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Presidente da Portela, Marcos Falcon, é assassinado a tiros no Rio

Candidato a vereador foi morto em Oswaldo Cruz, dentro do comitê da campanha
Curiosos junto ao prédio do comitê da campanha de Falcon: bandidos encapuzados, armados de fuzis, invadiram o lugar e executaram o presidente da Portela Foto: Alexandre Cassiano
Curiosos junto ao prédio do comitê da campanha de Falcon: bandidos encapuzados, armados de fuzis, invadiram o lugar e executaram o presidente da Portela Foto: Alexandre Cassiano

RIO— Carnaval e crime, muitas vezes entrelaçados, voltaram a se encontrar nesta segunda-feira na esquina da Rua Maria José com a Carlos Xavier, em Oswaldo Cruz. Presidente da Portela, uma das mais antigas e tradicionais escolas de samba do Rio, Marcos Vieira de Souza, conhecido como Falcon, de 52 anos, foi executado à tarde, dentro do seu comitê de campanha: ele concorreria a uma vaga de vereador pelo PP nas próximas eleições. A polícia investiga se a execução, que lembrou as da máfia na Chicago dos anos 1930, está ligada à política, ao jogo do bicho ou a disputas dentro da agremiação.

Casado com a porta-bandeira Selminha Sorriso — que, muito abalada, ficou nesta segunda-feira sob efeito de tranquilizantes —, Falcon, pai de sete filhos, assumiu este ano a presidência, depois de acirrada batalha pelo poder na escola. Contou com o apoio de ninguém menos que Tia Surica, uma das mais importantes figuras do carnaval carioca e por quem foi criado. Segundo a polícia, ele tinha relacionamento com mais três mulheres. Com o crime, sobe para 14 o número de pessoas ligadas à política assassinadas desde novembro do ano passado no Estado do Rio.

Na trajetória de Falcon, podem estar as pistas para esclarecer à execução. Policial que transitava na fronteira da lei, ele foi subtenente da Polícia Militar. Mas foi com o uniforme da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, que fincou a Bandeira do Brasil no alto do Morro do Alemão, em 2010, depois que uma megaoperação retomou o território do complexo dominado pelo tráfico.

Meses depois, em agosto de 2011, Falcon foi preso, acusado de integrar uma milícia. No entanto, foi inocentado pela Justiça. Em sua decisão, o juiz André Ricardo de Franciscis Ramos chama a atenção para as contradições da prisão: “Por que o réu passou, em menos de vinte e quatro horas, de herói (...) a bandido e quadrilheiro miliciano? Que prova se tem disso?”

“ELE ERA TEMIDO NA ZONA OESTE"

O presidente da Portela e candidato a vereador pelo PP, Marcos Falcon, 52 anos, foi assassinado a tiros nesta segunda-feira

O assassinato nesta segunda-feira à tarde do presidente da Portela foi uma ação planejada. Um carro prata parou na porta do comitê com quatro homens encapuzados. Dois deles, armados com fuzis, desembarcaram, entraram no imóvel e dispararam contra Falcon, que já tinha sofrido outros atentados. A maioria dos tiros atingiu sua cabeça. Os bandidos ignoraram as outras pessoas que estavam no local, e elas nada sofreram. Assustados, motoristas que passavam pela rua na hora deram marcha a ré para fugir.

— Foi uma execução sumária, direcionada única e exclusivamente ao candidato — disse o chefe da Divisão de Homicídios (DH), delegado Rivaldo Barbosa.

Amigos também atribuíam a morte do presidente da Portela à sua pretensão de chegar à Câmara de Vereadores. Nesta segunda-feira, Falcon iria à noite a um evento da campanha numa churrascaria.

— Falcon morreu porque estava incomodando na política — disse uma pessoa próxima, que pediu para não ser identificada.

Falcon era candidato a vereador Foto: Reprodução
Falcon era candidato a vereador Foto: Reprodução

Policiais civis e militares contaram ao GLOBO que Falcon sempre teve bom trânsito nas duas corporações. De 2009 até 2012, ele foi cedido pela PM (onde chegou a trabalhar no Bope) à Polícia Civil. Lá, atuou na Divisão Antissequestro e na Core, grupo de elite da instituição.

— Ele era temido na Zona Oeste e, apesar de várias suspeitas, nunca ficou provado que pertencia a uma organização criminosa — afirmou um policial.

O vice-presidente da Portela, Luís Carlos Magalhães, que está viajando, soube da morte do parceiro por telefone.

— Pessoas importantes da Portela me ligaram, mas não sei detalhe algum, nem como aconteceu — disse, negando saber de qualquer ameaça contra Falcon. — Minhas atividades são voltadas para a escola. Falcon era um policial de destaque, mas não sei dizer qual foi a motivação.

Desde março, no entanto, a 29ª DP (Madureira) investigava um plano para executar Falcon. Nesta segunda-feira, já com um crime para ser elucidado, policiais da DH eram vistos em várias ruas de Oswaldo Cruz. Nos bastidores das investigações, passaram a circular nomes de suspeitos e motivos para o assassinato: um desentendimento que o policial teve na Cidade do Samba com um importante bicheiro do Rio; uma rixa com um PM com fama de matador, em Madureira; um problema na quadra da Portela; e até uma disputa por território político na Zona Norte.

PAES PEDE ESCLARECIMENTO DO CRIME

Portelense, o prefeito Eduardo Paes divulgou uma nota sobre o crime: “Lamento muito pela morte de Marcos Falcon. Com amor e dedicação, Falcon revolucionou a nossa Portela nos últimos anos. Meus sentimentos aos familiares, especialmente à minha amiga Selminha Sorriso e a toda a família portelense. Espero que a polícia esclareça esse crime com a maior brevidade possível”.

O carnavalesco da Portela, Paulo Barros, se pronunciou usando as redes sociais. Junto a uma foto do presidente da escola, ele escreveu: “Vou abraçar seu sonho ainda mais em 2017. Vai, meu amigo... Voe nas asas de sua águia e encontre a paz”. Outras escolas divulgaram notas de pesar.

A rainha de bateria da Portela, Patricia Nery, estava em prantos:

— Muito triste, estou sem condições de falar qualquer coisa agora.

Sob aplausos de vizinhos do comitê, o corpo foi levado no início da noite, depois da perícia, para o IML.

Por nota, o comando da PM informou que Falcon, excluído da corporação em 2011, foi reintegrado após ser absolvido da acusação. Ele estava licenciado para participar das eleições.

O velório de Falcon será nesta terça-feira, a partir das 8h, na quadra da Portela.

Falcon não é o primeiro candidato a vereador a ser assassinado. A Polícia Federal investiga a morte de outras 14 pessoas que concorriam na eleição deste ano. No domingo, José Ricardo Guimarães Costa (PTC), que era candidato a vereador em Itaboraí, mas desistiu da candidatura há um mês, foi morto com um tiro nas costas quando fazia campanha na comunidade da Reta Velha.