Rio

Casos de roubos de rua entre janeiro e julho são os maiores desde 2001

Dados do ISP indicam crescimento de 66,9% e de 20,3% nos assassinatos
Pela janela, jovem rouba celular de passageira de ônibus: número de casos aumentou quase 60% no Rio Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo (21/07/2015)
Pela janela, jovem rouba celular de passageira de ônibus: número de casos aumentou quase 60% no Rio Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo (21/07/2015)

RIO - A presença das Forças Armadas nas ruas — mobilizados para ajudar na segurança da Olimpíada, militares começaram a patrulhar o Rio no dia 9 de julho — não impediu um forte aumento da violência no estado durante o mês passado. De acordo com estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgadas nesta segunda-feira, houve, em comparação com o mesmo mês em 2015, um salto de 66,9% na estatística de roubos de rua, que abrange assaltos a pedestres e dentro de ônibus, além de registros de celulares levados por bandidos. A quantidade de casos passou de 6.410 para 10.701. Já o número de homicídios dolosos (que foram praticados intencionalmente) subiu de 306 para 368, o que corresponde a um acréscimo de 20,3%. Considerando apenas as ocorrências da capital, a estatística de homicídios dolosos aumentou 7%, de 711 para 761 casos. A de roubos de rua subiu 20,2%, passando de 29.194 para 35.094 registros.

Entre janeiro e julho deste ano, o estado contabilizou o maior número de casos de roubos de rua desde 2001, quando teve início a série histórica. Foram, ao todo, 69.700 casos, 38,3% a mais que o total registrado no mesmo período de 2015. Para piorar, os índices de produtividade policial caíram no mês passado.

UM ASSALTO A CADA DOIS MINUTOS

Os dados do ISP se tornam ainda mais preocupantes numa análise da quantidade de todos os tipos de roubos praticados no estado. O número, em julho, chegou a 16.843 casos, 48,1% a mais que os 11.369 do mesmo mês do ano passado. Isso significa que, em média, houve um assalto a cada dois minutos e 39 segundos

Os municípios que tiveram maior quantidade de roubos de rua foram Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis, São Gonçalo e Duque de Caxias. Dentro da estatística desse tipo de crime impressiona o aumento na quantidade de registros de celulares levados por bandidos em todo o estado. Na comparação com julho do ano passado, houve um salto de 75,8%, de 964 para 1.695 casos. Também incluídos na estatística de roubo de rua, os assaltos dentro de ônibus apresentaram um salto ainda maior: 90,7%, de 602 para 1.148 casos.

QUEDA DA PRODUÇÃO POLICIAL

O estado registrou um aumento de 23,3% (de 378 para 466 registros) de letalidade violenta — soma de casos de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e homicídio decorrente de oposição à intervenção policial. O índice de roubos de veículos saltou de 2.425 para 3.105 (28%).

A escalada da criminalidade aconteceu no mesmo mês em que a produtividade policial caiu, de acordo com os indicadores do ISP. Em julho, houve uma redução de 32% nas apreensões de adolescentes infratores: foram 271 casos a menos na comparação com o mesmo mês de 2015 (queda de 846 a 639). Os cumprimentos de mandados de prisão diminuíram 13,9%, caindo de 1.802 para 1.551.

As apreensões de drogas e armas também tiveram queda, de 12,7% e 4,2%, respectivamente. Por outro lado, o número de carros roubados que foram recuperados cresceu de 1.905 para 2.399, ou 25,9%.

Para a socióloga Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, os índices da violência são alarmantes:

— Esses sistemas de cobertor curto no policiamento, que repetem políticas que não deram certo, estão nos levando ao fundo do poço. O levantamento é preocupante, os índices criminais expressam a necessidade de uma mudança nas estratégias no setor. Podemos dizer que temos uma crise na segurança.

BELTRAME NÃO COMENTA NÚMEROS

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, não comentou nesta segunda-feira o levantamento do ISP. Em maio, durante uma entrevista sobre o planejamento da segurança para a Olimpíada, ele havia manifestado preocupação com a violência antes e depois do evento.

Na ocasião, Beltrame falou sobre a dificuldade de montar um esquema eficiente de segurança em meio à crise financeira do estado, e, entre os problemas de sua pasta, citou os atrasos nos pagamentos dos salários e do Regime Adicional de Serviço (RAS) dos policiais.

Há quase dez anos no governo estadual, Beltrame pretende apresentar um plano de reestruturação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Para dar início à execução, Beltrame espera doações da iniciativa privada e da Assembleia Legislativa do Estado do Rio: o presidente da Casa, deputado Jorge Picciani, é considerado seu principal aliado político.

Em uma reportagem publicada no GLOBO em 11 de junho, o secretário chegou a dizer: “A Olimpíada vai passar e eu vou ficar. Ainda tenho projetos para tocar. Quando eu cumprir isso, aí posso pensar em sair.”