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Após luto da Rio 2016, Bruno Fratus diz: "Algo deu ridiculamente errado"

Esperança de medalha na Olimpíada em casa, nadador brasileiro se recupera de tristeza pelo sexto lugar nos 50m livre e planeja voltar a nadar os 100m em 2020

Por Rio de Janeiro

A chave já foi virada na cabeça de Bruno Fratus. Os Jogos Olímpicos do Rio e a frustração por não subir ao pódio agora fazem parte do passado. No lugar deles, a esperança de em Tóquio 2020, enfim, conseguir a sonhada medalha olímpica. Antes de começar a planejar o próximo ciclo, no entanto, o nadador brasileiro precisou viver o luto por ter terminado em sexto lugar na final dos 50m livre, com um tempo distante de suas melhores marcas. Superada a fase difícil e descansado fisicamente, o atleta de 27 anos se diz pronto para colocar em prática mudanças necessárias em seu programa de treinamento e, assim, tentar nadar mais rápido.

Uma das esperanças de medalha da natação brasileira na Rio 2016, Fratus ficou distante do pódio nos 50m livre, prova vencida pelo americano Anthony Ervin. Chegou em sexto lugar, com o tempo de 21s79 - acima do que havia feito na quarta colocação em Londres 2012 (21s61) e bem pior do que sua melhor marca pessoal (21s37). O resultado fez o brasileiro, ao lado do técnico Brett Hawke, detectar alguns problemas em sua preparação que, agora, tentará consertar com mudanças estratégicas. Uma delas é mexer em seu programa de provas, voltando a colocar os 100m livre como uma de suas prioridades, junto com os 50m livre.

Bruno Fratus comemora Raia Rápida 2016 (Foto: Satiro Sodré/SS Press)Bruno Fratus comemora vitória do Brasil no Desafio Raia Rápida 2016 (Foto: Satiro Sodré/SS Press)

Confira a seguir uma entrevista do GloboEsporte.com com o destaque da natação brasileira, durante o Desafio Raia Rápida, competição vencida pelo Brasil no último domingo, na despedida do Estádio Aquático da Olimpíada do Rio:

GloboEsporte.com: Como foi sua rotina depois dos Jogos do Rio? O que você quis fazer?
Bruno Fratus:
Depois da Olimpíada, a última coisa que eu tive foi uma rotina. Logo após, comecei a viver um pouco essa ressaca. Quando você está nos Jogos, sua rotina de comer, de nadar, de treino, está bonitinha. No dia seguinte, é como tudo se apagasse, como se apagassem a luz, tirassem tudo da tomada. E eu comecei a passar um pouco por esse processo de virar a página, e até um pouco de luto por não ter conseguido a medalha. É um pouco pesado, é forte, é algo que realmente você tem que lidar para não deixar isso te botar para baixo. Foi um processo de recuperação psicológica, emocional, e também física. 

Como foi esse luto? Você quis ficar isolado?
Cada pessoa passa por isso de forma diferente. A piscina de aquecimento dos Jogos Olímpicos - como todo mundo do meio fala - é o lugar mais cruel do mundo. Saem oito para nadar e só voltam três sorrindo. Os outros cinco voltam devastados. E ficam as equipes esperando. Quando os medalhistas entram, as equipes vão na porta comemorar junto, e os caras vão buscar do mesmo jeito quem não conseguiu medalha. É coisa de família mesmo. Cada pessoa passa por isso de uma forma diferente. A minha forma foi tentar desligar um pouco, não pensar no assunto, no que deu errado, não ficar procurando uma desculpa, mas agora é respirar fundo e entender que passou. Agora temos quatro anos para a próxima. Ano que vem já tem Mundial, então é muito mais um processo de virar a página do que ficar remoendo o que passou.

Bruno Fratus não ficou totalmente satisfeito com o tempo anotado nas semifinais  (Foto: Satiro Sodré / SSPress)Bruno Fratus ficou frustrado com seu desempenho nos Jogos Olímpicos do Rio (Foto: Satiro Sodré / SSPress)

O que você vê olhando para frente?
Olhando sempre para frente. Não somos caranguejos para andar para trás. No próximo ciclo olímpico, só tem um objetivo: nadar mais rápido e mais rápido e mais rápido. Eventualmente e constantemente nadando mais rápido, você vai bater na frente, você vai ser campeão mundial, campeão olímpico. Para mim, 90% dessa decepção é porque, se eu tivesse feito o meu melhor tempo, teria ganho. Se tivesse feito uma média dos tempos que fiz nos últimos três anos, teria ido para o pódio. Só que algo deu ridiculamente e grosseiramente errado nessa temporada. Acabei nadando até mais lento do que em Londres. É difícil assimilar. Eu estava muito tranquilo, estava muito bem, não estava nervoso, até comentei com meu técnico que era muito legal por nadar em casa, era como se tivesse nadando no quintal de casa. O próximo ciclo é evitar que erros como esse se repitam e que eu seja um nadador mais constante. 

Consegue detectar o que você precisa melhorar?
Eu já tenho tudo na minha cabeça. Apesar de eu ter falado que o lance era não pensar, 48 horas depois da prova já tinha tudo na minha cabeça, já tinha destrinchado tudo que tinha acontecido. 

E isso vai se refletir em mudanças no seu programa de treinamento no próximo ciclo?
Com certeza. Mudança no treino, no programa, mudança no jeito que a gente lida com a preparação. Mas a ideia é continuar em Auburn (Estados Unidos) até pelo menos dezembro e, depois, ir planejando temporada a temporada. Eu e o Brett vendo o que a gente pode fazer melhor, qual programa seguir. Mas eu preferia falar quando já estivesse tudo certo. De fato, vão ter mudanças. Uma importante que eu posso antecipar é que estou vindo de volta para nadar os 100m. Os 100m estão de novo na minha área de interesse.

Tem chance de você voltar para o Brasil ano que vem?
Voltar a treinar no Brasil? Hum... não sei (risos). Bom, eu quero continuar lá. Eu confio muito no Brett, gosto muito da cidade, da Universidade, da estrutura de Auburn... Então, as mudanças que eu tenho pensado e planejado são de preparação, de programa de provas, o que competir, talvez nadar os 50m borboleta e os 200m livre, em competição preparatória.