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Literatura e Política

Sem os escritores na política, o mundo fica muito pior

Drummond, com Capanema, em 1932, no Rio de Janeiro

Qual o papel dos escritores na política? A história ajuda um pouco nesta reflexão: os escritores sempre estiveram ao lado dos políticos. Carlos Drummond de Andrade foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, nos anos 30, assim como Murilo Rubião foi de Juscelino Kubistchek, nos anos 50; Otto Lara Rezende e Carlos Heitor Cony escreviam discursos para políticos. 

Dezenas de escritores eram funcionários públicos. Até Machado de Assis foi diretor geral do Ministério da Viação, no final do século XIX. Até 1970, eram raros os políticos que não tinha escritores no seu staff. Hoje, não é mais assim. A classe política se afastou da literatura e vice-versa. E isso é muito estranho - e perverso. Isso porque o político trabalha, assim como os escritores, com a palavra. E quando parou de trabalhar com as palavras e as ideias, entrou o dinheiro. Hoje, políticos se elegem sem palavras, sem ideias e sem verbo. Hoje, os políticos se elegem com a verba. 

Sem os escritores na política, as ideias caminham sozinhas, sem a construção literária e ideológica que elas necessitam para ter êxito. Sem os escritores, a ideia iluminista de um mundo solar, igualitário, solidário, comum, foi deixada de lado. Sem os escritores na política, os livros não tem importância nenhuma. A leitura caminha sozinha, sem direção e a literatura passa a ser apenas um departamento dos Ministério da Cultura, ou Educação, tratada como as demais áreas. E não é! A literatura e a leitura fundam a consciência crítica do cidadão, elaboram a noção da ética e determinam noções fundamentais para nossa existência, como a beleza e a criação.

Sem os escritores na política ficamos assim, invisíveis, ilegíveis, literais. Sem capacidade de interpretação. Em um mundo muito pior. 

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