28/07/2016 08h26 - Atualizado em 28/07/2016 10h03

Professora só enxerga 2% e dá aula de superação em escola do ES

Sara cuida de 20 crianças, de 8 e 9 anos, em uma escola municipal.
Ela é educadora do colégio desde o início do ano.

Carla SáDe A Gazeta

Professora com 2% de visão dá lição de vida em sala de aula (Foto: Marcos Fernandez/ Prefeitura de Vila Velha)Professora com 2% de visão dá lição de vida (Foto: Marcos Fernandez/ Prefeitura de Vila Velha)

"Escolhi a Pedagogia porque percebi que poderia ensinar o respeito às pessoas e [ensinar] que problemas físicos não influenciam quem a gente pode ser”. É o que diz a professora Sara Mendonça Ramos, de 23 anos, que tem somente 2% da visão e cuida de 20 crianças em uma sala de aula, em Vila Velha, no Espírito Santo.

Sara formou-se em 2015 e desde o início de 2016 é educadora da rede municipal da cidade. Ela trabalha na Unidade Municipal de Ensino Fundamental (Umef) Alger Ribeiro Bossois, em Cidade da Barra.

Ela pensou em cursar Psicologia, mas optou pela Pedagogia apesar de ter uma preocupação. “Achei que a deficiência poderia interferir no meu trabalho. Mas na primeira aula da faculdade aprendi que para ser professor não precisava de olhos físicos, mas de enxergar além, atuar com alma e a essência do ser humano”, lembra.

E com esse pensamento ela tem conquistado os alunos de 8 e 9 anos na turma do 3º ano do ensino fundamental que comanda. No início, eles ficaram curiosos pela condição de Sara, porém depois tornaram-se seus grandes parceiros.

“Eles perguntavam como eu conseguia comer, tomar banho, me vestir... fui explicando e eles perceberam que era parecido com o que eles faziam normalmente”, diz ela.

Agora, os alunos ajudam a professora a escrever a matéria no quadro, a corrigir os cadernos e a fazer leituras, além de terem todo o cuidado para que nada na sala ou nos corredores atrapalhe a locomoção dela. “Não são só dois olhos com 2% de visão. São 40 olhos ajudando”, ressalta, orgulhosa de seus meninos.

Empatia
A relação de empatia criada na sala de aula é mérito principalmente de Sara, que mostrou a todos que sua limitação física não a impediria de ser uma ótima profissional.

“Em 25 anos de trabalho na prefeitura, nunca trabalhei com um professor portador de necessidades especiais. E a Sara me surpreendeu, ela tem uma luz linda, um encanto, e tem um domínio sobre a turma impressionante”, diz a diretora da escola, Maria de Fátima dos Santos de Almeida.

A diretora confessa que em um primeiro momento ficou preocupada, mas que integrou Sara à equipe e buscou a Secretaria Municipal de Educação, que garantiu que daria todo o suporte necessário para que a professora realizasse seu trabalho. Assim foi disponibilizada uma estagiária.

“Ela me ajuda a preencher pautas, e faz coisas que eu não consigo, como ler um livro ou um material didático, que tenha a letra muito pequena, para a turma”, explica a professora.

Planos
Sara já tem uma especialização em Pedagogia Empresarial, mas quer continuar estudando para tornar-se uma profissional cada vez mais preparada.

“Penso em outros cursos, ingressar em um mestrado, estudar sobre a perspectiva da inclusão na escola e trabalhar com projetos nessa ordem", disse.

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