Edição do dia 14/10/2016

14/10/2016 22h59 - Atualizado em 15/10/2016 00h33

Açores, com 9 ilhas e quase 2 mil vulcões, brotou no meio do oceano

Arquipélago de Açores é um dos segredos mais bem guardados do Atlântico.
Entre a Europa e as Américas, fica em cima de três placas tectônicas.

A misteriosa dança das brumas revela um mundo quase esquecido. Ilhas ancoradas no azul celeste a 1,6 mil quilômetros do continente europeu. Uma terra onde a água tem sabor e poder de cura. Onde o vinho nasce da lava negra. Montanhas mergulham nos horizontes de mar e um arco-íris de flores borda os caminhos.

Solitários no meio do Atlântico. Guiados pela ousadia e pela coragem. À mercê dos humores do vento. Foi assim que os grandes navegadores descobriram terras como o arquipélado de Açores, um conjunto de ilhas perdido entre a Europa e as Américas. Um dos segredos mais bem guardados do Atlântico.

Antes de tudo era água. Milhões e milhões de anos de mar e apenas mar. Até que um dia os vulcões emergiram das profundezas numa luta violenta entre a água e o fogo.  Foi quando nasceram as filhas da lava. Nove ilhas e quase dois mil vulcões em cima de de três placas tectônicas. Uma terra em movimento, que ora recua engolida pelas forças das águas, ora avança ardente na direção do mar.

A equipe do Globo Repórter pisou no vulcão mais jovem dos Açores. O que se vê é cinza e mais cinza, até parece que se está num outro planeta. E o mais incrível é que a paisagem só tem 59 anos. É um piscar de olhos na linha dos tempos dos vulcões.

Primeiro as águas ferveram no mar, depois a terra tremeu. O vulcão de Capelinhos sacudiu a Ilha do Faial. Foram 450 terremotos numa noite de destruição. Um mês depois da erupção do vulcão, parte de um farol foi coberta pelas cinzas e até hoje um andar inteiro está a cerca de três metros de profundidade.

Em 1958, o vulcão de Capelinhos adormeceu suavemente, deixando como herança uma paisagem cinzenta. Mas, durante um ano, os moradores da ilha testemunharam um fenômeno incrível: a lava e as cinzas que saíram do vulcão aumentaram o tamanho da ilha em 2,4 quilômetros quadrados. Boa parte já foi levada pelo mar, numa luta eterna entre a água e o fogo. Capelinhos desapareceu no fundo do mar, mas, apesar do silêncio, ele continua vivo. 

"Quando o vulcão não tem qualquer tipo de atividade nos últimos 250 mil anos, é considerado extinto. Logo, o vulcão de Capelinhos é apenas uma criança adormecida", explica a geóloga Salomé Meneses.

Açores, com 9 ilhas e quase 2 mil vulcões, brotou no meio do oceano (Grep) (Foto: Globo Repórter)Vulcão de Capelinhos sacudiu a Ilha do Faial, nos Açores, há 59 anos