Rio

Ônibus do metrô na superfície rodam com selo de inspeção vencido

Dos 34 veículos alugados pela concessionária Metrô Rio, 31 apresentam irregularidade
Ônibus do Metrô na Superfície que faz a linha entre Botafogo e Gávea: estado diz que atribuição de vistoriar é da Secretaria municipal de Transportes, que, por sua vez, alega que a responsabilidade não é sua Foto: Antonio Scorza
Ônibus do Metrô na Superfície que faz a linha entre Botafogo e Gávea: estado diz que atribuição de vistoriar é da Secretaria municipal de Transportes, que, por sua vez, alega que a responsabilidade não é sua Foto: Antonio Scorza

RIO - Todos os dias, cerca de 20 mil passageiros fazem os trajetos Botafogo-Gávea e Ipanema-Gávea utilizando os ônibus do Metrô na Superfície, serviço de integração operado pelo próprio metrô. Seja para ir ao trabalho, à faculdade ou voltar para casa, a comodidade e a economia proporcionadas pelo sistema atraem cariocas. A situação dos 34 ônibus da frota alugada pela concessionária Metrô Rio, no entanto, deixa a desejar quando o quesito é segurança. A equipe de reportagem do GLOBO apurou que pelo menos 31 destes veículos estão com o selo de vistoria anual, concedido pela prefeitura, vencido: alguns sequer apresentam o visto.

Dos ônibus observados, quinze apresentam o selo holográfico, no para-brisa dianteiro dos veículos, referente ao ano de 2013; dez sequer indicavam a vistoria; quatro foram vistoriados pela última vez em 2012, e apenas dois mostram o selo do ano passado. Há cerca de duas semanas, uma equipe da TV PUC-Rio, de estudantes da universidade, denunciou em um portal na internet a situação de alguns destes ônibus. Passageiros que sempre usaram o serviço de integração agora temem pela segurança nos coletivos.

— A gente imagina que o metrô é o transporte com a maior segurança no Rio. Entretanto, em quatro anos que uso o transporte, até hoje não vi a troca de ônibus ou qualquer tipo de melhoria — afirma a estudante Érica Vieira, que usa o transporte, de Ipanema para a Gávea, há quatro anos, de segunda a sexta-feira, para chegar à faculdade de publicidade.

Emanuele Aurelio entrou na vida acadêmica no ano passado. Desde então, ela usa os ônibus do metrô pelo menos oito vezes por semana. A estudante faz o caminho Botafogo-Gávea.

— Eu acho bom o serviço por ser uma extensão do metrô, de só pagar uma passagem normal, sem acréscimos. Não tinha ideia sobre isso. Fiquei surpresa, mas, apesar disso, o metrô mostra uma imagem de segurança. Deveria ter uma pressão dos passageiros para mudar isso. Além de melhorar na organização e na questão da superlotação — comentou.

Os ônibus são alugados de duas empresas pela Metrô Rio: São Silvestre e Vila Isabel. Com 19 estações ao longo de 30 quilômetros e duas linhas, os ônibus fazem a integração gratuita com o metrô. São 20 ônibus na linha Botafogo-Gávea e 14 na Ipanema-Gávea. Quem embarca em um dos terminais pelo caminho paga o valor integral da tarifa: R$4,10.

ÓRGÃOS NÃO SE ENTENDEM SOBRE VISTORIA

De acordo com uma portaria da Secretaria municipal de Transportes publicada em janeiro deste ano, os veículos das empresas que prestam serviço público de passageiros devem comparecer ao posto de vistoria para serem avaliados nos seguintes itens: segurança, conforto e aspectos legais. O calendário de vistoria 2016 é dividido pelo número final da placa de cada veículo e ocorre durante todo o ano.

Enquanto passageiros utilizam o transporte em situação irregular, os órgãos fiscalizadores não chegam a um consenso sobre de quem é a responsabilidade pelos "azulões". A Metrô Rio diz que as empresas que alugam os ônibus devem cuidar da vistoria da frota. A secretaria estadual de Transportes, responsável pelo sistema metroviário — que é uma concessão —, diz que a vistoria dos ônibus é de responsabilidade da prefeitura do Rio, que rebate e, em nota, informa "que as linhas da superfície não fazem parte do Sistema de Transporte Público por Ônibus (SPPO)". No texto, no entanto, a prefeitura informa que a autorização para a circulação é de competência municipal.

A Metrô Rio informou que notifica as empresas sobre a qualidade do serviço periodicamente, e que enquanto a renovação da frota, que está em negociação, não for concluída, os ônibus continuarão nas ruas.

A secretaria municipal de Transportes alega que cabe à prefeitura fiscalizar os itinerários, paradas e tamanho da frota. Sobre os selos vencidos nos para-brisas, argumenta que são resquícios de um antigo licenciamento.

— Há uma confusão no setor de ônibus. Ninguém se compromete com a bagunça. Falta um órgão que centralize e fiscalize tudo — analisa o engenheiro de transporte Paulo César Ribeiro, da Coppe/UFRJ.

(*) Estagiário sob supervisão de Leila Youssef