Rio

Mau tempo interdita Ciclovia Tim Maia, mas sinalização não funciona

Trecho entre Barra e São Conrado, aberto em setembro, foi fechado após aviso de ressaca
Sinalização eletrônica na Ciclovia Tim Maia não funciona; trecho que liga São Conrado à Barra foi interditado por causa do mau tempo Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Sinalização eletrônica na Ciclovia Tim Maia não funciona; trecho que liga São Conrado à Barra foi interditado por causa do mau tempo Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO — O mau tempo e a possibilidade de ressacas interditaram o trecho da Ciclovia Tim Maia, inaugurada no dia 3 de setembro, entre São Conrado e Barra da Tijuca por volta das 11h20m deste domingo. Porém, a sinalização eletrônica que indica se o local está aberto ou interditado não estava funcionando. Um pouco antes, houve registros de chuva moderada nas regiões da Barra, Vidigal, Rocinha e São Conrado. Procurada, a Defesa Civil informou que técnicos da CET-Rio foram ao local fazer o reparo e que, à noite, o sinal já estaria fucionando normalmente.

A Marinha do Brasil emitiu aviso de ressaca válido das 9h deste domingo às 21h de segunda-feira. Segundo o informe, as ondas na orla do Rio podem chegar a 2,5 metros de altura. A prefeitura recomenda que a população não permaneça em mirantes na orla ou em locais próximos ao mar durante o período de ressaca.

No dia 21 de abril deste ano, um trecho de cerca de 20 metros desabou e deixou duas pessoas mortas: o engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, e o gari comunitário Ronaldo Severino da Silva, de 60. O desabamento ocorreu pouco mais de três meses após a inauguração da ciclovia. O trecho onde ocorreu o acidente permanece fechado, sem previsão de reabertura. A juíza da 9ª Vara de Fazenda Pública, Cristiana Aparecida de Souza Santos, determinou que isso só aconteça depois de perícia do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ) ou do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), atestando total segurança para a população transitar. A decisão foi tomada a partir de um pedido do promotor Bruno Bezerra, do Ministério Público estadual.

Em junho, a Polícia Civil indiciou 14 pessoas pelo acidente. Eles estão respondendo por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). No inquérito, presidido pelo delegado José Alberto Lage, titular da 15 ª DP (Gávea), foram responsabilizados sete funcionários da Geo-Rio, empresa da prefeitura responsável pela contratação da obra e pela fiscalização (Fábio Lessa Ribeiro, Juliano de Lima, Geraldo Batista Filho, Marcus Bergman, Elcio Romão Ribeiro, Ernesto Ribeiro Mejido e Fabio Soares Lima); cinco do consórcio Contemat-Concrejato, que construiu a ciclovia (Ioanis Saniveros Neto, Marcelo José Ferreira de Carvalho, Jorge Alberto Schnneider, Fabrício Rocha Souza, Nei Araújo Lima); um responsável técnico da Engemolde (Claudio Gomes Castilho Ribeiro), empresa que participou da construção; e o coordenador técnico da Subsecretaria municipal de Defesa Civil, Luís André Moreira Alves, pela falta de um plano de contingência para interditar a ciclovia em caso de ressaca.

De acordo com a investigação, “verificou-se que não foi cogitada a incidência de ondas nos tabuleiros da ciclovia, não tendo havido uma reunião para o estudo desta incidência". Ainda segundo o inquérito, a “solução construtiva revelou-se frágil na fixação dos tabuleiros".

“As provas analisadas destacam a inobservância do dever de cuidado dos envolvidos na realização dos projetos básico, executor e fiscalizador. A negligência dos envolvidos nas mortes ficou caracterizada porque não previram o que era previsível — culpa consciente —, isto é, que ondas raras pudessem produzir jatos de reflexão e atingir o tabuleiro da ciclovia. Conclui-se então que a imprudência dos envolvidos foi a causa da morte das duas vítimas" diz um trecho do relatório. E conclui: “A morte das duas vítimas é um desdobramento causal atribuível à conduta imprudente e negligente dos indiciados".

INTERDIÇÃO NÃO É RESPEITADA

Apesar da interdição, grupos de bicicleta desafiam o perigo atravessando a Ciclovia Tim Maia. As placas informando sobre a interdição são ignoradas, e as faixas da Defesa Civil estão rasgadas. Os blocos de concreto instalados para impedir a passagem foram derrubados ou empurrados para o canto da pista, abrindo passagem para bicicletas e pedestres. Ontem, apesar da chuva forte, uma equipe do GLOBO flagrou, em apenas dez minutos, mais de 20 ciclistas passando no trecho entre o motel Vip’s e o Vidigal.

Questionada sobre a fiscalização na ciclovia, a Secretaria municipal de Obras informou que a “Guarda Municipal prossegue monitorando a ciclovia”. A pasta confirmou que “foi detectada a derrubada de barreira" e diz que “reforçará a fiscalização neste ponto até que a mesma seja recolocada".

A Guarda Municipal alegou que tem atuado no monitoramento dos acessos à ciclovia desde a interdição da área. Em nota, informou que são feitas rondas na região, principalmente motorizadas, e que os agentes tentam impedir o acesso quando encontram pessoas nos trechos interditados. Segundo a nota, o patrulhamento será intensificado.