O menino que aos 7 anos vendia gelinho nos campos de várzea
não imaginava onde estaria neste 21 de agosto de 2016. Neste
domingo, diante de um Maracanãzinho lotado, Serginho deu adeus à seleção
brasileira da melhor forma possível. Ao vencer a Itália por 3 sets a 0 na decisão dos Jogos do
Rio, conquistou seu segundo ouro olímpico – também havia sido campeão em Atenas
2004. Além deles, também soma duas pratas no currículo, em Pequim 2008 e
Londres 2012.
O líder de toda uma geração se despede com as honras de um herói: o líbero agora ocupa o posto de maior medalhista de esporte coletivo da
história do Brasil. Deixa Rodrigão, Dante, Giba,
Fofão, Ricardo e Emanuel para trás.
Antes de subir ao pódio neste domingo, Serginho foi jogado ao alto pelos companheiros de seleção. Chorou com a reação do time e também com a do público, que gritou "Serginho é o nosso rei". Depois do hino e das fotos oficiais, coube a ele pegar o microfone e comandar o tradicional peixinho da equipe. Em seguida, um agradecimento ao público e um ato simbólico.
- Primeiro, eu queria agradecer a cada um de vocês por estarem aqui. Essa camisa que eu joguei aqui, não vou dar para ninguém. Vou deixar no chão do Maracanãzinho, vocês façam com ela o que quiserem - declarou, enquanto os companheiros faziam sinal de reverência antes de beijarem a camisa 10 eternizada. Serginho foi eleito ainda o melhor jogador do torneio masculino de vôlei na Rio 2016.
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Confira abaixo a reportagem especial sobre o líbero, publicada inicialmente no dia 13/08
Encolhido na cama, o cobertor virava uma capa de invisibilidade. Quando a noite caía em Pirituba, qualquer latido na rua fazia Serginho se cobrir até a cabeça. O muro da casinha acanhada onde morava era baixo demais para uma região que sofria com a violência. Todo fim de semana cada esquina roubava uma ou duas vidas. Naqueles tempos difíceis de menino, problemas e medos se dissipavam no período de férias escolares. A família juntava o pouco dinheiro que tinha e voltava para uma cidadezinha do noroeste do Paraná, onde os pais abandonaram o trabalho na lavoura de café para tentar a sorte em São Paulo, carregando uma malinha de roupa. Era com o pés naquele chão de barro que Serginho se sentia bem. Visitar o "vô Chico" e poder ser levado de charrete por Guarani despertava sonhos no neto. O primeiro deles era ter seu próprio cavalo. Mesmo que tudo apontasse para o contrário, desejou tanto e com tanta força, que conseguiu.
Teve de trabalhar muito para isso e ouviu nãos na mesma proporção. Desde os 7 anos, passou a vender gelinho no campinho de várzea próximo ao seu endereço para ajudar a mãe. Retornava de lá com algumas moedas, o isopor vazio e frustrado por ter tomado o calote de algumas pessoas. Era consolado carinhosamente por dona Didi pela tentativa de dar sua colaboração para aumentar a renda familiar. Se havia uma vaga como empacotador de mercado, ele se apresentava. Aos 14, virou office boy e viu a carteira de trabalho ser assinada. Conhecia cada rua como a palma da mão e se divertia jogando fliperama com outros iguais no fim do expediente. Ainda tinha esperança de que o vôlei, aprendido no colégio Otto de Barros Vidal, pudesse ser útil no futuro. Enquanto procurava por chances e um lugar ao sol na quadra, colocava papel de parede, vendia produtos de limpeza numa Kombi. Quando as portas pareciam ter se fechado de vez no esporte, o então ponteiro resolveu fazer teste para uma posição nova. Um tal de líbero. Tinha um bebê de colo, não podia dar errado. O filho de dona Didi, nascido de parteira, num barraco ao lado de uma plantação de café em Diamante do Norte, acabou virando um. De brilho intenso e alto valor. E pôde comprar o sonhado cavalo, que ficou em sua companhia por apenas um dia, morrendo em decorrência de uma picada de cobra. Após a frustração, tentou de novo. Fez de Thor seu confidente e conselheiro.
Em março, os dois se separaram. A dor era tanta que Serginho demorou para ter coragem de abrir uma caixa pequena, menor do que qualquer dificuldade, do qualquer adversário que havia enfrentado. Ela guardava a última ferradura do amigo de 17 anos. Mais que isso. Acionava fortes lembranças, marcava o fim de uma etapa em sua trajetória. Durante uma ida ao seu haras em Jarinu - que ganhou o nome do avô -, foi convidado a abri-la. Disse que não conseguiria. Relutou, enfrentou e desabou. Procurou um canto para chorar sozinho, como na infância. Nunca gostou de mostrar fraqueza. Voltou, pediu a escada e pregou o objeto na parede do galpão de cocheiras. "Pronto, ele está entre nós". O pai quarentão de Marlon, Matheus e Martin segue duro na queda. Pronto para superar a ausência de Thor e dar continuidade ao objetivo traçado desde a temporada passada: ter a sua despedida da seleção na Olimpíada do Rio do alto do degrau que imaginou para Londres 2012. Neste sábado, às 22h35, no Maracanãzinho, ele busca a vaga nas quartas de final contra a invicta Itália.
- Isso aqui é uma paixão, uma terapia. Quando parar de jogar, estarei aqui todos os dias, se não morar aqui. Quero ficar no meio do mato, de onde eu vim. O Thor era um companheiro. Quando eu estava triste, montava nele e esquecia todos os problemas, todas as derrotas. Ele educou meus filhos, fazendo as crianças ganharem responsabilidade cuidando dele. Só quem tem, só quem dá carinho sabe... Cavalo é como se fosse um cachorro, só que você consegue subir nele e ir aonde quer. Na Bíblia está escrito que quem tem um cavalo é abençoado por Deus. Ele foi embora com todos os meus segredos. Foi com o Thor que tudo começou... - disse.
MAGRELO DETERMINADO
O pai trabalhava dia e
noite, como caseiro e ajudante geral. A mãe cuidava dos três filhos e
mantinha a rédea curta, para evitar que tivessem o mesmo destino de
alguns dos amigos da vizinhança, que tomaram um rumo errado e pagaram o
preço por isso. Ele obedecia sem pestanejar. E procurava por
oportunidades. Todas agarradas como um prato de comida. Caminhava 5km
para treinar no centro esportivo de Pirituba, em São Paulo. Depois de ter ganho sua
primeira e considerada a mais importante medalha num torneio escolar, e
de ter visto o Brasil levar o ouro olímpico em Barcelona 1992,
colocou na cabeça que queria ser igual àqueles caras.
Algo
improvável para alguém que nunca foi visto como uma pedra a ser
lapidada no vôlei. Como ponteiro não dizia muito. Não tinha estatura e
era considerado um atacante mediano, com limitações ofensivas. Recebeu
reprovações em série nas peneiras que se
atreveu a fazer. Mas foi aceito no Palmeiras. Silvia Souza Lima, a
primeira técnica e chamada por ele como segunda mãe, abre um sorriso ao
lembrar do menino que se colocou na sua frente querendo uma chance.
Ficou encantada por ele ao ver sua disposição e mais ainda ao tomar
conhecimento de todos os obstáculos que vencia com tanta dignidade.
Pegava ônibus, metrô e ainda andava uns bons quilômetros para chegar ao
local dos treinamentos. Muitas vezes com fome.
- Ele
chegou magrelo, com aquelas perninhas fininhas, shortinho, camisetinha
branca. Eu olhei e falei: meu Deus, será que isso aí joga? Mas como era a
última seletiva e não tinha ninguém para jogar, eu vi ele bater bola e
falei: Acho que vai dar certo. E foi assim (risos). Eu só precisava
ganhar um ponto no campeonato para ficar com o troféu eficiência. Montei
uma equipe baixa, mas rápida. A gente treinava muito defesa e agilidade
pelo porte físico dele. Ele nunca admitiu erro, ser derrotado. Tinha
personalidade forte, garra, uma luta diante da vida, e isso refletiu no
esporte. Era muito coordenado, disciplinado tecnicamente, não perdia o
foco no que traçou. Não sei como ele conseguia fazer tanta coisa durante
24 horas. Eu sabia da dificuldade financeira dele, mas Sergio era
discreto e nunca me mostrou medo, fragilidade. Tenho muito respeito por
ele, de ser chamada de mãe de um ser humano maravilhoso. Cada vez que entra
na quadra, ele está ali para ganhar. Ele se machuca, corre, não desiste,
não vê uma bola perdida - afirmou.
É grato até hoje
pelas lições ensinadas pela mentora, pela postura dentro de quadra,
pelas manchetes perfeitas. Sempre carregou as palavras ditas por ela:
"Você tem a qualidade de só errar uma vez, não erra na segunda". Fala
com Silvia diariamente e procura ajudá-la no que for necessário para
continuar formando jovens jogadores na Avog, em Guarulhos. Empresta
prestígio, doa camisas para serem rifadas com o intuito de levantar
verba para o pagamento de taxas. Seguiram juntos para lá. Quando passou
ao time
adulto, quase foi dispensado. O treinador, José Cardoso, o Zeco, queria
contratar
um jogador para a posição com o nível melhor. Quando revelou sua
intenção, o grupo se rebelou. Recebeu uma contraproposta. Poderia tirar
uma quantia do salário de cada um para que Serginho fosse mantido. O
carisma, o perfil amigável e agregador, a liderança o tornavam
imprescindível. Ficou no time até o fim, quando teve de ser desfeito por
conta da falta de investimento. De acordo com Zeco, nunca esqueceu de
ninguém, do funcionário que limpava a quadra ao que enchia as bolas.
líbero? o que é isso?
Casado,
com um menino para criar, desempregado. Serginho não tinha tempo para
lamentar o freio. Foi vender água sanitária pela periferia. Um dia, o
orelhão que tinha na calçada de casa tocou. Era Chicão, seu
ex-companheiro de Guarulhos, perguntando se ele não gostaria de fazer um
teste para líbero em São Caetano. O central tinha ido para lá e
resolveu ajudá-lo. Falou com Tonico, o então técnico, vendeu o amigo
como um bom passador. Só não falou que a defesa não era lá seu forte,
que parecia ter duas espadas nos joelhos, não conseguia flexioná-los.
Mesmo sem saber do que se tratava, Serginho topou o desafio. Ficou uma
semana dormindo no sofá-cama no apartamento do amigo. Ouviu dele: "Não
deixa essa bola cair. Mete a cabeça na parede. Imagina que a bola de
voleibol é o leite do seu filho".
- Se ela fosse na estação de
trem, eu ia buscar! Eu não sabia o que era líbero. Perguntei o que tinha
que fazer e parecia que aquela posição tinha sido feita para mim. Tomei
ela para mim. Fui contratado, passei a ganhar R$ 300! Pegava o envelope
com o dinheiro e dava para a minha mãe (guarda a saladeira que ganhou de presente dele até hoje). Eu sempre achei que ia vencer,
nunca imaginei que ia dar errado. Ficamos em terceiro no Paulista e em
quinto na Superliga.
Antes de começar a deslanchar, chorou
muito ainda por falta de dinheiro. Tinha um cheque, mas nada de fundos
na conta exatamente quando o filho caiu doente. Chicão viu seu desespero
e o levou para o banco.
- Ele me disse: "Meu filho está
doente para caramba, e eu não tenho um centavo para comprar remédio para o
moleque". Aí falei: "Vamos lá pegar o dinheiro para o seu pai ir comprar
o remédio para o garoto. Não vou deixar o moleque morrer, tá doido?". Eu
nunca esqueço disso. Foi cruel. Saquei o dinheiro, depositamos na conta
dele. O garoto agora, se ficar doente, ele vai levar no Sírio e Libanês
(risos). Dali em diante, nossa amizade cresceu mais ainda. Eu tenho a
consciência tranquila de ter ajudado um cara que se transformou num
fenômeno do voleibol, o melhor jogador do mundo. Quando você tem
consideração por alguém, você se arrisca. E ele é uma pessoa muito gente
boa, um cara muito humilde, batalhador. Um cara que não deixou perder
as raízes - elogia o agora treinador.
Não
mesmo. Na nova função, a carreira foi ganhando corpo. Do São Caetano
seguiu para o Suzano, onde passou a ganhar 10 vezes mais. Em seguida,
conseguiu finalmente um lugar no Banespa. E dali foi catapultado a
jogador de seleção brasileira em 2001. Chegou tão sem jeito ao saguão do
hotel, que só sabia dizer à recepcionista que tinham mandado ele ir
ali. Ficou ainda mais desconcertado quando descobriu que dividiria
quarto com Maurício, de quem era fã confesso. Demorou uma eternidade
para tocar a campainha com medo da reação do levantador. Recebeu um
abraço. Serginho não queria mais sair daquela equipe. E acabou sendo
alçado à condição de referência, de campeão olímpico. Mudou de país e
foi defender o Piacenza por quatro temporadas. Na Itália, sentia falta
de tudo. Do latido dos cachorros, de gente em frente da casa conversando e dando risada. Chorava quase todos os dias. Estava no lugar onde qualquer
atleta gostaria de estar. Não ele.
- Sou um cara bairrista, gosto do
lugar onde fui criado. Queria rever as pessoas, meus amigos. Lá só tinha
neve, não tinha cachorro na rua, aquele momento de ficar em frente da
casa conversando com todo mundo, dando risada. Não tinha casamento,
aniversário para ir. Eu sentia falta disso. Sou um cara normal. Pego
fila no banco, levo meus filhos à escola, lavo carro, sento para tomar
um café na padaria, paro para conversar com quem não conheço. As reações
são engraçadas, mas deixo claro que não há diferença. O vôlei não me
faz melhor do que ninguém. Sempre tenho o pé no chão, porque o vôlei é
passageiro. O patrimônio da minha vida é esse bairro, meus amigos, minha
escola, minha casinha. Não nego minhas origens.
herói não, sou um cara normal
Comprou a casa que havia prometido à mãe, ali mesmo em Pirituba.
Não se desfez daquela onde foi criado, a poucos metros dali, tida como um troféu. Sempre que
está para baixo, passa na frente dela e toma fôlego. A que mora atualmente também não
fica muito longe. É vizinha à de Leandrinho Barbosa e tem piscina, uma tabela de basquete, campinho de
futebol e uma bola de vôlei murcha. Martin, o caçula, prefere futsal.
Matheus, o do meio, joga basquete. É armador e foi o MVP do camp da
NBA realizado em São Paulo. Marlon, o mais velho, faz Arquitetura e
desenhou as cocheiras do
haras.
Os gostos simples permanecem na mobília.
As três medalhas olímpicas dividem um armário com todas as outras.
Dentro daquelas paredes o que há de mais valioso é o amor familiar. É
ele que perdoa a barbeiragem do primogênito que amassou o fusca azul de
sua coleção. É ele que
leva Martin ouvir os irmãos falarem do pai e só ter o choro contido com
colinho do pai. É ele que faz Matheus procurar seu caminho, aguentar a
pressão. Que faz a avó ter sempre pronto na cozinha o bolo de cenoura
com chocolate por ser o preferido de Serginho. Foi ele que fez Marlon
carregá-lo nos
braços sempre que foi preciso após cirurgia na coluna, há seis anos.
Foi a
pressão deles que o levou a repensar a aposentadoria da seleção, a
voltar e se submeter a um treinamento intenso com um monte de garotos ao
lado. Tem o respeito de todos, é ídolo de muitos deles. Reflexo da
marca deixada naquela equipe fenomenal que colecionou títulos e foi
campeã olímpica em Atenas 2004. O menino pobre que emprestou uma nova
linguagem ao grupo e espantou pela quantidade de gírias - num então
esporte de elite -, ensinou também que o espírito de luta tem que estar
presente todo dia. Apesar de todas as reverências, Serginho nunca se
sentiu o tal.
- Eu me senti peça importante, não sei se
era eu que estava ali. Não consigo ver aquela final. Eu lembro de mim
andando de carrinho de rolimã e arregaçando o dedo (anelar da mão
direita) e depois as pessoas falando que eu sou herói. Pelo amor de
Deus. Não sou, não sou mesmo (chora). Sou o Sergio Dutra dos Santos,
filho da dona Didi, pai do Marlon, do Martin e do Matheus. Sinto saudade
dos meus amigos (cita cada integrante daquele time) e até hoje fico
pensando por que eu tinha que estar no meio desses caras. Não sou isso.
Quero bater palma para outras pessoas agora. Isso não é para a minha
vida. Ainda bem que está acabando.
Depois de 15 anos de
convívio, integrantes da comissão técnica dizem que pouca coisa mudou. A
essência continua intacta. Assim como a vontade, a entrega ao trabalho e
a paixão por Tubaína. Ainda faz todos rirem com as histórias que gosta
de contar, do passado e do presente. Ainda mantém o temperamento
explosivo quando a situação exige, ainda resiste à dor, ainda inspira,
ainda é fundamental.
- Para aquele grupo campeão ele trouxe a
energia e a fome de chegar e conquistar espaço. Ele perdeu um pouco a
velocidade com os anos, mas compensa isso com experiência, conhece os
atalhos. Conhece as armadilhas do sucesso, a derrota e a dor que vêm
dela. Ele hoje é um líder pelo que construiu. Já nos desentendemos na
quadra uma centena de vezes, mas é briga querendo o melhor e depois fica
tudo 0 a 0. Uma das coisas que mais gosto é quando ele começa a cobrar.
Ele pode cobrar, porque as pessoas confiam nele. Só atletas especiais
têm condições de chegar numa Olimpíada aos 40 anos com condições de
brigar com os melhores do mundo. Não somos favoritos, mas ele está
disposto a brigar e ser um dos soldados que a estar naquela trincheira
- elogiou Bernardinho, antes do início dos Jogos.
Não é do tipo de que foge de uma boa batalha. Encarou as mais duras quando tinha pouca idade. Quando ia treinar só para comer o lanche que era dado depois. Passagem que emociona os filhos toda vez que imaginam o pai naquela situação. Mesmo que tenham tudo do bom e do melhor, aprenderam que é preciso seguir no caminho certo e lutar pelo que se quer. No momento, Serginho quer o seu segundo ouro olímpico. O que escapou em Londres 2012 doeu demais.
- Não se pode mostrar fraqueza. Com a mesma vontade que eu saía para vender água sanitária eu saio para treinar hoje. Estou bem fisicamente e tecnicamente. Ainda não parei para pensar que estou jogando a minha quarta Olimpíada e que posso conquistar a quarta medalha. Agora vou sério. Vou para cama de noite cheio de dor, cansado, mas sei que vai valer a pena. Eu não queria estar, mas me chamaram... Vou pegar todas as forças, tudo da minha vida, colocar no coração e ir para a quadra. Todo mundo vai jogar comigo. Quando vi que o vôlei podia mudar a vida da minha família eu disse: "Vou, mas vou ser o que sempre fui". Sempre vivi na rua e foi onde aprendi os ensinamentos.
Depois dos Jogos
do Rio, os planos são de descanso no meio do mato. Ao lado de todos que tem em
alta conta, naquele que tem sido seu refúgio, com seus amados "pangarés". No lugar que o transporta
no tempo. É como resume dona Didi: "Somos caipiras da roça. A gente vem
para a cidade, mas não muda, não".