02/09/2016 16h33 - Atualizado em 02/09/2016 18h50

Dupla votação do Senado foi 'estranhíssima', afirma Dilma

Ex-presidente concedeu entrevista nesta sexta (2) à imprensa estrangeira.
Petista disse ainda que senadores a condenaram à 'pena de morte política'.

Filipe MatosoDo G1, em Brasília

Dilma concede entrevista a jornalistas de veículos estrangeiros no Palácio da Alvorada (Foto: Reprodução / Facebook)Dilma concede entrevista a jornalistas de veículos estrangeiros no Palácio da Alvorada (Foto: Reprodução / Facebook)

A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira (2), durante entrevista a jornalistas de veículos estrangeiros, no Palácio da Alvorada, que achou "estranhíssima" a dupla votação no julgamento final do Senado que aprovou seu afastamento do comando do Palácio do Planalto, mas manteve sua elegibilidade.

A petista questionou, principalmente, o fato de 16 senadores terem se posicionado a favor do impeachment na primeira votação e terem rejeitado, em uma segunda consulta por voto, que ela ficasse impedida de concorrer a cargos eletivos e ocupar funções na administração pública.

 

Em outro trecho da entrevista, Dilma afirmou que a aprovação do seu afastamento do governo representou sua "pena de morte política" e a decisão que autorizou que ela possa vir a ocupar funções públicas "não atenua" isso.

"Eu acho que é estranhíssima essa dupla votação. Esta é a discussão. Vota de um jeito numa votação e depois vota de outro em outra? Em Minas, a gente ficaria desconfiado. Nós mineiros somos muito desconfiados. Acho que a estrada de votos é muito tortuosa", declarou a ex-presidente.

Embora tenha feito um pronunciamento à imprensa horas após a decisão do plenário, esta foi a primeira entrevista de Dilma como ex-presidente da República.

"Você tem um impeachment sem crime de responsabilidade, afasta uma pessoa inocente do cargo e, além disso, tira os direitos políticos por 8 anos também sem crime? E, aí? O que acontece? O maior contrato que existe neste país, que é entre o governo e seu povo, é rompido de todas as formas. Não acho que [a manutenção da elegibilidade] atenua ou não atenua o que eles fizeram, não acho. Acho oque são detalhes e decorrências do que fizeram. Poderiam ter feito diferente. Me condenaram à pena de morte política ao me tirar da Presidência. Está é a maior pena que um brasileiro pode ter", declarou.

Em outro trecho da entrevista, Dilma mencionou o agora presidente da República Michel Temer e afirmou que, se ele não cumprir o programa de governo prometido por ela durante a campanha de 2014, fará um governo "ilegítimo".

"Eles começaram a executar [antes mesmo do impeachment] um programa de governo que não tem o menor respaldo das urnas. Não foi este o programa de governo que eles estão implementando que me levou [à presidência] e levou comigo junto o vice [Temer]. Não foi este. Se ele se dá o direito de utilizar a Vice-presidência para assumir a Presidência, tem também de usar a condição de vice para cumprir o programa que me deu o mandato nas urnas. caso contrário a ilegitimidade é total", afirmou.

Oposição a Temer
Questionada sobre se tem "projetos políticos" para o futuro, Dilma afirmou que não tem projeto político eleitoral, mas fará "oposição" a Temer.

"Não tenho projeto político no sentido eleitoral, não tenho isso elaborado. Tenho um projeto político no sentido de que farei oposição ao governo [Temer], independentemente de onde esteja", enfatizou.

Dilma durante entrevista à imprensa estrangeira no Alvorada (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)Dilma durante entrevista à imprensa estrangeira no Alvorada (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)

Lula
Dilma também foi questionada pelos correspondentes estrangeiros sobre se há "mágoa" entre ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque na quarta-feira (31), quando ela fez sua primeira manifestação pública após o Senado aprovar o impeachment, ele não estava ao lado dela, mas, sim, no mezanino do Palácio da Alvorada.

Dilma negou qualquer mal-estar e disse que seu padrinho político não estava ao lado dela somente porque havia um tumulto de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas ao redor dela.

"Vocês podem continuar insistindo, o que já fazem desde o primeiro dia que assumi, nessa conversa. O presidente Lula não estava ao meu lado porque vocês viram o tumulto que foi, isso não tem pé nem cabeça [dizer que há mágoa entre eles]", destacou a ex-presidente.

"Não só o Lula ficou aqui comigo em todos os processos, como ele esteve presente comigo, acompanhou a votação comigo, esteve presente comigo em todas as circunstâncias. Ele foi ao Senado [assistir ao depoimento], me encheu de apoio e carinho e, por ele, eu tenho imensa consideração, além de política, pessoal. Sugiro que vocês desistam, é uma perda de tempo tentar me indispor com o presidente Lula", complementou.

Mudança para Porto Alegre
Em meio à entrevista, Dilma informou que pretende se mudar para Porto Alegre após deixar o Palácio da Alvorada, mas informou que só deve deixar a residência oficial da Presidência no início da semana que vem.

No dia em que o Senado aprovou o impeachment, a assessoria da petista informou que ela sairia do Alvorada até o fim desta semana. Dilma explicou que vai adiar um pouco a mudança porque tem que levar todos os seus pertences que estão na residência oficial. "Isso requer um pouco de logística e suor", ressaltou.

A presidente disse ainda que há a possibilidade de ela "ficar um tempo" no Rio de Janeiro, cidade onde a mãe dela, Dilma Jane, tem um apartamento.

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