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Tite revela choro com a esposa e resume estreia: ''Venceu e mereceu''

Treinador foge de perguntas sobre a Colômbia e diz que quer festejar vitória sobre o Equador por pelo menos uma noite: ''Precisamos ter coragem para curtir o momento''

Por Quito, Equador

 


Sorrisos e muita esperança. A vitória por 3 a 0 sobre o Equador nesta quinta-feira, em Quito, acabou com a ansiedade pela estreia e trouxe alegria para o técnico Tite(veja as reações do treinador no vídeo acima). Na altitude de 2.850m, o comandante viu uma grande atuação da Seleção e o fim de um tabu de 33 anos com a vitória fora de casa sobre o adversário. Ao mesmo tempo empolgado e com os pés no chão, o treinador revelou detalhes da ligação emocionada para a esposa Rose após o apito final.

- Não quero falar sobre a Colômbia. São histórias diferentes, circunstâncias diferentes. Não dá para criar expectativa em cima desse primeiro resultado. Quero curtir essa vitória, ligar como já liguei para a minha esposa. Trocamos alegria. Estou com vergonha de dizer que choramos no telefone. Choramos de alegria. Ela sempre diz: ''Por favor, curte. Por favor, fica feliz''. Só temos esse momento agora. É a hora de ficar feliz pelo desempenho da equipe, pela adversidade, pelo nível técnico, tático e físico que o jogo teve. Temos os pés no chão, não estou eufórico. Mas precisamos ter coragem para curtir o momento. Quero fazer isso e valorizar atletas e desempenho. Só depois de curtir é que vamos projetar a sequência - disse o treinador.

Neymar Tite Brasil x Equador (Foto: AP)Tite orienta Neymar durante o confronto com o Equador em Quito: camisa 10 abriu o placar de pênalti (Foto: AP)

Entre elogios à atuação do Brasil, principalmente no segundo tempo, Tite disse que o maior desafio era restabelecer um padrão de organização da equipe. Ao avaliar a vitória após somente três dias de treinamentos, o técnico resumiu: a Seleção venceu e mereceu.

- São jogos de alto nível, os atletas mereceram muito ganhar esse jogo. Merecem pelo curto espaço de tempo. Talvez eu não tenha tido tanto tempo, mas a nossa fala é muito intensa. Os trabalhos foram muito fortes e o desafio era grande. Precisávamos restabelecer um padrão de organização para fazer frente ao Equador fora de casa. Uma palavra que usei bastante: ele venceu e mereceu, principalmente pelo segundo tempo - disse.

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A vitória levou o Brasil aos 12 pontos nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018. Neste momento, a Seleção ocupa a 5º posição, dois pontos atrás da líder Argentina. A delegação viaja ainda na noite desta quinta-feira para Manaus, palco da partida da próxima terça-feira, diante da Colômbia, na Arena da Amazônia.

Confira outros trechos da coletiva de Tite:

Neymar


A equipe toda jogou bem e o Neymar foi assim também. O Neymar do Brasil, com origem do Santos. É um líder técnico, como existem liderança de comportamento, de expressão. São diversas facetas. É um jogador de último terço do campo, de cumprir função, de fechar espaço. A equipe teve espírito solidário, por isso sobe sofrer, principalmente no início, para vencer no final.

Jogadores em suas posições de origem

Em parte (um dos motivos pela vitória). Também foi um legado de Dunga de atletas que já trabalharam na Seleção e estão adaptados. Exemplo: Philippe Coutinho. Joga na esquerda e está adaptado na Seleção assim. É importante usar jogadores nas funções que exercem nos clubes, para termos o mínimo de organização sem a bola.

Gabriel Jesus

Não sabia que ele ia jogar assim e fazer dois gols. Não posso dizer isso. Mas apostamos na possibilidade maior de sucesso. Senti os atletas muito pressionados pela campanha. Eles são humanos, eles sentem. Sentem toda a expectativa gerada, todo o envolvimento. E aos poucos vocês vão conhecendo mais os atletas. Vemos no dia a dia como eles tem atenção em poder ficar feliz e deixar um monte de gente feliz. Que ele ia se destacar tanto eu não sabia, mas sabia as funções que ele ia exercer. Tem muito do Palmeiras e do Cuca também. Para ser justo, também tenho que citar Marcelo e Oswaldo de Oliveira. Os dois também trabalharam com o Jesus. Enchi o saco de todos os técnicos do Brasileirão. Fica aqui o meu agradecimento. A vitória veio muito em função deles, como lidar com cada atleta... Me ajudou muito. E claro de toda a comissão técnica, que almoçou e jantou comigo, que foi a várias cidades e países para observar jogadores e minimizar os erros. O trabalho é muito deles também.

 



Philippe Coutinho

Essa vitória abre uma disputa feroz no gol e nas outras posições também. A competição com lealdade eleva o nível técnico dos atletas. Quando mais alto nível, melhor. Pegamos a flutuação do Coutinho quando o Willian já tinha feito muita velocidade e transição, deixando os zagueiros cansados. Ai entra o jogador descansado... Vamos compreender o contexto, por isso o trabalho de equipe.

Início do trabalho

Fico feliz por essa química rápida com o grupo de trabalho. Aqueles que ficaram fora também. Ontem pedi desculpa aos atletas porque não dava para trabalhar com todos na parte tática, não tínhamos tempo. Quando acabou o treino, perguntei para os meus auxiliares como foi o outro trabalho e me disseram que tinha sido de uma qualidade danada.

Ouro olímpico

A Olimpíada deixou um espírito competitivo muito grande, as coisas estão ligadas às outras. Conduzimos esse trabalho bem, independentemente da função. O Neymar jogou por dentro com o Micale e por fora comigo, só para exemplificar. Ficamos felizes por hoje, mas temos a noção exata da nossa responsabilidade.

O que foi determinante?

Colocar os atletas nas funções que exercem em seus clubes. Fazer um diagnóstico dos atletas, sem pensar no status dele ou em relação de amizade. Se fosse assim, colocaria o Gil de titular e não Miranda ou Marquinhos. Saber que eles vão competir com lealdade entre si. Marcelo e Filipe Luis são baita jogadores. Acompanhar os jogos in loco no Brasil, na Europa. Ver treinamentos para saber que o Rafael Carioca joga muito. Acompanhamos tudo para minimizar a quantidade de erros. Isso também foi um fator determinante.

Seleção representando todos (Tite citou vários técnicos brasileiros em suas coletivas)

Sim. É uma ideia. O detalhe é que será impossível agradar a todos, cada um tem o seu estilo. O estilo do futebol brasileiro é de triangulação, do jogo apoiado e depois velocidade. Eu vejo assim. Ao mesmo tempo, vejo a Alemanha, atual campeã do mundo, atacando com seis jogadores, sendo quatro meias, e o Özil flutuando. É preciso tempo para implantar as ideias. Não podemos achar que o grande jogo da estreia vai se repetir por acaso. Temos essa preocupação.

Golaço de Jesus

Foi uma jogada construída. E claro que ele levaria vantagem depois de sairmos na frente. O emocional pesa. O início do jogo foi pesado, mas tínhamos uma ideia implantada. Não ficamos apenas quebrando as bolas. Isso foi gerando confiança.

Diferenças entre o primeiro e o segundo tempo

Sabia que era natural o aspecto emocional pesar pela posição na tabela. Além da dificuldade do técnico começando. Isso gera expectativa e temos garotos ali. Não é o status ou a grana que já ganharam, estou falando do lado humano. Existe um gesto de carinho do jogador em estar na Seleção. Aos poucos o torcedor vai compreender isso e eles vão conseguir expor mais seus sentimentos, mostrar que se emocionam, que festejam no vestiário. Dei um abraço no Willian depois do jogo. Disse para ele não ficar chateado, que nem sempre estamos em um dia inspirado. E avisei que o trabalho dele foi muito importante para o Coutinho entrar bem, para o jogo coletivo.

Disciplina

É uma ideia, um conceito. Não apenas para o Neymar. Tive uma conversa com o Carlos Bianchi e ele falou do nível de concentração. Eu pensei que eles eram provocados e jogavam futebol, que a arbitragem errava e eles seguiam jogando. Que nível de concentração é esse? Me deu um estalo que eu estava em frente a um grande cara, muitas vezes campeão, que poderia reforçar um legado. Quando assumi, o Zagallo falou assim para mim: ''Vou estar assistindo e torcendo''. Agora eu agradeço e retribuo esse carinho. Obrigado pela força e um abraço, Zagallo. Aspecto disciplinar é fundamental. Você toma um cartão bobo e deixa de fazer uma falta tática necessária. Reclamar inibe, quem reclama muito deixa de jogar. Não é disciplina, é questão de inteligência.

Esperança de dias melhores

Há um simbolismo. A adrenalina estava muito grande, fazia tempo que não sentia isso. Fiquei alguns dias parado e perdi o jeito. Não conseguia me acalmar antes do jogo. Pedia para as pessoas conversarem comigo (risos). Quando acabou a palestra, eu queria que o jogo já começasse. Gera expectativa mostrar um pouco esse lado humano que temos. Mas não é 8 e nem 80. Dunga pegou um trabalho difícil onde os técnico brasileiros eram os culpados por tudo. Serviu para a gente se mexer. Foi o Felipão, o Dunga, eu. Todos nós. Estou dando sequência a esse processo, com alegria e pés no chão.