Economia

Na comparação com a periferia, a evolução da capital é menor

Parcela de pobres ficou mais próxima entre a capital e a periferia
Estudo do economista Marcelo Neri mostra que o Rio de Janeiro é extremamente desigual, até mais que o Brasil. Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Estudo do economista Marcelo Neri mostra que o Rio de Janeiro é extremamente desigual, até mais que o Brasil. Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

RIO — O economista Marcelo Neri, em seu estudo sobre a evolução histórica do Grande Rio durante quatro décadas, constatou que a capital fluminense, apesar de estar em patamar de qualidade de vida superior ao dos seus vizinhos, perde na evolução dos indicadores. Com isso, a parcela de pobres ficou mais próxima entre a capital e a periferia. No Rio, são 9,97% de famílias onde a renda domiciliar per capita é de R$ 206 mensais. Nas demais cidades da Região Metropolitana, a taxa alcança 12,9%. Em 1970, o entorno, na média, tinha 40,9% de pobres; o Rio tinha 21,3%.

Mas a renda na capital subiu mais: 182% em 40 anos. No restante da Região Metropolitana, aumentou 151%. Portanto, somente a piora na distribuição de renda explica esse desempenho da capital abaixo do da periferia no combate à pobreza, diz Neri.

De 1970 a 2010, o rendimento dos mais ricos avançou com força no Rio em comparação com o desempenho da periferia. Os ganhos dos 20% no topo da pirâmide aumentaram 15% mais do que os rendimentos daquelas pessoas com a mesma faixa de renda na periferia. Já os 10% mais pobres cariocas ganharam 26% menos que os de renda mais baixa das outras cidades do Grande Rio.

— Na época do Plano Real, a pobreza e a desigualdade caíram, mas foi transitório. O aumento de renda em 40 anos (1970-2010) foi parecido entre capital e demais municípios da Região Metropolitana do Rio, mas com brutal aumento de desigualdade dentro da cidade, o que fez a pobreza cair menos. A marca dos últimos anos não foi a redução da desigualdade. A mudança da capital e a crise das metrópoles nos anos 1990 podem explicar em parte esse comportamento — afirma Neri.

Na comparação com outros municípios da Região Metropolitana, o Rio perde no avanço do saneamento, na renda domiciliar, no acesso à casa própria e ao carro, e na frequência escolar de 5 a 14 anos. A análise dos dados para em 2010. Os avanços no mercado de trabalho e na distribuição de renda dos últimos seis anos não entram no estudo histórico.

— A melhoria nos indicadores foi mais devagar no Rio, em todos os quesitos — afirma Neri.

De acordo com o economista, os jovens do Rio estão mais concentrados nas favelas, que reúnem 23% da população.

— O estuário de jovens cariocas são as favelas, onde a educação é a pior, e que deveriam ser uma torrente de talentos. A partir de 2016, o bônus vira um crescente ônus demográfico, que subtrai a maior de nossas riquezas, cariocas da gema. Depois de descermos do Olimpo, será preciso redescobrir as nossas fontes de talentos, da juventude.

Neri também acredita que é possível atrair cariocas de boa formação que foram embora da cidade com o esvaziamento econômico:

— Podemos aproveitar o delta dos Jogos Olímpicos como fonte de atração de talentos estrangeiros.

INSEGURANÇA NÃO DEVE AFASTAR EMPRESAS

O fato de os dados de segurança pública estarem piorando nos últimos tempos — o número de roubos em rua subiram 41,7% de janeiro a agosto deste ano — não trará consequências rapidamente, de acordo com Manuel Thedim, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets).

— O clima na segurança pública está mudando há algum tempo. Mas isso não tem efeito tão imediato nas decisões das empresas. A violência ajudou a esvaziar o Rio nos anos 1990, mas não foi o mais determinante — afirma o especialista.