Por Ana Carolina Moreno, G1


Uma análise das médias das escolas nas quatro provas objetivas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015 mostra que a diferença de financiamento direto na escola também reflete o desempenho médio dos estudantes. A comparação entre as mil escolas com as maiores médias na nota do Enem e as mil escolas com as médias mais baixas revela que, no primeiro grupo, 951 escolas são privadas, e as demais são colégios públicos de regime e orçamento diferenciados, incluindo a prática, em alguns casos, de vestibulinho para selecionar novos alunos.

Essa é a concentração mais alta de escolas privadas entre as melhores do país em pelo menos três anos. No Enem 2014, entre as mil melhores escolas, 93 eram públicas. No Enem 2013, 78 das mil melhores escolas eram da rede pública.

Clique aqui para baixar o arquivo com as notas de todas as escolas brasileiras.

Já no segundo grupo, que reúne as mil escolas com as menores médias, só 15 – ou 1,5% do total – são escolas particulares. Há apenas uma Etec (escola técnica da rede estadual paulista), localizada em uma zona rural. Além dela, 980 escolas são estaduais, e quatro são municipais.

As notas do Enem 2015 de 14.998 escolas foram divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na manhã desta terça-feira (4).

Compare o tipo de administração das mil escolas com as maiores médias e das mil escolas com as menores médias do Enem 2015 — Foto: Arte/G1

A comparação foi feita tomando como base a média aritmética das notas das escolas nas quatro provas objetivas do Enem 2015 – nesse caso, a prova de redação, que utiliza uma metodologia diferente, ficou de fora do cálculo. A partir deste resultado, o G1 analisou as características das mil escolas com as médias mais altas e das mil escolas com as menores médias.

Para evitar que escolas com realidades muito diferentes sejam comparadas apenas pela nota do Enem, o governo federal divulga anualmente as notas acompanhadas de diversos indicadores que possam traçar um contexto mais aprofundado da realidade de cada escola. Além do tipo de administração das escolas com as maiores e menores notas, os dois grupos comparados apresentam outras semelhanças entre si que os separam um do outro.

Nível socioeconômico: O nível socioeconômico de uma escola é definido pelo Inep de acordo com o padrão de vida das famílias dos alunos matriculados nela. Os indicadores incluídos nesse cálculo são a escolaridade dos pais, a posse de bem e a contratação de servidores pelas famílias dos estudantes. O nível socioeconômico é dividido nas categorias muito alto, alto, médio alto, médio, médio baixo, baixo e muito baixo. Considerando este indicador, é possível notar que o padrão de vida dos alunos não é garantia de que a escola tenha sempre os melhores desempenhos: na lista de mil escolas com as menores médias, 39 são de nível socioeconômico médio alto, 186 são de nível médio, e 364 têm nível médio baixo. Outras 350 escolas têm nível baixo, e 40 são de nível muito baixo (21 escolas não tiveram esse indicador divulgado).

Porém, a falta de relação não se repete no outro extremo: no grupo das mil escolas brasileiras com as médias mais altas no Enem 2015, 786 escolas (ou 78,6% do total) têm alunos com o mais alto padrão de vida brasileiro. Outras 149 escolas têm padrão alto, 7 escolas têm padrão médio alto e só duas escolas são de padrão médio (56 escolas não tiveram essa informação divulgada).

Escolas com média mais alta no Enem 2015 têm, em sua maioria, alunos com padrão de vida mais alto — Foto: Arte/G1

Formação de professores: De acordo com o governo federal, a quantidade de professores que possui o diploma de licenciatura na área em que leciona é um importante indicador de avaliação das escolas. A comparação entre as mil maiores as mil menores médias do Enem 2015 mostra que o melhor desempenho dos estudantes coincide com a melhor formação dos professores. No primeiro grupo, das médias mais altas, a média de professores com a formação adequada, sobre o total de docentes, é de 70,58%. Já no grupo das médias mais baixas, esse indicador cai para 47,92%.

Porte da escola: No grupo das maiores médias, o porte das escolas é, na maioria dos casos, muito pequeno: 28,7% das escolas tinham, em 2015, até 30 alunos matriculados no último ano do ensino médio, e 26,5% tinham mais de 90 alunos concluintes. Já entre as mil escolas com as menores médias, em 18,1% delas havia até 30 alunos concluintes do ensino médio matriculados; 39% das escolas tinham mais de 90 alunos.

Indicador de permanência: O MEC divulga anualmente um índice que mostra quantos alunos, do total de formandos da escola que participaram do Enem, cursaram todo o ensino médio naquela mesma escola. Isso ajuda a entender, por exemplo, se a escola opta por atrair, no último ano, alunos com bom desempenho para ajudar a aumentar sua média – nesse caso, o aprendizado desse estudante não deve ser totalmente atribuído àquela escola.

Apesar de não ser possível determinar quais escolas seguem essa prática, o indicador aponta que, entre as mil escolas com as maiores médias, em 9,8% delas menos de 40% dos participantes do Enem fizeram todo o ensino médio matriculados lá. Já no caso das mil escolas com as menores médias, esse índice cai para 2,1% dos colégios.

Zona urbana x zona rural: O Inep também divulga informações sobre a localização das escolas – se estão em área urbana ou rural. Em geral, as escolas rurais são pequenas e, em certos casos, têm tão poucos alunos que estudantes de vários anos são reunidos em classes multisseriadas. Por isso, entre as 14.998 escolas que tiveram a nota do Enem divulgada, apenas 454 estão na zona rural. Dessas, só uma conseguiu entrar na lista das mil melhores escolas, segundo a média das provas objetivas do Enem 2015: trata-se de uma escola pública vinculada a uma universidade federal em Minas Gerais.

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