31/08/2016 17h38 - Atualizado em 31/08/2016 22h08

Temer diz que governo não é golpista e que não aceitará divisão na base

Presidente fez declaração na primeira reunião ministerial após impeachment.
'Não vamos levar desaforo para casa', afirmou antes de viagem à China.

Filipe Matoso e Alexandro Martello Do G1, em Brasília

O presidente da República, Michel Temer, contestou nesta quarta-feira (31), na primeira reunião ministerial de seu governo após a aprovação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a tese da oposição de que o afastamento da petista foi um golpe. Ele também afirmou que não aceitará divisão em sua base de apoio no Congresso Nacional.

Elevando o tom contra os adversários políticos, Temer pediu aos ministros de seu governo reação às acusações de que sua gestão é "golpista". Dos 24 integrantes do primeiro escalão, apenas dois não participaram da reunião: Blairo Maggi (Agricultura) e Mauricio Quintella (Transportes). A pedido de Temer, eles já haviam viajado para a China, onde o presidente participará nesta semana de encontro de cúpula do G20

 

"Golpista é você, que está contra a Constituição", enfatizou, referindo-se aos opositores que o acusam de ter dado um golpe.

"Não vamos levar desaforo para casa. [...] Não podemos deixar uma palavra sem resposta", complementou.

Em meio à fala, o presidente disse que, durante o período em que estava comandando o país como interino, não respondeu às acusações dos adversários, mantendo, segundo ele, uma "discrição absoluta". Agora, ressaltou Temer, não levará ofensa para casa.

"As coisas se definiram, e é preciso muita firmeza", afirmou aos integrantes do primeiro escalão.

A reunião ministerial começou por volta das 17h30, aproximadamente 40 minutos depois de ele ser empossado no comando do Palácio do Planalto em uma solenidade rápida no plenário do Senado. Três horas antes, no mesmo recinto, os senadores haviam decidido afastar definitivamente Dilma da Presidência da República.

Divisão da base
Ao longo do discurso de abertura do encontro com os ministros, Temer fez referência à decisão do Senado que rejeitou penalizar Dilma com a inegibilidade e a proibição para exercer cargos públicos. O presidente disse que é "inadmissível" a divisão de votos que permitiu que a petista mantivesse os direitos políticos, episódio que chamou de "pequeno embaraço" na base governista.

"É uma divisão inadmissível. Se é governo, tem que ser governo. Quando não concorda com uma posição do governo, vem para cá e vamos conversar para termos uma ação conjunta", destacou.

Na segunda votação do julgamento final, 42 senadores votaram a favor, 36 contra e três se abstiveram em relação ao impedimento da agora ex-presidente disputar novas eleições e assumir outros cargos públicos. Para que ela ficasse inabilitada, 54 senadores (equivalente à maioria absoluta da Casa).

Vários senadores da base aliada, que haviam votado a favor do afastamento definitivo de Dilma na primeira votação, acabaram dando votos divergentes na consulta sobre a habilitação política da petista.

Segundo Temer, no momento em que o plenário do Senado decidia sobre se a petista ficaria ou não inelegível, "disseram" que os senadores governistas haviam se "arrependido" de condenar a agora ex-presidente.

"Quem tolerar isso, confesso, vou ter que trocar uma ideia sobre isso. Não é possível tolerar isso porque agora isso aqui não é brincadeira. Não é ação entre amigos ou ação contra inimigos. Ninguém vai caçar bruxas aqui, mas não vamos deixar eles tentarem demonstrar que o governo não é capaz de responder", advertiu.

O peemedebista reclamou ainda do fato de o Palácio do Planalto ter sido pego de surpresa com a migração de votos governistas para manter a elegibilidade de Dilma. De acordo com o colunista do G1 e da GloboNews Gerson Camarotti, os integrantes do palácio atribuíram ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a condução dos votos pró-Dilma na segunda votação, rotulando que o alagoano teria feito "jogo duplo".

"O que não dá é para aliados nossos se manifestarem no plenário sem terem uma combinação conosco. Convenhamos, se tivesse uma combinação, poderíamos dizer 'vamos fazer um gesto de boa vontade', 'vamos abrir mão disso', 'vamos permitir que sua excelência [Dilma] tenha condições de não ser inabilitada, mas seria um gesto nosso, não pode ser um gesto de derrota", queixou-se Temer.

"Isso é fazer jogo contra o governo. Não dá para fazer isso. Estou sendo claro para dar o exemplo de que não será tolerada essa espécie de conduta", acrescentou.

À noite, partidos da base aliada de Temer decidiram, após uma reunião, que não recorrer ao Supremo nos próximos dias contra a votação que manteve os direitos políticos de Dilma. A discussão deve ser retomada a partir da próxima semana, quando o novo presidente vai retornar do encontro do G20.

Viagem à China
Michel Temer também aproveitou a reunião ministerial para comentar a repercussão internacional do impeachment de Dilma. Ele disse aos seus auxiliares que, no plano internacional, "tentaram muito e conseguiram dizer" que houve golpe no Brasil. "Isso aqui não é brincadeira", disparou.

Ao final da reunião, no início da noite, Temer embarcou para a China, onde participará do encontro de cúpula dos países do G20, que reúne países com as maiores economias do mundo. Será a primeira viagem internacional do peemedebista como presidente.

No encontro ministerial, ele falou que a viagem à Ásia será o primeiro momento para anunciar a "novidade brasileira" aos outros países e começar a trazer investimentos estrangeiros para o Brasil.

O peemedebista relatou que já está agendada para o dia 2 de setembro uma reunião bilateral com o presidente da China, Xi Jinping. Ainda segundo Temer, ele foi convidado para reuniões com outros chefes de Estado durante sua estadia em território chinês.

O novo presidente pediu que os ministros divulguem que ele irá para a Ásia "revelar aos olhos do mundo que temos estabilidade política e segurança jurídica.

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