22/10/2016 07h40 - Atualizado em 25/10/2016 14h04

Viciado em filmes tem mais de 5 mil títulos em seu apartamento, no Rio

Sérgio de Gouveia, de 67 anos, começou sua coleção em março de 1982.
Ele equipou a casa com cinema 3D e armários para guardar os DVDs.

Patrícia TeixeiraDo G1 Rio

Os jornais da época anunciavam: "Faltam 10 dias para o lançamento do videocassete no Brasil". Era março de 1982. Quando o tal dia chegou, o engenheiro químico Sérgio Gouveia Vianna, hoje com 67 anos, estava lá, antes mesmo de a loja abrir. Foi o primeiro da fila, ele lembra com orgulho. 

Desde então, não parou mais de colecionar filmes. Em seu apartamento, na Zona Norte do Rio, ele guarda mais de 5 mil títulos, sendo cerca de 3.500 em DVDs, 200 em VHS, 40 LDs (laser disc) e mais de 1.500 filmes armazenados em HDs. Fora os livros sobre o tema, cartazes e filmadoras.

Precisou equipar a residência para guardar as raridades. Também comprou um cinema 3D, que custou R$ 30 mil, que usa para reunir os amigos para sessões regadas a uma boa conversa e aperitivos, uma vez por mês. Fazendo uma conta, por alto, imagina já ter investido mais de R$ 200 mil em sua maior paixão: a sétima arte.

Ele chegou a fazer filmes de formato Super-8. Sérgio conta que a atriz Denise Fraga fez seus filmes, antes de ser conhecida (Foto: Patricia Teixeira/G1)Ele chegou a fazer filmes de formato Super-8. Sérgio conta que a atriz Denise Fraga fez seus filmes, antes de ser conhecida (Foto: Patricia Teixeira/G1)

"Lia o jornal todo dia, contando na regressiva a data do lançamento do VHS aqui, me lembro que cheguei na loja da Rua Uruguaiana antes das 8h, fiquei esperando abrir. Comprei um dos primeiros aparelhos vendidos no Rio. E minha coleção começou com filmes que gravei da televisão", detalha Sérgio.

O engenheiro químico conta que mesmo sendo um privilegiado por ter o aparelho em casa, encontrava dificuldados para encontrar fitas. O jeito foi virar sócio de um vídeo-clube no Largo do Machado. "Passei a alugar as fitas e copiava as que eu gostava."

O primeiro filme que gravou da TV lhe foge à memória. "Só me lembro que foi um com o ator Jerry Lewis, para testar o aparelho. O primeiro que me lembro, com título, é o 'Melodia Imortal', dos anos 50, gravei da Sessão da Tarde", rememora.

Sérgio Gouveia mostra seu laser disc comprado no exterior (Foto: Patricia Teixeira/G1)Sérgio Gouveia mostra seu laser disc comprado no exterior (Foto: Patricia Teixeira/G1)

Frustração com Laser Disc
Já nos anos 90, Sérgio tentou surfar a onda do LD (precursor do DVD), que não emplacou no Brasil. "As lojas não vendiam muito, e, quando tinha, era muito caro. Os filmes custavam mais de R$100, naquele tempo", reforça ele, que na década de 70 se aventurou fazendo filmes de formato Super-8, e, aos 53 anos, se formou na faculdade de cinema da Estácio.

"Uma atriz que hoje é conhecida começou fazendo meus filmes de brincadeira, a Denise Fraga", revela, aos risos.

Como viajava muito, Sérgio costuma trazer muitos filmes do exterior. Antes mesmo de o DVD lançar no Brasil, ele já tinha vários. Seu arquivo é todo catalogado no computador, onde ele registra o dia que comprou, onde comprou, quanto pagou e onde está localizado, além da nota que dá para a produção.

O último DVD que adquiriu foi 'Desajuste Social Accatone', de Pier Paolo Pasolini, em setembro. "Tem muita coisa que nem na internet a gente acha. Tem filmes que tenho no computador e em DVD, sempre quero a versão física, mesmo que já tenha baixado", justifica.

Frequentador assíduo de cinemas e festivais, Sérgio já chegou a ver filmes antes mesmo de sua estreia nas telonas. "Tenho muitas cerimônias do Oscar gravadas dos anos 70, 80. Às vezes, fazia reunião com amigos aqui em casa e exibia os filmes que estavam concorrendo ao Oscar e que nem tinham estreado aqui, eu conseguia os filmes distribuídos para o júri", diverte-se.

'Jesebell' é um dos filmes preferidos do colecionador (Foto: Patricia Teixeira/G1)Jesebell é um dos filmes preferidos do colecionador (Foto: Patricia Teixeira/G1)

Os xodós
Tarefa difícil é arrancar do engenheiro quais filmes ele mais gosta. "Não posso escolher um, eles vão ficar com ciúmes", disse, olhando para suas prateleiras cheias de seus xodós. Mas ele fez um esforcinho e selecionou alguns que ele classificou como "amores extremos".

Amigos de Sérgio fazem cartaz em homenagem ao colecionador (Foto: Arquivo pessoal)Amigos de Sérgio fazem cartaz em homenagem
ao colecionador com o rosto dele ao lado da atriz
(Foto: Arquivo pessoal)

"'Enigma de uma vida', 'Jesebell', 'Laura', Crepúsculo dos Deuses' e 'Freud, além da alma'. O bom de ter uma filmoteca em casa é você gostar de ver o mesmo filme mais de uma vez. Tem um filme chamado Johnny Guitar, de 1954. Precisamente, esse é um dos filmes que eu mais vi na vida, já assisti mais de cem vezes."

Como os filmes raros de sua coleção, ele elenca 'O Corvo', de Henri Georges Clouzot; 'Rogopag', com quatro histórias de remonados diretores estrangeiros; e dois documentários de Norma Bengell: 'Infinitamente Guiomar Novaes' e 'Magda Tagliaferro, um mundo dentro de um piano'. 

"Tenho filmes que são umas bobagens, como 'Folias da Praia', mas tenho porque me lembram a minha adolescência", assume.

Entre os clássicos que guarda, ele mostra 'Sangue de Pantera', em VHS, dirigido por Jacques Tourneux, e 'Mundo Cão', da década de 60, de Gualtiero Jacopetti, Paolo Cavara e Franco Prosperi. "Tenho filmes aqui com duração de 14 horas."

Alguns dos filmes que Sérgio considera raros e clássicos (Foto: Patricia Teixeira/G1)Alguns dos filmes que Sérgio considera raros e clássicos (Foto: Patricia Teixeira/G1)

Fora da coleção
Mas se tem um longa que o colecionador faz questão de não ter em seu arquivo é "Vá e Veja", filme de drama soviético de 1985, dirigido por Elem Klimov, que narra a ascensão da Alemanha Nazista.

"Vi no cinema com meus amigos, saímos todos aos prantos, sem nem conseguir andar direito. O filme é ótimo, mas causa um impacto absurdo. Ele saiu em DVD e não comprei. Nunca mais quis saber de ver esse filme de novo."

Parte do arquivo de Ségio, que tem mais de 3,5 mil DVDs (Foto: Patricia Teixeira/G1)Parte do arquivo de Sérgio, que tem mais de 3,5 mil DVDs (Foto: Patricia Teixeira/G1)
Cinema 3D, que custou cerca de R$ 30 mil. Todo mês, Sérgio reúne os amigos para sessões de filmes diversos (Foto: Patricia Teixeira/G1)Cinema 3D, que custou cerca de R$ 30 mil. Todo mês, Sérgio reúne os amigos para sessões de filmes diversos (Foto: Patricia Teixeira/G1)
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