Rio

Transporte público mostra que a mobilidade não anda bem no Rio

Intervalos irregulares, calor e desobediência aos pontos de parada são queixas frequentes no transporte da cidade
Passageiros se espremem entre um coletivo e outro para embarcar num ônibus no Centro do Rio: desobediência aos pontos de parada é principal reclamação dos usuários segundo um levantamento da prefeitura Foto: Alexandre Cassiano
Passageiros se espremem entre um coletivo e outro para embarcar num ônibus no Centro do Rio: desobediência aos pontos de parada é principal reclamação dos usuários segundo um levantamento da prefeitura Foto: Alexandre Cassiano

RIO - Elogiados durante a Olimpíada e a Paralimpíada, os transportes públicos do Rio não sobem ao pódio quando são submetidos ao crivo de seus usuários comuns. Reclamações dos passageiros dão um panorama do que são metrô, ônibus, barcas, trens e VLT no mundo real.

Segundo dados do 1746, ouvidoria da prefeitura, no primeiro semestre deste ano foram registradas 17.612 queixas de usuários de ônibus, contra 15.761 no mesmo período do ano passado (aumento de quase 12%).

Já de acordo com a Agência Reguladora de Serviços Públicos de Transportes (Agetransp), no primeiro semestre de 2016 foram 54 as reclamações referentes ao metrô; 73 concernentes às barcas e 234, aos trens. O número caiu em relação ao mesmo período de 2015 (192, 347 e 637 respectivamente), mas as queixas são quase sempre as mesmas e dizem respeito a intervalos irregulares e condições da frota.

IDOSOS RECLAMAM

Entre os passageiros de ônibus, a principal queixa é a desobediência dos motoristas aos pontos de parada. No Rio, não é raro estar num ponto, fazer sinal para um ônibus e ele passar direto. Se o usuário for idoso, o problema é maior.

— Os motoristas não gostam de pegar idosos, costumam ignorar nosso chamado. E, quando reclamamos, alguns falam: “tinha que ser velha mesmo” — relata a técnica em enfermagem Janete Sena, de 68 anos, que tem limitações nos movimentos da perna.

Entre os passageiros que pegam ônibus na Central do Brasil, grande parte das reclamações é em relação à falta de manutenção dos veículos:

— O preço da passagem (R$ 3,80) é muito alto para a qualidade do serviço oferecido. Tem um monte de veículos quebrados, sem bancos, sem lixeiras, principalmente os que vão para bairros da Zona Norte e da Zona Oeste — afirma o pedreiro Vinícius Azevedo, que mora no Méier.

Ranking das reclamações no 1º semestre do ano

Já moradores da Zona Sul reclamam da racionalização das linhas de ônibus pela prefeitura, que extinguiu alguns trajetos e encurtou outros.

— Moro em Ipanema e agora tenho que pegar dois ônibus para me deslocar até o trabalho, na Lapa, o que aumentou muito o meu tempo de deslocamento — diz a professora de educação física Carla Sampaio.

No metrô, as queixas mais frequentes foram falta de refrigeração nos vagões (37%), irregularidade nos intervalos das composições (17%) e problemas durante a operação (10%). Nas estações, usuários reclamam ainda de superlotação nos horários de pico.

— Na hora do rush, o metrô é muito cheio. Outro dia, uma criança quase caiu ao tentar embarcar num vagão lotado — conta a aposentada Creusa Varela, que mora em Copacabana e pega o metrô diariamente.

SEM REFRIGERAÇÃO

Quem costuma usar as barcas se diz insatisfeito com a falta de regularidade nos intervalos das embarcações (56% das reclamações), com problemas operacionais (7%) e com falta de refrigeração (5%). Gente como a advogada Gabriela Weber, que mora em Niterói e trabalha no Rio.

— Como as barcas velhas ainda estão em operação e não têm ar-condicionado, no verão, o trajeto fica muito quente — afirma Gabriela. — Também acho o preço da passagem muito alto para a quantidade de pessoas transportadas e para a qualidade do serviço.

E bastam alguns minutos próximo à bilheteria dos trens na Central para ouvir queixas semelhantes, que coincidem com a principal reclamação de usuários à Agetransp: irregularidade nos intervalos das composições (60%).

— Desde o fim da Paralimpíada, dia sim dia não, o intervalo entre os trens, que costuma ser de 15 minutos, aumenta para meia hora. Por isso, os vagões acabam vindo superlotados, é um horror — afirma a assistente financeira Rafaela Marques, moradora de Campo Grande que trabalha no Centro e pega trem todos os dias.

Inaugurado no dia 5 de junho, o VLT caiu no gosto do carioca, mas não deixa de ter problemas aos olhos dos passageiros. A maior reclamação diz respeito aos terminais de autoatendimento para compra de bilhetes, que não dão troco.

— Acho isso muito ruim. Tinha uma nota de R$ 20 e só precisava de uma passagem, que custa R$ 3,80. Tive que ficar com o restante de crédito. É absurdo obrigar o usuário a gastar mais dinheiro — diz a arquiteta Nara Menezes, que trabalha na Gamboa.

Sua colega Maria Isabel Ferreira engrossa o coro e acrescenta outra demanda já registrada por passageiros através do 1746:

— O VLT deveria ter integração com o metrô. Em São Paulo, onde nasci, o usuário paga R$ 5,92 e pode pegar ônibus, metrô e trem até quatro vezes em um intervalo de três horas.

Em relação à reclamação dos passageiros de ônibus, a prefeitura argumenta que elas representam menos de 1% do total de viagens realizadas no período e que o aumento está influenciado pelo processo de racionalização das linhas de ônibus, realizado entre outubro do ano passado e abril deste ano. Já sobre os problemas no VLT, a prefeitura informou que “a concessionária VLT Carioca tem feito a gestão dessa questão junto à operadora Riocard, responsável pela venda de bilhetes, para a melhoria dos serviços”.

EMPRESA DIZ QUE INVESTIU

A concessionária Metrô Rio afirma que ampliou a frota de trens de 30 para 64 desde 2012 e que oferece 1,1 milhão de lugares para a média de 850 mil passageiros transportados por dia útil. Diz ainda que mais da metade dos trens em operação é nova e que investiu mais de R$ 21 milhões na reforma de equipamentos de ar-condicionado das composições antigas. Por fim, afirma que o metrô carioca é um dos mais regulares do mundo, segundo as associações Nova e Comet de metrôs.

A CCR Barcas informa que o contrato de concessão não prevê a disponibilidade de ar-condicionado nas linhas, mas que incorporou novas embarcações à frota com sistema de refrigeração. Das 24 barcas em operação, 12 são climatizadas. A concessionária afirma ainda que o intervalo entre embarcações na hora do rush é de 10 minutos para o centro de Niterói e de 15 minutos para Charitas. Mas que as condições climáticas e de maré podem alterar o tempo de travessia.

Já a SuperVia diz que o ramal de Santa Cruz, que passa por Campo Grande, funciona com intervalos entre 8 e 15 minutos nos dias úteis e de 20 minutos em média nos fins de semana. Afirma também que mais de 95% das viagens são feitas em trens com ar-condicionado.