Economia

Pais influenciam o desempenho dos filhos no ambiente corporativo

Ambiente famíliar pode formar nos filhos, desde cedo, uma série de competências valorizadas no mercado de trabalho
Helder e Nilton Molina, no comando da Mongeral Aegon Foto: Divulgação
Helder e Nilton Molina, no comando da Mongeral Aegon Foto: Divulgação

Rio -  Profissionais bem-sucedidos responderam à pergunta: O que aprendi com meu pai? E em cada resposta, como pode ser lido abaixo, veio a constatação de que as lições paternas refletem diretamente no ambiente corporativo e que o trabalho realizado dentro de casa foi fundamental para o sucesso na carreira. Daí o desafio dos progenitores de crianças e jovens em preparar e transmitir valores essenciais para a sobrevivência dos filhos num mercado de trabalho cada vez mais acirrado.

Neste sentido, uma declaração do filósofo e professor universitário brasileiro Mario Sergio Cortella repercutiu muito na internet na última semana. Ele afirma que “parte da nova geração chega nas empresas mal-educada. Não tem noção de hierarquia, de metas e prazos e acha que você é o pai dela”, disse em entrevista à BBC. Reiterando sua opinião em entrevista ao GLOBO, Cortella acredita que a postura paterna deve ser a de um amor que tenha exigências, isto é, uma capacidade de cuidado e afeto que não caia na armadilha de dizer “o amor aceita tudo”. Consequentemente, isto irá afetar positivamente a vida profissional do filho.

— Tem de recusar nos filhos a presença da preguiça, da insolência, da resposta desrespeitosa, da violência física ou verbal e, acima de tudo, o “corpo mole” que pode criar uma geração frouxa no esforço e nos valores decentes de convivência — afirma ele.

A opinião sobre a postura de parte dos jovens é compartilhada pela consultora de Educação e Desenvolvimento de Pessoas Andrea Ramal. Mas ela divide a parcela de culpa entre os pais, a escola e o contexto sociocultural que vivemos.

— Alguns pais colocam os filhos numa redoma, tentando mascarar os problemas e dificuldades da criança. Em vez de ensinar os filhos a encarar os desafios, tentam evitar que eles sofram decepções. Em muitas escolas, falta disciplina e há tolerância demais com o descompromisso, desde o não fazer dever de casa até a cola nas provas. Acabamos gerando uma parcela de jovens que é acomodada e pouco comprometida com esforço e resultados — diz Andrea.

Neste mercado em que o conhecimento muda rapidamente, a consultora Andrea Ramal considera que há que formar nos filhos, desde cedo, uma série de atitudes como disposição para aprender continuamente, proatividade, automotivação, capacidade de planejamento e de gestão do tempo e abertura para atuar em equipes.

— Antes, bastava ter uma profissão ou um diploma para executar funções bem definidas, que se perpetuavam ao longo de toda a vida profissional. Hoje, o conhecimento muda muito rapidamente e as organizações precisam ser flexíveis e se renovar sempre — relembra.

A cooperação é um valor simples de ser ensinado e importantíssima para a vida corporativa, considera Mario Manhães, autor do livro “Administração de guerra”. Através dela, emanam a divisão de tarefas, cumprimento de horários, organização pessoal e respeito mútuo.

— Não se ensina falando, só fazendo. A família também precisa incentivar as iniciativas, testar e ao mesmo tempo propor limites e lembrar sempre que toda ação tem uma consequência. Comportamento é hábito. E, como exemplo, só o hábito do respeito leva ao respeito — considera.

APRENDENDO A PENSAR

Além disso, os pais têm que se policiar, pois têm um poder incrível de detonar a capacidade dos filhos de questionar, algo tão solicitado pelas empresas, lembra o especialista em Desenvolvimento das Competências de Liderança e Preparação de Equipes, Eduardo Shinyashiki.

— O grande desafio é ajudar os filhos a se posicionarem, aprender a aprender e buscar continuamente o conhecimento e informação — afirma ele, lembrando que treinar isto não é tarefa tão árdua:

— No domingo, por que não fazer algo diferente, algo especial? Temos que estimular nossos filhos a criar o hábito de viver a criatividade, com uma ação que vai gerar prazer.

A famosa expressão “quando os pais não ensinam, a vida pune” se aplica perfeitamente nos recrutamentos. Perfis de profissionais “mimadinhos” são identificados e param na hora da seleção.

— A vida, de modo geral, ensina na “marra”: aprendemos pelo amor ou pela dor. As empresas precisam de pessoas qualificadas e isto implica em conhecimentos, habilidades e atitudes compatíveis com a cultura e as estratégias da empresa — afirma a professora de Administração da Faculdade Mackenzie Rio, Nayara Cardoso.

De pai para filha: Fabiana e Alencar, da Zamboni Foto: Divulgação
De pai para filha: Fabiana e Alencar, da Zamboni Foto: Divulgação

Quando o funcionário percebe que a própria formação familiar está prejudicando sua vida profissional, ele deve efetuar uma mudança radical de postura.

— Precisa reaprender e, mesmo sendo muito difícil, provocar a mudança, abrir os ouvidos e fazer diferente — alerta Nayara.

Em empresas familiares, os consultores chamam atenção para a necessidade de separar as relações. Lá, o foco deve ser em resultado.

— Para que funcione, é fundamental que o pai deixe de lado seu laço familiar, se conseguir, e se porte como faria com qualquer outro sócio ou colaborador. No início da carreira do filho, é necessário estabelecer e cobrar metas. Quando o filho começa a assumir a empresa, é importante que o pai respeite uma autonomia progressiva — afirma a consultora Andrea Ramal.

'O QUE APRENDI COM MEU PAI'

"O mais importante o que meu pai me ensinou foram os valores.  Ser honesto, sempre tratar qualquer pessoa com respeito e empatia, não discriminar, nunca deixar a ambição tomar conta do coração e afetar a relação com a familia".

Theo van der Loo, Presidente da Bayer

“A ter cuidado com os detalhes. Ele sempre buscava fazer o melhor, independentemente da tarefa que tinha a cumprir. Uso sempre este ensinamento”.

Martin Franzini, vice-presidente jurídico da Coca-Cola Brasil

Meu pai me ensinou um ditado que levo sempre comigo: “melhor dar um passo de cada vez sempre para frente, do que dar um grande para frente e ter que voltar”.

Luciana Palhares, diretora de marketing da Geneal

“Meu pai citava a frase de Peter Drucker: ‘o sucesso precisa ser medido. O que pode ser medido pode ser melhorado’. Aprendi a ter metas e lutar".

Adriana Pinto, diretora executiva da Masan

“Meu pai me ensinou que o caráter é o  maior patrimônio que alguém pode ter. Isso eu trago na minha vida e é o que procuro passar para meus filhos e para as pessoas que trabalham comigo.”

Helder Molina, presidente do Grupo Mongeral Aegon

" Meu pai nunca foi de ditar regras, falar como deveria ser, mas, sempre foi como um espelho. Suas palavras de esperança, confiança e carinho fizeram e fazem toda a diferença na minha carreira. Uma frase que sempre ouvi do meu pai é que o lá não existe, e, por isso, nós não podemos nunca nos acomodar, pois quando chegamos lá, sempre será possível fazer mais e melhor”.

Alexandre Costa,  fundador e presidente da Cacau Show

"Fui doutrinada a ouvir, sempre, todos os lados de uma história,  para que a relação de parceria e confiança nasça, frutifique e se perpetue com o tempo. Acho que herdei, também, o comprometimento, o foco nos resultados, o desenvolvimento humano e a simplicidade".

Fabiana Zamboni, presidente da Zamboni

“Um dos grandes aprendizados que tive com o meu pai é que a maior riqueza de um restaurante está na equipe. O desafio diário é mantê-la unida, motivada e bem orientada.

Antônio Saraiva, diretor da Churrascaria Palace

“Tenho a sorte de poder dizer que meu pai foi meu melhor amigo e sempre me apoiou, mesmo nos tempos mais difíceis. Na hora de apoiar minhas decisões, ele sempre me dizia “Se é isso que você quer, vai em frente”.

Clodoaldo Nascimento, Presidente da rede YES! Idiomas

“Apesar de ter tido pouca convivência com meu pai, ele me ensinou os valores éticos e morais que hoje são referências em minha vida, além de me dar o norte na minha carreira profissional. Ele foi meu herói que, ainda, me ajuda nos momentos decisivos da minha vida”

Gabriel Di Blasi, CEO do escritório Di Blasi, Parente & Associados

“O que eu aprendi com o meu pai é que sempre temos que deixar um legado para o futuro, além de encontrar um equilíbrio entre os desafios empresariais e o bem-estar da sua família. Ele acredita que não tem dinheiro no mundo que pague o tempo que você deve passar com seus filhos”.

Rodolfo Delgado, CEO da Guarde Perto Self Storage.

"A chave para um negócio de sucesso está na construção de relacionamentos pessoais e profissionais aliados a perseverança, propósito e confiança".

João Renato Côrtes de Barros Silveira Filho - assessor da diretoria, nas empresas LAFE e ProEcho.

"Tem uma frase que nosso pai sempre nos diz: 'O proibido é não tentar'. Aprendemos a tentar!"

Tatiana Chami, Leandro Chami e Nicolas Chami, filhos do empresário José Carlos Chami, do Praia Ipanema Hotel.

“Um dos ensinamentos que meu pai me passou foi sempre falar a verdade sempre, doa a quem doer: por mais que as coisas deem certo ou errado, falando a verdade você constrói uma reputação verdadeira”.
CEO da Vezpa Pizzas, Assur Fernandes

"Aprendi a correr atrás dos meus sonhos com ele, que sempre correu atrás dos sonhos dele com humildade, respeito e com muita determinação".

Thiago De Luca, da boutique de peixes Porto Frescatto, no Leblon

“O meu pai me ensinou a ter foco, disciplina, tolerância, persistência, lealdade, caráter e cumprir a palavra, ter honra, sempre falar olho no olho, na busca dos meus objetivos!"

Paulo Parente Marques Mendes, advogado, sócio diretor do escritório Di Blasi, Parente & Associados.

"Sucesso, não apenas o profissional, mas também para todos os outros campos das nossas vidas, depende de muita dedicação, perseverança, caráter firme, honestidade e, principalmente, muito respeito".

Helio Magarinos Torres Filho, diretor do Richet Medicina & Diagnóstico, filho de Helio Magarinos Torres, fundador do laboratório Richet.

“Aprendi muitas coisas com meu pai, coisas que mesmo na sua ausência percebo como conteúdo atual. O aprendizado de que temos que nos adaptar a situações de altos e baixos em todos os momentos de nossa vida, pois nunca haverá felicidade ininterrupta, afinal não estamos a passeio no mundo".

Sérvulo Mendonça, CEO e Fundador do Grupo Insigne.

“Ele dizia uma frase que me marcou muito: o dinheiro abre muitas portas, mas somente a educação e a humildade abrem todas.

Pedro Salomão, CEO da Radio Ibiza.