A camisa, banhada em tradição, impõe respeito por sua
história. Quem a vestiu na noite desta quinta-feira, porém, quis mostrar que o
recomeço pode ser tão forte quanto seu passado. Ao entrar em quadra em busca de
seu 13º título estadual seguido, o Rio de Janeiro carregava o peso do
favoritismo no ginásio do Tijuca. O Fluminense, por sua vez, sonhava com a
glória logo em sua retomada no vôlei, depois de 25 anos longe dos holofotes. O
sonho se fez real em um jogaço. A equipe tricolor mostrou força, bateu o Rio em 3 sets a 2, parciais 25/23, 13/25, 21/25, 25/20 e 16/14, e conquistou o título do Campeonato Carioca.
A vitória tricolor marca o fim de uma supremacia do Rio de
Janeiro no estado – são 13 títulos, 12 em sequência. O Fluminense, por sua vez,
volta ao topo para conquistar o Carioca pela 25ª vez na história.
o jogo
O ginásio do Tijuca nem estava assim tão cheio. Por medidas
de segurança, apenas 600 pessoas puderam assistir à partida da noite de
quinta-feira. Ainda assim, o barulho era ensurdecedor. Impulsionado por sua
torcida organizada, o Fluminense largou na frente em ponto de Renatinha. Ju
Costa, com uma pancada, fez o placar marcar 3 a 1. O Rio melhorou e conseguiu
empatar, depois de ataque de Lara para fora. As tricolores, no entanto,
pareciam mais alertas e chegaram a 9 a 5.
Àquela altura, o Rio tentava se organizar à base da vontade.
Mais experiente do time, Fabi se desdobrava na defesa. Em um dos melhores ralis
da partida, a líbero conseguiu salvar duas bolas improváveis, mas o ponto acabou
nas mãos do Flu. Sassá, recuperada de uma inflamação no joelho esquerdo,
comandava o time tricolor com qualidade no passe e no ataque. Ainda assim, o
Rio foi buscar. Em uma sequência de erros das rivais, a equipe de Bernardinho
conseguiu deixar tudo igual (13 a 13), forçando o pedido de tempo do técnico
Hylmer Dias.
O jogo se manteve equilibrado, mas o Rio conseguiu tomar a
dianteira. Em dois bloqueios seguidos de Gabi sobre Renatinha, a equipe abriu
20 a 18. Hylmer resolveu parar o jogo mais uma vez. Deu certo. No bloqueio de
Sassá sobre Monique, o placar voltou a ficar igual (21 a 21), e foi a vez de
Bernardinho pedir tempo. No embalo da torcida, no entanto, o Flu cresceu e
atropelou na reta final. Em mais um bloqueio de Sassá, fim de papo: 25/23.
Gabi, com uma pancada pelo meio, abriu a contagem. O Rio
voltou melhor. Na tentativa de retomar o rumo, passou a forçar mais o saque e a
chegar com mais força no ataque. Funcionou. Com tranquilidade, abriu 10 a 5, e
Hylmer fez seu primeiro pedido de tempo. Pouco adiantou. Mais segura e sem
errar tanto, a equipe de Bernardinho ampliou a vantagem. No segundo tempo
técnico, as atuais campeãs da Superliga tinham 16/9 no placar.
O Fluminense até se esforçou para tirar a diferença. Tentou
acertar o passe, forçou o saque, mas não adiantou. Soberano àquela altura, o
Rio não deu chances às rivais. No ataque de Drussyla, a vitória no set: 25 a
13.
Ju Costa soltou o braço, e o árbitro viu desvio no bloqueio.
Bernardinho, à beira da quadra, levou as mãos à cabeça e reclamou. Ficou ainda
mais irritado na sequência. Com pontos de Lara e Ju Costa, mais uma vez, o Flu
abriu 3 a 0 no terceiro set. O técnico pediu tempo e, em troca, ouviu as
provocações da torcida tricolor. Mas o Rio acordou. Com mais um ataque de
Drussyla, a equipe chegou ao empate (4 a 4).
O time tricolor, porém, não se abateu. Em uma bela
largadinha, Priscila Heldes fez 8 a 5, deixando o Flu em vantagem na primeira
parada técnica. O Rio voltou a melhorar. Diante das favoritas, a equipe das Laranjeiras
se segurava como dava na liderança do placar. O time de Bernardinho, porém,
conseguiu passar à frente em bola para fora de Ju Costa. Em um fim nervoso,
marcado por reclamações dos dois lados, o Rio fechou a conta em ataque de
Carol: 25/21.
Em busca da sobrevida, o Flu começou implacável. Abriu 4 a 0
e fez Bernardinho logo parar o jogo. O Rio pareceu melhorar, mas logo viu o rival disparar, para o desespero de seu treinador, nada feliz com as marcações da arbitragem. Ju Costa, com dois pontos em sequência, fez o Rio abrir 10 a 3. Bernardinho, mais uma vez, parou a partida.
Na garra de Gabi e Monique, o Rio tentava buscar. O Fluminense, porém, se mantinha firme, com boa vantagem no placar. Apesar da luta do outro lado, Lara mandou a bola ao chão e forçou o tie-break: 25/20.
Ju Costa marcou o primeiro ponto para o Fluminense. A experiência em momentos decisivos, porém, pesou a favor do outro lado em um primeiro momento. O Rio, pelos braços de Gabi, abriu 4 a 1. O Fluminense voltou a reagir e chegou ao empate. Um erro de Renatinha, ao atacar na rede fez o Rio abrir 13 a 11. Mas o time de Bernardinho também errava. Juciely mandou para fora, e o Tricolor voltou a deixar tudo igual. Quando Camila Adão sacou na rede, o Flu chegou ao match point. O título veio em saque de Lara, sem defesa do outro lado: 16/14. As arquibancadas, então, explodiram em gritos e avisos: o Tricolor voltou.