12/10/2016 06h49 - Atualizado em 12/10/2016 06h49

Especialistas analisam saída de Beltrame da Segurança do RJ

'Capitão está deixando o barco que começa a naufragar', diz Vicente Filho.
Storani: 'Secretaria de Segurança ficou sozinha e sofreu o desgaste natural'.

Do G1 Rio

Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame (Foto: Fernanda Rouvenat / G1)Beltrame pediu para deixar o cargo (Foto: Fernanda Rouvenat / G1)

Especialistas ouvidos pelo G1 comentaram a saída de José Mariano Beltrame da Secretaria Estadual de Segurança (Seseg), anunciada nesta terça-feira (11). Roberto Sá, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da própria Seseg, assume o cargo na segunda-feira (17), com a missão de diminuir a violência crescente nos últimos anos.

“O capitão está deixando o barco que começa a naufragar. A segurança do Rio de Janeiro está entrando em um período crítico longo, de três a cinco anos no mínimo, podendo se estender a até 10 anos”, disse José Vicente Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública e atualmente consultor em segurança.

 

A piora, segundo ele, deve ser sentida em vários pontos da cidade.

“Esse período crítico vai bater mais nas áreas mais carentes, na Baixada Fluminense e Região Metropolitana. Mas há vários pontos da capital que estão passando por dificuldades. Houve um avanço do número de homicídios no último ano no Rio de Janeiro, e os indicadores dos crimes de rua aumentaram bastante também. Eles vão se intensificar daqui para frente”, avaliou.

Segundo ele, Beltrame não conseguiu solidificar um planejamento moderno e concretizar o que ele mesmo pensou. De acordo com o especialista, o governo deve assumir a revisão da estratégia de segurança pública.

“Faltou nesse processo todo o que se chama de grande estratégia: qualificar os policiais, melhorar a integração das polícias, melhorar a qualidade dos equipamentos. No final, para poder enfrentar o desafio que ele mesmo se impôs, de criar 40 UPPs, ele criou um problema que não conseguiu resolver”, disse ele.

UPP ameaçada
Para Rommel Cardozo, presidente do movimento O Rio Pela Paz a saída do secretário representa uma perda de oportunidade para solucionar o problema da violência. Segundo Cardozo, sem Beltrame o projeto UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) está ameaçado.

"Eu lamento muito pela saída do Beltrame. Ao deixar o governo perde-se uma oportunidade muito grande do projeto UPP seguir. E isso acontece em um momento em que o Estado está falido, sem dinheiro para ampliar o programa, que era bom. É uma pena que ele (Beltrame) saia neste momento. Quem assumir a secretaria tem uma responsabilidade muito grande", afirmou Rommel Cardozo.

Secretaria isolada
Especialista em Segurança Pública, Paulo Storani afirma que a escalada da violência a partir de 2012 mostra claramente que o projeto de pacificação de comunidades por meio das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) perdeu fôlego desde seu lançamento, em 2008.

"Devemos entender que o projeto das UPPs e o conceito de pacificação inicialmente produziu indicadores significativos, com a redução desses índices de criminalidade", analisa Storani, ressaltando que o projeto foi importante por destacar o foco em planejamento.

"Quando o estado se debruça sobre o problema e estabelece e implanta uma estratégia, consegue resultados. Beltrame e sua equipe conseguiram isso, contudo a segunda fase do projeto, quando estado e município deveriam entrar com ações sociais nas comunidades pacificadas, não ocorreu. A Secretaria de Segurança ficou sozinha e sofreu o desgaste natural pela falta dessas ações sociais".

Políticos comentam
Em discurso no plenário da Assembleia Legislativa (Alerj), a deputada Martha Rocha (PDT) defendeu a revisão de projeto de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).

"O projeto das UPPs precisa ser revisto, reeditado e entendido (...) Temos de ter a coragem de que algo está errado nesse projeto", disse a parlamentar.

O governador licenciado, Luiz Fernando Pezão, disse ainda que, em novembro, quando voltará ao cargo, deverá ter uma conversa com Beltrame.

“Eu não tive a oportunidade de falar com ele. Se eu tiver a oportunidade, vou pedir para ele que fique até o fim do governo. Agora eu também não posso exigir que uma pessoa que está há 10 anos à frente da segurança pública continue. Eu me preocupo muito, porque ele está cansado (...) Ele respeitou muito a minha doença. Ele falou: ‘Pezão, eu vou esperar você voltar para a gente conversar’. E eu volto em novembro”, afirmou Pezão.

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