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Criada na guerra, heroína põe Kosovo no mapa olímpico: "Uma sobrevivente"

Campeã olímpica no Rio, judoca Majlinda Kelmendi entra para história do esporte
com primeiro pódio do país que debuta nos Jogos e não é reconhecido pelo Brasil

Por Rio de Janeiro

 


O esporte transcende fronteiras, faz povos se orgulharem da sua bandeira e cria personagens que se transformam em heróis olímpicos mesmo tendo sido forjados nos cenários mais cruéis. Nascida em 1991 e criada durante a Guerra do Kosovo, a judoca Majlinda Kelmendi conquistou neste domingo o ouro olímpico na categoria até 52kg, na Arena Carioca 2, e entrou para as histórias do esporte e da política. Por ter declarado a sua independência, em 2008, à revelia da Sérvia, a ex-província não é reconhecida pela Organizações das Nações Unidas (ONU) e, por consequência, pelo Brasil. Mas Kosovo debuta em Olimpíada na Rio 2016, pois teve a sua filiação aceita pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), em 2014. Sob esse contexto, o feito de Kelmendi é celebrado como uma enorme conquista dos kosovares, que vivem muitos problemas sociais por conta da não aceitação da ONU.

- Esse ouro significa muito para Kosovo. Não apenas para o esporte, mas também para o país. Sou uma sobrevivente de guerra, assim como meu povo. Várias crianças do Kosovo perderam seus pais. Muitas crianças não têm livros para ir para uma escola. E eu virei campeã olímpica vindo desse país. Mesmo sem dinheiro, mesmo sem estrutura você pode acreditar em si mesmo e trabalhar muito duro para atingir seus sonhos - comentou Majlinda, que representou a Albânia nos Jogos de Londres 2012, mas não passou da segunda rodada.

KELMENDI Majlinda, medalha de ouro, categoria até 52kg, judô (Foto: Reuters)A kosovar Majlinda Kelmendi chora após colocar no peito a medalha de ouro no Rio de Janeiro (Foto: Reuters)

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Bicampeã mundial (2013 e 2014), a peso-leve de 25 anos era uma das favoritas da categoria meio-leve. Rodada após rodada, ela viu as suas principais rivais ficando fora de briga pelo ouro, uma delas foi a brasileira Érika Miranda, que acabou em quinto lugar após perder a decisão de bronze para a japonesa tricampeã do mundo Masato Nakamura. A luta consagradora de Kelmendi foi contra a jovem italiana Odette Giuffrida. Agora campeã olímpica, Majlinda é mais do que nunca uma heroína de Kosovo.

 Esse ouro significa muito para Kosovo. Não apenas para o esporte, mas também para o país. Sou uma sobrevivente de guerra, assim como meu povo
Majlinda Kelmendi

- Estou tão feliz pelo meu país, pelo meu técnico. Estou tão feliz que nem consigo acreditar. Eu sempre busquei e quis isso e hoje é um sonho se tornando realidade. As pessoas já me veem como heroína e tudo o que eu quero é mostrar para elas que se elas querem algo, elas podem conseguir. As crianças me tratam como heroína, são crianças que tiveram que sobreviver aos horrores da guerra. Claro que estou aqui pela medalha de ouro, mas é loucura.

Dizendo praticar esporte apenas por amor, Majlinda sabe que vai ficar mais famosa no mundo inteiro. Mas tudo que ela realmente quer é fazer o povo de Kosovo ter orgulho da sua gente.

- Eu não sei se vou ficar mais popular e nem quero isso, mas o povo vai me respeitar muito mais, porque esse é o primeiro ouro do Kosovo, da Albânia ou de quem fala albanês. Eu não quero ficar rica ou famosa, eu luto, porque amo e quero dar orgulho para o meu país.

Majlinda Kelmendi, primeira medalha de Kosovo - Rio 2016 (Foto: Reuters)Majlinda Kelmendi vibra com conquista da medalha de ouro (Foto: Reuters)

Subir ao alto do pódio no Brasil virou uma bonita tradição para Kelmendi. Foi também no Rio de Janeiro que a judoca conquistou o seu primeiro título mundial, em 2013. Ela só poderia se sentir em casa no país que recebe a primeira Olimpíada da história da América do Sul.

- O Brasil é como um lar para mim, pois aqui conquistei o Mundial em 2013. Aqui eu me sinto muito bem, gosto muito. Obrigado para todo mundo (em português). Vivi os melhores sentimentos da minha vida no Rio.

Com uma delegação de oito atletas na Rio 2016, Kosovo ainda espera conseguir mais uma medalha. E ela pode vir novamente do judô. Nesta segunda-feira, a peso-leve (até 57kg) Nora Gjakova vai defender a bandeira azul e amarela.

Além de Érika, o Brasil teve outro representante neste segundo dia de competição do judô. Foi o meio-leve (66kg) Charles Chibana, que acabou sendo eliminado na estreia pelo japonês tricampeão mundial Masashi Ebinuma. Nesta segunda-feira, a partir das 10h (de Brasília), o Brasil contará com a participação de dois judocas, na disputa do peso-leve (até 57kg para as mulheres e até 73kg para os homens). Quem tem mais chance de pódio é a carioca Rafaela Silva, campeã mundial em 2013, no Rio de Janeiro. Alex Pombo não está entre os favoritos e corre por fora.