Política Impeachment

Janaína chora e pede desculpas a Dilma, mas diz que não podia se omitir

Advogada afirmou que ‘sofreu’ muito por apresentar denúncia contra uma mulher

BRASÍLIA — A advogada de acusação Janaína Paschoal rebateu nesta terça-feira, durante a sessão de julgamento final do impeachment, as acusações de que a denúncia do impeachment teve influência do ex-presidente da Câmara, o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Janaína disse que "sofreu" muito por ter que apresentar uma denúncia contra uma mulher, a presidente afastada Dilma Rousseff. Ao fim do discurso, ficou emocionada, quando pediu desculpas a Dilma por "ter lhe causado sofrimento".

— Finalizo pedindo desculpas à presidente, não por ter feito o que fiz,  porque eu não podia me omitir diante de tudo isso, mas sei que a situação dela não está sendo fácil e que penso que ela ela compreenda que fiz isso pensando nos netos dela.

Ela disse que teria apresentado o pedido de impeachment mesmo que o presidente fosse um homem.

— Ao trazer esse pleito de afastamento da senhora para o Congresso, estou renovando a confiança que tenho nessa Casa. Prefiro em falar em República O pior é continuar fingindo que nada está acontecendo. Sofri mais do que sofreria em outras situações pelo fato de a presidente da República ser mulher. Muito me doeu ao constatar que seria eu a apresentar a denúncia, muito refleti, e concluí que ninguém poderia ser perseguido ou protegido por ser mulher. Fosse a presidente um homem, pediria o impedimento — disse Janaína.

A advogada de acusação rebateu argumentos de aliados de Dilma de que houve vários conluios nesse caso, como de Cunha com a oposição a Dilma, entre outras.

— Nossa denúncia tinha três pilares: petrolão, pedaladas, decretos. Se ela tivesse sido feito sob a égide de Eduardo Cunha... O senhor Eduardo Cunha afastou tudo sobre petrolão, sobre 2015. Essa coisa que ele editou a peça é inovação. Por um lado, entende que o presidente da Câmara não tem legitimidade, mas à decisão primeira eles se apegam com unhas e dentes. Ora: ou bem o homem tem legitimidade, ou bem ele não tem legitimidade. Não dá para compreender ele ser a expressão do golpe e depois a expressão da legalidade — disse Janaína, acrescentando:

— Se alguém está fazendo algum tipo de composição nesse processo é Deus. Foi Deus quem fez várias pessoas, na sua competência, percebessem o que estava acontecendo com nosso país e conferissem coragem para se levantar e fazer alguma coisa.

Janína afirmou ainda que sempre defendeu que delações envolvendo a presidente afastada fossem incluídas no processo.

— O Senado é tão soberano que tem o direito e o dever da denúncia na íntegra, inclusive fatos posteriores. Sempre foi possível trazer para este processo todas as delações. Que venham as gravações.

Janaina Paschoal, co-autora da ação que originou o processo de impeachment, chora durante discurso no plenário do Senado Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS
Janaina Paschoal, co-autora da ação que originou o processo de impeachment, chora durante discurso no plenário do Senado Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS

ATAQUES AO PT

A advogada focou sua explanação em criticar o PT. Ela disse que o modo de o PT operar é com a mentira e a enganação. E disse que eles "mentem tão bem" que as pessoas acabam acreditando.

— Eles mentem tão bem, são tão competentes no marketing, que a gente acredita. Até quem está ao meu lado afirma que a perícia questiona se a perícia foi favorável à acusação — disse ela, acrescentando:

— O modo PT de ser é esse, é a enganação, que nega a realidade dos fatos.

Janaína afirmou que o partido teria mesmo que ser contra esse processo de impeachment.

— O PT tem que ser contra esse processo. Eles votaram contra a Constituição. E esse processo está lastreado na Constituição. Eles foram conta a Lei de Responsabilidade Fiscal. E esse processo também está lastreado na Lei de Responsabilidade Fiscal. É quase natural que achem incoerente esse processo — disse na tribuna do Senado.

A advogada afirmou que é "inadmissível o que o PT está fazendo com o Brasil".

— Não posso me curvar a vontade totalitária da defesa, como a do partido, que se diz dos trabalhadores. Isso que o PT está fazendo com nosso país é inadmissível. Age com tamanha naturalidade que até nós, cidadãos comuns, acabamos nos acostumando com o ilícito.