Sempre longe demais das capitais, para usar o clichê relativo aos artistas do Rio Grande do Sul, o cantor e compositor gaúcho Jorge Otávio Pinto Pouey de Oliveira – o Frank Jorge, integrante de bandas como Os Cascavelletes e Graforréia Xilarmônica (da qual foi o mentor) – volta ao mercado fonográfico neste mês de agosto com o quarto álbum solo, a menos de um mês de completar 50 anos de vida, em 20 de setembro.

 



Com capa que expõe projeto gráfico de Victor Cecatto, Escorrega mil vai três sobra sete sai pelo 180 Selo Fonográfico e é o primeiro álbum solo do artista em oito anos, sucedendo Volume 3 (2008) em discografia pautada pelo rock básico. É na batida do rock que Não é real abre Escorrega mil vai três sobra sete.

 



Assumindo também a função de produtor, o próprio Frank Jorge formatou com o baterista Alexandre Birck no estúdio Music Box, entre 2014 e este ano de 2016, as 12 músicas inéditas e autorais do disco. Composições diretas como Sempre procurando mostram um compositor ainda afinado com uma linha mais pop(ular) de rock, derivada da Jovem Guarda (trilha também seguida pelo grupo carioca Autoramas). Basta ouvir Até o sol aparecer para identificar a genealogia do rock pop de Jorge.

 



As guitarras de Felipe Rotta, de Birck e do próprio Frank Jorge aditivam este pop rock, dando corpo e vida a composições como Mais além e 15 minutinhos sem pesar a mão. Soam na medida, pois os rocks de Jorge têm simplicidade que os conecta com parte dos hits das jovens tardes dominicais da segunda metade da década de 1960.

 



Tal simplicidade guia O viajante, tema que concilia toques de country, rock’n’roll e leve acento gaúcho. Na letra, O viajante segue rota que transita por cidades do Rio Grande do Sul como Porto Alegre (RS) e Gramado (RS). Já Nicodemo tem forte pegada country. É uma das três faixas do álbum gravadas com o toque da guitarra de Bruno Alcade, músico também convidado das músicas No horizonte e Só distância.

 



Única faixa que não foi composta somente por Frank Jorge, tendo sido feita em parceria com Andrio Maquenzi, Turma 8 agrega as vozes de Daniel Tessler e Vanessa Longoni. No fim das contas, Escorrega mil vai três sobra sete mantém inalterada a cotação de Frank Jorge na bolsa do pop rock brasileiro. Sem oscilações, o álbum expõe a coerência de artista fiel a si mesmo que nunca quis impressionar a cena do eixo Rio-SP, se mantendo sempre longe demais do hype e dessas capitais. (Cotação: * * *)

 



(Crédito da foto: reprodução da capa do álbum Escorrega mil vai três sobre sete. Arte gráfica de Victor Cecatto)