Economia Petróleo e energia

Petrobras fará novas licitações de plataformas

Indústria nacional só ficará com empreendimentos se tiver competitividade
Parcerias. Solange Guedes diz que estatal busca sócios para elevar produção de Roncador, Marlim e Albacora na Bacia de Campos Foto: Agência O Globo
Parcerias. Solange Guedes diz que estatal busca sócios para elevar produção de Roncador, Marlim e Albacora na Bacia de Campos Foto: Agência O Globo

RIO — No comando da área mais importante da Petrobras, a de Exploração e Produção, Solange Guedes dá um largo sorriso ao lembrar do início de sua carreira na estatal, quando trabalhava embarcada na Bacia de Campos, há 30 anos. “Tenho orgulho imenso do macacão”, diz. Hoje, pretende buscar parceiros para elevar a produção desses campos, como Roncador, Marlim Sul, Albacora Leste, Marlim e Albacora, no pós-sal. Na mesma semana em que a estatal anunciou seu Plano de Negócios 2017-2021, com corte de 25% nos investimentos, Solange antecipa que a estatal fará licitações a partir de 2017 para construção de seis plataformas. O investimento na cadeia de óleo e gás supera US$ 6 bilhões. Depois de pedir redução do conteúdo local para a plataforma de Libra, a estatal não descarta fazer o mesmo para outras unidades.

Como está o cronograma de construção das novas plataformas?

As 11 plataformas previstas para entrar em operação até 2019 estão com bastante avanço físico. Daí para frente não estão contratadas.

E as unidades que ainda não foram contratadas? Quantas são?

Entre 2020 e 2021, são oito unidades. Dessas, duas já estão no mercado, em processo de licitação, que deve ser concluído no ano que vem. É uma unidade para o Campo de Sépia e outra para o piloto de Libra, ambas no pré-sal da Bacia de Santos. Se a Petrobras está indo agora ao mercado para contratar essas duas que vão entrar em 2020, em breve a Petrobras vai ao mercado contratar mais outras duas previstas para 2020. Essa contratação será ao longo de 2017. Aí, bota mais um ano para as outras quatro, para entrar em operação em 2021. Os tempos de construção são quase os mesmos. Vamos contratar quase o equivalente ao que está hoje em construção.

As seis licitações podem movimentar quanto na cadeia de óleo e gás?

Considerando o conteúdo local competitivo, cerca de US$ 1 bilhão cada.

Nas duas licitações em andamento, como está a questão do conteúdo local?

Na que se destina ao piloto de Libra, a Petrobras solicitou à Agência Nacional do Petróleo (ANP) a redução do percentual de conteúdo local por considerar os preços apresentados altos demais.

Para Sépia pode haver esse pedido?

Pode, mas ainda estamos analisando.

Para as demais plataformas deve ser necessário reduzir o conteúdo local?

Se os assuntos ligados às empresas (fornecedoras) se resolverem no Brasil, eventualmente elas estariam aptas e prontas a receber obras. Tem que ser um conteúdo local competitivo que viabilize os projetos, com preços e prazos. Porque se não for isso, os projetos não entram em produção, e a Petrobras precisa entregar sua curva de produção. As contratações serão feitas com conteúdo local factível, competitivo e que viabilize a produção segundo o cronograma da Petrobras e de seus sócios.

Em que casos a ANP pode aprovar o pleito da Petrobras de reduzir o conteúdo local de plataformas?

Se ficar demonstrado que realmente não houve condições competitivas de fazer o conteúdo local, você pode demonstrar cabalmente isso à agência, que vai avaliar o pleito. É o que está previsto.

Por que o mercado não avalia a meta de produção de 2,77 milhões de barris diários em 2021 realista?

A meta de produção é realista ao manter praticamente o mesmo valor do outro plano. O que mudou foi a trajetória. Houve atraso de algumas plataformas. No plano de 2014-2018, as plataformas da cessão onerosa (acordo com a União que permite a produção de 5 bilhões de barris) começariam a produzir em 2016. Agora, foram para 2018. Fizemos os poços na esperança de que as plataformas chegassem. Atrasou, mas os poços estão prontos. A cessão onerosa começa a produzir em 2018 sem necessidade de grandes investimentos. Há desinvestimentos em Exploração e Produção. Tem o projeto Topázio, com os ativos terrestres. Tem o projeto Ártico, de águas rasas. E tiramos isso do ano de 2017. Mas, no longo prazo, a curva tem o mesmo alvo que tinha no plano anterior.

Como a empresa vai buscar sócios para as áreas da Bacia de Campos?

Devemos buscar opções estratégicas para fazer mais, aumentar o potencial de produção da área como um todo. São campos como Roncador, Marlim Sul, Albacora Leste, Marlim e Albacora. Campos gigantes que vão produzir por muitos anos. Posso vender uma parte de equity (participação). Posso me associar a uma empresa de serviços que pode entregar uma solução que nunca pensei. Por exemplo, você tem uma empresa que trabalha com recuperação avançada de petróleo, com técnicas, equipamentos e capital. Ela pode vir, apresentar um projeto, aplicá-lo e recuperar o investimento com a produção incremental. E a gente vai ressarcindo a empresa com aquele valor incremental. Estamos conversando com operadores e prestadores de serviços.

Como está a Bacia de Santos dentro do programa de parcerias?

Temos mais de 200 poços perfurados no pré-sal. Temos interesse em desenvolver e buscar oportunidades. Vamos fazer isso, mas depois que a gente tiver se fortalecido. Carcará ia entregar seu potencial em 2025. Se fizéssemos alocação de investimento para esse ativo, deixaríamos de terminar os projetos de Lula e Sapinhoá, que têm fluxo de caixa mais cedo. Quanto mais rápido sanearmos a companhia, melhores serão as alocações de investimento. Quando nossa dívida chegar a 2,5 vezes a geração de caixa, começamos a entrar numa zona de conforto, que nos permite tomar decisões de aumentar projetos no pré-sal e em outros ativos.

Vocês estão buscando parceiros para outras áreas do pré-sal?

Não estamos objetivamente buscando parceiros, mas não estamos fechados a avaliações de parcerias.

A Petrobras buscará parcerias para os campos de águas profundas no litoral de Sergipe/Alagoas?

É bom fazer uma gestão de risco trazendo parceiros.

Como funcionária de carreira da Petrobras, como avalia a Lava-Jato?

Ficamos muito tristes com aquelas evidências que foram apresentadas e que aquilo era real e estava acontecendo. Quanto a ser diretora ou outro cargo na companhia, para mim é tudo a mesma coisa. É o senso de responsabilidade que sempre tive com a companhia. Estamos aqui de forma muito empenhada e dedicada em recuperar a companhia. É nossa obrigação. Somos obrigados a estar prontos para atuar, contribuir e resgatar a companhia. É nossa missão.