Pódio com Schumi, "quase título" e mola: dias marcantes de Massa na F1

Após 14 anos na F1, Felipe Massa anunciou que encerrará a carreira na categoria em novembro (Foto: Getty Images)

A data para o adeus à Fórmula 1 está marcada: 27 de novembro de 2016. Quando terminar sua participação no GP de Abu Dhabi deste ano, Felipe Massa colocará um ponto final em 14 anos de carreira na maior categoria do automobilismo mundial. Período em que o paulista de 35 anos viveu intensas emoções. Como a saborosa dobradinha com o heptacampeão Michael Schumacher no lendário circuito de Indianápolis em 2006. Ou a dolorida perda do título mundial por um ponto após vencer dentro de casa em 2008. Houve ainda o grave acidente com a mola, que colocou em risco sua vida em 2009. Relembre esses e outros momentos marcantes da carreira de Massa.

Após abandonar na estreia, Massa colocou a Sauber na zona de pontuação na 2ª corrida (Foto: Getty Images)

Em suas duas primeiras corridas na Fórmula 1, Felipe Massa experimentou um pouco do que seria a gangorra de suas 14 temporadas. Na estreia, um resultado frustrante. Após boa qualificação e nono lugar no grid de largada do GP da Austrália de 2002, se envolveu em um acidente de oito carros na primeira volta e teve que abandonar. Duas semanas depois, o sentimento oposto. Mesmo sem largar tão na frente (14º), fez ótima prova no GP da Malásia, terminou na sexta colocação e, aos 20 anos, se tornou o mais jovem brasileiro a figurar entre os seis primeiros em uma corrida da categoria.

Aposta da Ferrari para substituir Michael Schumacher, que planejava aposentadoria para o fim de 2006, Felipe Massa se tornou piloto titular da escuderia italiana justamente naquele ano. O brasileiro teve uma temporada ano para conviver e aprender o máximo possível com o mito alemão. A relação deu certo desde as primeiras corridas. Schumi "adotou" o jovem brasileiro, a quem se referiu inúmeras vezes como "irmão mais novo". 

Massa e Schumacher se divertem no pódio na única dobradinha da dupla, nos EUA, em 2006 (Foto: Getty Images)

Logo na primeira prova como companheiros de equipe, 1º e 2º lugares no treino qualificatório para o GP do Bahrein. A primeira vez juntos no pódio veio quatro etapas depois, no GP da Europa, em Nurburgring, na Alemanha: Schumacher em primeiro e Massa em terceiro. Não tardou para chegar a primeira dobradinha, no GP dos Estados Unidos, no lendário autódromo de Indianápolis, em prova vencida pelo alemão e que teve o brasileiro em segundo lugar. Algumas corridas depois foi a vez de Massa vencer pela primeira vez na F1, na Turquia, e ter o heptacampeão ao seu lado, no terceiro lugar do pódio.

Outro momento inesquecível de Massa na F1, sem dúvidas, foi a sua primeira vitória em Interlagos, no GP do Brasil de 2006. Vestindo um macacão verde e amarelo - rara concessão da Ferrari -, o brasileiro dominou a corrida de ponta a ponta e levou as arquibancadas ao delírio ao encerrar o jejum de 13 anos sem pilotos do país no topo em casa. A última vez tinha sido com Ayrton Senna, em 1993.

Felipe Massa na vitória no GP do Brasil de 2006, com macacão da Ferrari em verde e amarelo (Foto: Getty Images)

Ferrari libera Massa equivocadamente, antes de mecânico retirar mangueira (Foto: Getty Images)

Em 2008, Felipe Massa viveu seu auge na Fórmula 1. Em ótima fase, o piloto brasileiro travou acirrado duelo com Lewis Hamilton pelo título da temporada. Chegou à 15ª etapa, no estreante GP noturno de Cingapura, com tudo para vencer e reassumir a ponta da classificação. Largando na pole, liderou até a 14ª volta, quando Nelsinho Piquet bateu com sua Renault, mudando completamente os rumos da prova. O polêmico acidente, posteriormente admitido por Nelsinho ter sido provocado intencionalmente, acabou mudando o destino de Massa na briga pelo título.

Ao parar nos boxes para se aproveitar da bandeira amarela, o brasileiro viu a Ferrari errar e liberar seu carro ainda com a mangueira de combustíveis presa, em um dos pit stops mais atrapalhados das últimas décadas. Massa acabou fora da zona de pontos e ainda teve que acompanhar de longe o rival Hamilton subir ao pódio.

Apesar do revés em Cingapura, Massa se manteve na briga pelo título de 2008 até a última etapa. Chegou ao GP do Brasil precisando vencer e torcer para o inglês não ir além do sexto lugar para se sagrar campeão. Embalado pela torcida que, mais uma vez, lotou Interlagos, Felipe fez sua parte. Cravou a pole, dominou a prova e recebeu a bandeirada em primeiro. Até este momento, Hamilton aparecia justamente na sexta posição, para delírio das arquibancadas e da família Massa nos boxes da Ferrari. A torcida brasileira voltaria a ver um piloto do país a ser campeão da F1 após 15 anos, desde Ayrton Senna em 1991. Porém, na última curva, o britânico ultrapassou Timo Glock, garantiu o quinto lugar e estragou a festa brasileira, levando o título por um mísero ponto de diferença em uma das decisões de título mais emocionantes da história da F1.

Felipe Massa no alto do pódio do GP do Brasil, enquanto Lewis Hamilton comemora título (2008) (Foto: AFP)

Em 2009, com as mudanças no regulamento, Massa e a Ferrari não conseguiram manter a competitividade do ano anterior. A temporada, que já vinha sendo difícil para o brasileiro, quase se tornou trágica no GP da Hungria. Durante o treino classificatório, Felipe foi atingido em cheio no capacete por uma mola que se desprendeu justamente do carro de Rubens Barrichello, seu grande amigo fora das pistas. Desacordado, passou reto e ainda bateu a 280 km/h de frente no guard rail.

Em 2009, Massa quase perdeu a vida ao ser atingido por uma mola no capacete (Foto: Agência EFE)

O acidente quase tirou a vida de Massa. Com fratura na testa e concussão cerebral, o piloto ficou onze dias internado e precisou passar por duas cirurgias: uma para a retirada de fragmentos ósseos e a outra, plástica. A recuperação foi longa e Felipe ficou fora do restante da temporada.

Em 2010, Massa teve que dar passagem a Alonso em polêmico pedido da Ferrari (Foto: Getty Images)

Quando voltou em 2010, Felipe Massa passou a ter que dividir atenções na Ferrari com o bicampeão Fernando Alonso. A briga para definir quem seria o primeiro piloto começou acirrada, mas, pouco a pouco, o espanhol começou a mostrar melhores resultados e ganhar a preferência. O que ficou sacramentado durante o GP da Alemanha.

Fazia exatamente um ano do grave acidente com a mola. Após uma bela largada, na qual superou Vettel e Alonso, Massa caminhava para uma vitória com sabor de superação. Porém, a Ferrari ordenou uma troca de posições para favorecer o espanhol, que ainda alimentava chances de título. Pelo rádio, o engenheiro disse a frase que ficou marcada: “Fernando está mais rápido que você. Pode confirmar que entendeu a mensagem?”. Felipe relutou. Não respondeu o engenheiro pelo rádio. Porém, mesmo contrariado, obedeceu. Reduziu e cedeu a vitória a Alonso.

O casamento de oito anos com a Ferrari terminou em 2013. No ano seguinte, Massa iniciou a última fase de sua carreira na F1, pilotando a tradicional Williams. Na equipe inglesa, o brasileiro retomou as boas atuações. Diante da soberania da Mercedes, porém, não conseguiu voltar a vencer. Por outro lado, alcançou um feito expressivo. No GP da Áustria de 2014, desbancou as quase imbatíveis Mercedes no treino classificatório e conquistou uma surpreendente pole position - a única de um piloto de fora da equipe alemã na temporada. Foi a primeira pole de Massa desde aquele o GP do Brasil de 2008. Na corrida, Massa não conseguiu segurar a ponta e terminou apenas na quarta colocação. Desde então, o brasileiro foi outras cinco vezes ao pódio com a Williams.

Em 2014, Felipe Massa desbancou as Mercedes e conquistou sua última pole até o momento (Foto: Getty Images)