28/07/2016 11h07 - Atualizado em 28/07/2016 12h56

Lendas do Brasil guiam filme de terror nacional com 'clichês' americanos

Longa gira em torno de adolescentes e eventos estranhos em casa isolada.
Enredo tem histórias do Negrinho do Pastoreio e do bebê-diabo do ABC.

Carol PradoDo G1, em São Paulo

Um grupo de adolescentes um tanto despreparados e uma casa isolada, cujo porão é palco para acontecimentos estranhos. A receita mais trivial do terror jovem americano é temperada com referências do folclore e de lendas urbanas brasileiras em “O diabo mora aqui”. O filme brasileiro estreia nesta quinta-feira (28), com sustos em português (assista ao trailer acima).

“Sempre me incomodou o fato de não olharmos para o que é nosso. ‘Harry Potter’ e ‘O Senhor dos Anéis’ têm muito da mitologia do Reino Unido, assim como as histórias de heróis nos EUA. No Brasil, há a tendência de ver o folclore como menor”, explica Marcel Izidoro, produtor do longa.

Ele é o criador do projeto Urbania, que pretende popularizar crendices brasileiras com linguagem próxima dos mais novos. O filme, afirma, é o primeiro dos produtos que pretende lançar, com a mesma ideia, em uma espécie de “universo compartilhado”.

No terror, as superstições brasileiras já foram exploradas por Zé do Caixão nos anos 1960 e 70 e em trabalhos mais recentes, como “As fábulas negras” (2015), de Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, Joel Caetano e também com a colaboração de José Mojica.

“Em ‘O diabo’, temos uma premissa super tradicional e, ao mesmo tempo, o 'background' da história brasileira, de escravidão, religiões africanas... O filme fala dessas coisas para a molecada”, diz Izidoro.

Negrinho do Pastoreio e bebê-diabo
Na trama do filme, os protagonistas são afugentados pelo fantasma de um barão conhecido por cometer as maiores atrocidades contra seus escravos, algumas delas envolvendo mel e formigas. É clara a alusão à lenda do Negrinho do Pastoreio  

A história surgida no fim do século XIX é sobre um cruel fazendeiro que, irritado porque um escravo perdera um de seus cavalos, o amarrou nu sobre um formigueiro.

Outro conto que guia o roteiro é o do misterioso bebê-diabo do ABC, uma espécie de lenda urbana que se disseminou pelo país nos anos 1970. Acreditava-se que, em São Bernardo do Campo (SP), uma criatura sobrenatural com o corpo coberto de pelos, chifres e rabo havia nascido em um parto cercado de terror e pânico. Por meses, a história do bebê aterrorizou o ABC paulista, e ao garoto foram atribuidos diversos incidentes. 

"Em nenhum momento, nós apontamos que estamos falando dessas lendas no filme. Mas, quem conhece a história, vai conseguir identificar", avisa o produtor. 

Cena do filme 'O Diabo Mora Aqui' (Foto: Divulgação)Cena do filme 'O Diabo Mora Aqui' (Foto: Divulgação)

Baixo orçamento
Expoente de um gênero caro, “O diabo” foi feito com R$ 200 mil. Para comparar, o primeiro "Invocação do Mal", um sucesso americano do horror de 2013, custou cerca de US$ 20 milhões (mais de R$ 65 milhões). 

Para economizar, o longa independente precisou se adaptar: "Escrevemos o roteiro baseado na locação e na grana que tínhamos. Criamos uma história que coubesse na produção."

O filme chega na esteira de um momento de expansão do cinema de suspense e horror no Brasil, com lançamentos recentes como "O caseiro" (2016), "Condado macabro" (2015) e "Isolados" (2014). A resistência do público em relação a produções brasileiras do tipo tem diminuído, avalia o produtor. 

"Você tem que comprar uma briga que fica no limiar entre o sangue e o existencial. Conseguimos fazer um filme que não conseguiríamos há 10, 15 anos. As pessoas estão começando a se acostumar. É uma questão de tempo."

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Cena de 'O Diabo Mora Aqui' (Foto: Divulgação)Cena de 'O Diabo Mora Aqui' (Foto: Divulgação)
Os atores Diego Goullart, Clara Verdier e Mariana Cortines em cena do filme (Foto: Divulgação)Os atores Diego Goullart, Clara Verdier e Mariana Cortines em cena do filme (Foto: Divulgação)
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