Política Eleições 2016

Eleitores cariocas seguem padrões para escolher seus candidatos

Perfil socioeconômico e dados de eleições anteriores indicam perfis de votos pelo Rio
Eleitores cariocas seguem padrões na hora de votar Foto: Editoria de Arte
Eleitores cariocas seguem padrões na hora de votar Foto: Editoria de Arte

RIO — Independentemente da disputa acirrada nas pesquisas de intenção de voto, as urnas do Rio não costumam guardar muitas surpresas. A julgar pelas eleições municipais anteriores, a cidade reproduz padrões de votos que tendem ser definidos mais de acordo com o perfil dos eleitores do que dos próprios candidatos. A concentração de evangélicos na Zona Oeste ou de militantes engajados em Santa Teresa condiciona, por exemplo, o sucesso ou o insucesso do candidato naquelas regiões. Resta saber quais perfis de eleitores vão prevalecer este ano.

INFOGRÁFICO: VEJA ONDE ESTÃO SE LOCALIZAM OS DIFERENTES PERFIS

Os 4.898.045 eleitores da cidade estão distribuídos por 11.803 seções, que são reunidas, por sua vez, em 1.498 zonas. Dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) mostram que Campo Grande, Bangu e Santa Cruz são os maiores colégios eleitorais, somando cerca de 650 mil pessoas aptas a votar. No outro extremo do município, Tijuca e Copacabana reúnem, juntas, 310 mil. No Rio, a geografia diz muito sobre o voto.

Foi o que constatou o professor Cesar Romero Jacob, da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Ele estuda o comportamento dos eleitores cariocas desde o pleito de 1992, e cruza as informações com dados socioeconômicos. Os mapas mostram, por exemplo, que os votos obtidos pelos candidatos evangélicos estão concentrados nas mesmas áreas da cidade que reúnem os maiores aglomerados de fiéis.

“IRMÃOS VOTAM EM IRMÃOS”

Dados compilados por Romero com base no Censo de 2010 apontam a presença de evangélicos na metade norte do município. Fiéis da Assembleia de Deus se espalham pela Zona Oeste, enquanto os da Igreja Universal tendem a se concentrar nas zonas da Leopoldina e da Central. Grandes comunidades também reúnem religiosos de matriz pentecostal. E todos eles costumam destinar seus votos aos candidatos das igrejas.

— Seja a irmã Benedita (da Silva) em 2000, seja o (Marcelo) Crivella em 2004, os mapas são semelhantes. É um voto por identificação com uma filiação religiosa, mais do que propriamente um voto na política, pela plataforma. Mesmo que o candidato não faça sua campanha voltada para esse eleitorado. O que acontece é que os irmãos votam nos irmãos. Isso vai acontecer também com Rosinha, Garotinho e Marina (Silva, em 2010). Têm o mesmo padrão. É uma identificação com o irmão que é evangélico — explica Romero.

Os resultados das urnas revelam que a cidade divide sua preferência em duas áreas. De 1992 a 2004, os eleitos para a prefeitura tiveram altas concentrações de votos na metade sul, que vai da orla até a Grande Tijuca. A partir de 2006, com a eleição de Sérgio Cabral ao governo estadual, os vencedores foram soberanos na metade norte.

— Nessa metade norte, a renda é mais baixa, a escolaridade é mais baixa e os serviços públicos são piores. Aí você vai ter um voto de máquina, de clientela. Nas áreas onde a escolaridade e a renda são mais altas e os serviços públicos funcionam melhor, as pessoas dependem menos, digamos assim, da máquina dos políticos populistas. É onde está presente a opinião pública, o voto de opinião — analisa Romero, que atribui a mudança no padrão do resultado à aliança entre Cabral e o ex-presidente Lula. — Será interessante ver se essa área de menor escolaridade e renda vai prevalecer ou não este ano.

VOTO NA ESQUERDA DIVIDE A ZONA SUL

O pesquisador e cientista político da UFRJ Paulo Baía adiciona um outro fator. Houve uma explosão demográfica na metade norte, diz ele:

— A Zona Oeste cresceu, e ela pesa demograficamente mais que a Zona Sul. O eleitor de lá é muito mais sensível ao que o poder público faz do que o da Zona Sul.

O número de evangélicos também cresceu. Em dez anos, chegou a 23,3% da população carioca. Baía alerta que as pesquisas mais recentes mostram que Marcelo Crivella (PRB), ligado à Igreja Universal, tem percentual de intenções de votos maior que o tamanho da população de evangélicos. O Datafolha apontou 31% para Crivella na última quinta-feira, com margem de três pontos para mais ou para menos.

— É evidente que têm peso, sobretudo, os evangélicos muito atuantes na sua religiosidade. Eles têm seu perfil de candidato definido. Cada igreja tem um candidato a vereador e a prefeito. É diferente da Igreja Católica, que apoia um programa, e os candidatos que concordam com esse conjunto de ideias tendem a levar esse voto. É o que o Crivella busca ao se encontrar com Dom Orani — diz Baía, referindo-se ao cardeal arcebispo do Rio, que também recebeu os demais candidatos.

Apesar do avanço evangélico, a Zona Sul continua sendo reduto dos católicos. Isso não significa, no entanto, que a região seja homogênea. O comportamento do eleitorado ali tem características específicas. De um lado, bairros como Ipanema, Leblon, Lagoa e Jardim Botânico têm os mais altos índices de escolaridade e renda do município, assim como a Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Desde 2006, os candidatos que têm votação mais expressiva nessa região não vencem as eleições municipais — à exceção de Eduardo Paes, em 2012.

De outro lado, bairros como Flamengo, Laranjeiras, Botafogo e Santa Teresa têm altos indicadores de escolaridade, mas possuem menor renda que os vizinhos. A Tijuca segue o mesmo padrão socioeconômico — e apresenta escolhas semelhantes nas urnas. Romero chama atenção para o fato de esses bairros concentrarem a maior parte dos votos de esquerda nas eleições anteriores no Rio.

Em 2004, Jandira Feghali, pelo PCdoB, e Jorge Bittar, pelo PT, tiveram seus melhores desempenhos nesse conjunto de bairros do Flamengo à Tijuca. Porém, dividiram o eleitorado: ela teve 6,9% dos votos naquela eleição; ele, 6,3%. Em 1996, a região também deu os maiores percentuais a Chico Alencar, candidato do PT. Embora não tenha sido analisado por Romero, o pleito de 2012 seguiu esse padrão. A única zona em que Eduardo Paes perdeu foi a de Laranjeiras, que deu a maior parte de seus votos a Marcelo Freixo, candidato do PSOL

Os mapas mostram, ainda, perfis muito específicos no Rio. Em Copacabana e na Tijuca predominam mulheres, aposentados e pensionistas. Esses bairros têm um nível de escolaridade alto, porém menor que dos vizinhos da Zona Sul. Os dados socioeconômicos indicam uma concentração de viúvas. Romero explica que essas regiões foram ocupadas numa época em que as mulheres, hoje idosas, muitas vezes completavam apenas o Ensino Médio.

CENTRO É CONSIDERADO INCÓGNITA

As vilas militares também se apresentam como nichos socioeconômicos. Seja em Deodoro, em Santa Cruz ou até mesmo na Ilha do Governador, seus indicadores de escolaridade e renda sobressaem em relação ao entorno e se assemelham aos de locais que registram voto de opinião, embora estejam na metade norte do município. Ainda assim, não revelam padrões claros de votos nos mapas eleitorais.

— A Vila Militar vota parecido com Realengo e Bangu. Mas pode ser que alguns militares não tenham títulos eleitorais do Rio — diz Baía.

As preferências dos moradores da região central da cidade também são uma incógnita. Os bairros são heterogêneos, e o eleitorado, difuso.

— Tem que ver como a região vai se comportar após a reconfiguração do Centro. Ela votava muito mais parecido com a região da Leopoldina do que com a Zona Sul — aponta Baía.

Segundo Romero, a série histórica indica que a tendência é o candidato vitorioso não ser do mesmo grupo político do governador. Em oito eleições desde a redemocratização, apenas duas foram vencidas pelo candidato do governador. Em ambas, Eduardo Paes.

— Há um alinhamento de Paes com Pezão e com Michel Temer. Mas o que vai acontecer na política fluminense, a gente não sabe, porque o quadro é confuso. Há uma crise de hegemonia no Rio de Janeiro — diz Romero.

Viu alguma irregularidade na campanha? Fotografou? Fez um vídeo? Mande para o WhatsApp Eleições 2016 do GLOBO: (21) 99999-9114