou um legado em Juiz de Fora: o "Efeito Paulinho" fez com que o número de cadastro para doação de medula óssea aumentasse na cidade. O garoto, de seis anos, enfrentou uma leucemia desde abril de 2013 e morreu nesta quarta-feira (27), em São Paulo, onde estava internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Samaritano, desde o dia 22 de junho. De acordo com o hospital, a causa da morte foi uma infecção generalizada grave.

Paulinho será velado na capela quatro do Cemitério Parque da Saudade, a partir das 12h. O enterro inicialmente está marcado para às 16h.

O garoto ficou conhecido por ser símbolo de uma campanha em uma rede social, #JuntosPeloPaulinho, uma página movimentada pelos pais, Paula Chagas e Octávio Fernandes, que atualizava o estado de saúde da criança e pedia a mobilização das pessoas para doação de medula óssea. Com a campanha, o número de doadores no Hemocentro do município teve um aumento considerável, de acordo com Rosani Martins, da equipe de Captação de Doadores da unidade na cidade.

Paulinho e o pai Octávio após alta Juiz de Fora (Foto: Paula Chagas/Arquivo pessoal)Menino enfrentou leucemia desde 2013
(Foto: Paula Chagas/Arquivo pessoal)

“Foi uma das campanhas mais marcantes que a gente teve. Antes de tudo, nós expressamos nossa frustação, porque cada paciente que a gente perde a gente sente, dói. O Paulinho era muito jovem e lutou muito, mas chegou o momento dele. Por mais que doa, a gente sente que chegou esse momento”, disse.

Rosani acredita que com a campanha encabeçada por Paulinho e com a ajuda de outros projetos, mais de duas mil pessoas foram ao Hemocentro e se cadastraram para serem doadores de medula óssea.

“Ele deixou o legado dele, muitas pessoas fizeram o cadastro para doação de medula óssea sensibilizadas por ele. Além disso, as pessoas passaram a entender a importância de atualizar os dados. Posso dizer que mais de duas mil pessoas fizeram os cadastros ligados pela mobilização. O legado dele foi aumentar o cadastro e essa luta ajudou outros pacientes. Ele tentou, lutou, mas infelizmente não conseguiu. Mas a vontade de viver sensibilizou outras pessoas a doarem”, concluiu.

"Estamos destruídos"
Através de uma mensagem publicada no perfil do Diretório Acadêmico da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde a mãe de Paulinho é professora, alunos prestaram solidariedade e informaram a morte do menino. Ainda na mensagem, Paula Chagas lamenta a morte do filho.

"Às 17:01 Paulinho subiu aos céus e está com o Pai. Já está liberado para namorar a lua como ele sempre gostava. Foi uma honra ter esse cara espetacular como filho, um exemplo de perseverança e luta", comentou.

Charge Paulinho (Foto: André Ribeiro/Arquivo Pessoal)Charge foi criada por amigo da família
(Foto: André Ribeiro/Arquivo Pessoal)

Diversas pessoas prestam apoio e lamento através de mensagens em redes sociais. Uma delas foi o cartunista André Ribeiro da Silva, amigo da família de Paulinho. Segundo ele, a mobilização criada pelo garoto fez com que ele fizesse o cadastro para também ser um doador de medula óssea.

"Hoje meu traço se fez triste. Mas sabe que o criador do universo te acolheu. Isso guardarei de você: desistir jamais. Acompanhei desde o início o caso dele e também entrei na doação de medula. Ele foi meu empurrão para que eu fosse doador", contou o cartunista, que fez uma charge remetendo Paulinho a um anjo (veja ao lado).

Além de André, outras pessoas manifestaram pesar no grupo #JuntosPeloPaulinho, com mensagens de conforto à familiares e amigos do garoto.

Luta
Desde a internação na UTI, os pais se revezavam na divulgação de boletins sobre o estado de saúde no grupo #JuntospeloPaulinho, e os integrantes do grupo enviavam mensagens de força, fé e orações. Em publicação no dia 11 de julho, o pai, Octávio Fernandes, lembrou que a luta continuava oito oito meses depois do transplante de medula óssea. "Mas ainda lutamos pela vida do nosso filho! A sensação que temos é que estamos vivendo em uma montanha russa onde as quedas parecem ir abaixo d'água, o que nos tira a respiração por algum tempo. Nesse momento, estamos tentando subir um pouquinho do último mergulho, buscando fôlego para continuar mergulhando", afirmou no texto.

No dia 22 de julho, a família fez uma publicação pedindo por doações de plaquetas para o menino e, no último domingo (24), uma mensagem dos pais indicou o agravamento do caso. "Precisamos de um milagre. Cremos que possa ocorrer. Orem por favor. Que Deus nos abençoe e faça o melhor para ele. Obrigado por tudo", diz o texto.

#JuntospeloPaulinho
A história de Paulinho se tornou pública quando, aos três anos, foi diagnosticado com leucemia, em abril de 2013. Os pais, Paula e Octavio, venceram a timidez e se vestiram de super-heróis para animá-lo no tratamento. Em dezembro do mesmo ano, o exame mostrou que o garoto estava sem sinais de células doentes, e que a doença estava em remissão.

No entanto, em maio de 2015, Paulinho foi diagnosticado novamente com leucemia, a família Chagas em Juiz de Fora iniciou a mobilização #JuntospeloPaulinho nas redes sociais. O Hemocentro de Juiz de Fora recebeu 1.086 cadastros de candidatos a doadores em apenas 18 dias.

Um mês depois, a família descobriu que o irmão caçula, Arthur, era 100% compatível e seria o doador da medula.

Paulinho e Arthur em São Paulo (Foto: Paula Chagas/Arquivo Pessoal)Paulinho e Arthur em São Paulo em 2015
(Foto: Paula Chagas/Arquivo Pessoal)

Em julho de 2015, Paulinho se mudou com a família para São Paulo e começou o tratamento para a realização do transplante.

A cirurgia foi realizada em 11 de novembro e a família comemorou 16 dias depois que o organismo do menino havia aceitado a medula doada pelo irmão.

“Essa notícia foi comemorada, fizeram bolo no hospital e estamos imensamente felizes. Ele ficou muito feliz e queria logo passar essa fase para voltar para Juiz de Fora. Agora ele tem três aniversários: nascimento, dia do transplante e a pega da medula”, disse Paula Chagas, em entrevista na época ao G1.

Em dezembro de 2015, os pais relataram a gratidão e a esperança nesta jornada e deixaram a mensagem de paciência para outras famílias na mesma situação. "Quando você está com uma doença deste tipo, não pode sair pensando e planejando como será o fim, com cura ou não. Tem que viver um dia de cada vez. Procurar a vitória do dia, da semana, do mês. Com estas metas mais próximas e palpáveis, surge a calma que ajuda a encontrar a chance para a cura", afirmou Octávio Fernandes.

Família de Paulinho após transplante, em hospital de São Paulo (Foto: Paula Chagas/Arquivo Pessoal)Pais e irmão doador Arthur acompanharam Paulinho em SP (Foto: Paula Chagas/Arquivo Pessoal)

 

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