19/10/2016 00h58 - Atualizado em 19/10/2016 16h07

Crivella e Freixo trocam acusações em debate pela Prefeitura do Rio

Duelo teve farpas e cobranças sobre apoios, opiniões e promessas.
Candidatos foram da ironia às acusações diretas e ofensas pessoais.

Do G1 Rio

O clima esquentou no segundo debate entre os candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), realizado na noite desta terça-feira (18) pela Rede TV!. Ao contrário do confronto anterior, mais pautado pelas propostas para a cidade, desta vez os ataques mútuos deram o tom.

Freixo abriu o debate ironizando a presença do adversário, que já havia cancelado presença em outros debates, e fez pergunta sobre o livro publicado por Crivella em 2002. "Você diz no livro que católicos praticam doutrinas demoníacas e outras crenças possuem espírito imundo. Como alguém com tanto ódio no coração pode querer ser prefeito?", indagou.

Crivella respondeu que escreveu o livro "25 anos atrás", que a Igreja Católica da África era completamente diferente, mas reconheceu que usou "palavras erradas" e aproveitou para contra-atacar: "Ódio mesmo é o dos black blocs, que ontem mesmo foram para a praça orientados por seu partido, afrontaram a polícia. Eles têm mãos sujas de sangue, já mataram um trabalhador. Pelo livro já me desculpei, houve exagero nas palavras, mas ódio e sangue quem tem nas mãos são vocês".

O candidato do PSOL, na réplica, disse que existem muitas formas de violência, mas que não é vinculado a nenhuma delas, nem aos black blocs. "E o que você fala no livro não pode ser atribuído apenas a seu período na África, afinal foi aqui no Brasil que seu sócio, também pastor, chutou a imagem da padroeira do Brasil. Vocês produzem ódio e intolerância aqui mesmo".

Em sua tréplica, o candidato do PRB disse que o opositor usa "fatos anacrônicos" para atacá-lo e fazer uma "campanha violenta": "Você faz isso o tempo todo, me agride na TV de maneira covarde. Quem passa dez anos entre os pobres e doa 20 mi para projeto na Bahia tem ódio? Você não se conforma com isso, mas o fato é que tenho mais intenção de voto que você", disparou.

Na sua primeira pergunta, Crivella tentou retomar o debate de propostas e perguntou se Freixo iria rever o valor dos imóveis para aumentar IPTU e criar secretarias e empresas, mas teve que voltar ao tema do livro. "Nosso programa não diz isso e quando você escreveu o livro já tinha 42 anos, já era pai, tem que assumir o que escreve, Crivella. Nós vamos é fazer a revisão do IPTU para criar mais justiça, que as pessoas possam pagar o que é justo, principalmente na Zona Oeste, onde houve aumento abusivo. E não vamos congelar investimento em saúde e educação, como seu partido apoia em Brasília".

(Veja nos vídeos abaixo entrevista dos dois candidatos após o debate.)

Sem alternativa, Crivella replicou: "Aquele livro foi escrito quando eu tinha 32 anos, foi impresso para arrecadar recursos para projeto padrão de ajuda aos pobres. Mas você mudou seu plano de governo sem avisar os 5 mil participantes dele. Estava escrito lá que você ia aumentar o IPTU e criar secretarias, agora diz que vai cortar dez secretarias".

Na tréplica de Freixo, mais farpas: "Eu não escondo meus aliados como você faz. Nós temos um programa, você não tem, as pessoas não te conhecem pelo que você fala ou escreve. Você já está até oferecendo secretarias e loteando cargos. Garotinho não vai querer cargos? É difícil acreditar".

Em sua vez de perguntar, Freixo seguiu no ataque, mencionando que a Zona Oeste da cidade tem problemas graves de transporte, educação e saúde, mas tem também criminalidade, representada por grupos milicianos, como o que anunciou na internet apoio a Crivella. "Por que a milícia te apoia?", questionou, motivando resposta dura do candidato do PRB.

"É impressionante o que você é capaz para obter o poder. No primeiro turno conversamos sobre o mal feito ao Rio pela gestão do PMDB e eu cheguei a dizer que, se não votassem em mim, que votassem em você, pois pelo menos a cidade estaria livre dos corruptos. Mas agora vejo que você é capaz de qualquer coisa pelo poder. Não vou dizer que você é canalha, safado, vagabundo, o povo dirá isso. Se aquela senhora declarou apoio, ela é uma cidadã livre, que tem direito a expressar sua posição", rebateu Crivella, acrescentando que Freixo está ao lado do PT e do PC do B:

"Esses partidos protagonizaram os maiores escândalos de corrupção da história, mas não sou covarde, não vou fazer o que você faz comigo, não vou jogar isso nas suas costas".

Crivella manteve o tom de confronto ao dizer que Freixo é complacente com o tráfico de drogas e perguntou por que se aconselhar com um ex-secretário de segurança de Garotinho - "que você tanto critica, e ele impedia que a polícia subisse a favela para combater o tráfico" - sobre a segurança pública.

O candidato do PSOL respondeu listando sua atuação em CPIs das milícias, do tráfico de armas e munições e dizendo que, se eleito, construirá um gabinete de segurança na prefeitura, sem custo, com especialistas, para fazer o mapeamento da violência por bairros e agir em parceria com o governo do estado para rezudir a criminalidade.

A troca de farpas consumiu a réplica e a tréplica: "Meu programa tem metas, números que as pessoas vão cobrar, o dele é fazer mapa, consultar especialistas, isso não resolve sua vida, cidadão", disse Crivella, para Freixo rebater: "Seu programa não existe, é todo baseado na sua fala mansa, como pode haver candidato tão despreparado para o debate sobre segurança? Não é com bravata que se combate o crime, mapear a violência é trabalho de inteligência, é o que há de mais moderno no tema".

Na pergunta seguinte, Freixo  motivou nova troca de acusações ao perguntar a Crivella sobre o apoio de Rodrigo Bethlem, que responde a grave denúncia de corrupção. "Homem dos direitos humanos, como você pode condenar sem julgamento? Ele (Bethlem) não vai participar, nunca me pediu nem eu convidei, mas não deveria ser pré-julgado como você faz aqui. Ele me pediu para ajudar, achei oferta generosa e aceitei, ele tem larga experiência".

Freixo replicou que no "planeta Crivella" Garotinho apoia porque é bom moço, Bethlem porque quer ajudar, e o adversário devolveu citando o "planeta Freixo" e trazendo à tona o caso Amarildo:

"O planeta Freixo é o da Sininho [ativista acusada de ligação com os black blocs], da Janira [Rocha, ex-deputada estadual do PSOL cassada]. Em 2014, o professor Tarcísio [Motta, então candidato a governador pelo PSOL] fez num debate a pergunta 'Onde está Amarildo, Pezão?', mas hoje é 'Onde está o dinheiro da viúva do Amarildo, Freixo, que a ONG arrecadou mas ficou com 70% e depois foi grande doadora de sua campanha?

Na última pergunta do primeiro bloco, sobre educação, mais farpas. Crivella acusou Freixo de querer tirar os professores das salas de aula e ouviu do adversário que não conhece a lei. "Professor tem direito a 1/3 do tempo para planejar aula, isso significa qualidade. Você não sabe nada de educação e vem com esse chavão da família do Amarildo, que só nós subimos a favela para ajudar. Compramos a casa e mobiliamos, depois redistribuímos o dinheiro que restou. E você faz uma denúncia grave como essa sem apurar, Crivella", disse o candidato do PSOL.

O segundo bloco do debate foi dedicado a perguntas de jornalistas aos dois candidatos. Sobre trocar de convicções com frequência, Crivella afirmou que o que muda é a maneira de se expressar - "Quando a gente é novo muitas vezes é fanático, mas evolui. Errei e admito" - que participou do governo Dilma por lealdade, não por cumplicidade, razão pela qual apoiou o afastamento da então presidente.

Para Freixo, a pergunta foi sobre como evitar retaliações à cidade, se eleito, após tantas críticas ao PMDB. O candidato disse que passa a representar a cidade e que é obrigação conversar com os governos federal e estadual, ambos hoje do PMDB. "Fui crítico do governo Dilma e me posicionei contra o afastamento, mas isso não me impede de discutir com estado e federal, essa é a obrigação do prefeito, não preciso mudar de opinião, fingir que não falei, que não escrevi".

O apoio de Anthony Garotinho foi tema de outra pergunta a Crivella, já que o aliado entrou com tempo de TV, indicou o vice da chapa e tirou fotos com o candidato, mas não terá espaço no governo.

"Lenga-lenga. O tempo de TV foi do PR, o partido, não do Garotinho. Escolhi McDowell como vice porque é um técnico, trabalhou comigo em diversas obras no estado, tem todas as credenciais para nos ajudar no transporte público. Garotinho nunca pediu nada, não há interesse dele, só dos que insistem no que não tem cabimento", garantiu o candidato, que ainda ironizou:

"Pela centésima vez, Garotinho não vai participar do meu governo [e repetiu a frase outras vezes]. Esse tema foi explorado na primeira semana de campanha no segundo turno e o que aconteceu? A rejeição do outro candidato subiu".

A intolerância também foi tema de pergunta a Freixo, que precisou falar sobre o texto publicado no site do PSOL com ataques ao ex-presidente de Israel Shimon Peres, chamado de "genocida". "Não foi o PSOL, foi um grupo, que já se responsabilizou. Não é minha opinião e nunca foi. Não fui eu que escrevi, repudiei, mas pedi desculpas e fui sincero. Nunca apoiei a queima da bandeira de Israel, que ocorreu em um protesto, e deixei isso claro".

Crivella afirmou ainda que não reverterá a municipalização dos hospitais estaduais ROcha Faria e Albert Schweitzer, na Zona Oeste da cidade. "Não é solução municipalizar todo o fracasso do PMDB no estado, mas na Zona Oeste é importantíssimo manter, porque pode causar mortes".

Os candidatos também responderam alternadamente a perguntas formuladas por cidadãos, em vídeo ou enviadas via Facebook.

Sobre educação, Freixo prometeu um plano de cargos unificado, incluindo porteiros, inspetores, que segundo ele são todos educadores, para lhes dar perspectiva de carreira. "E queremos devolver alegria para a sala de aula, aproximar a cultura delas, por exemplo com cineclubes para que vizinhos frequentem. Com a comunidade mais perto, os resultados da educação melhoram".

Já Crivella afirmou que só haverá aumento no valor da tarifa de ônibus após análise das planilhas de custos do transporte público, inclusive da renúncia fiscal concedida às empresas de ônibus. "Meu vice é um especialista no tema e minha proposta é Bilhete Único Carioca válido por 3 horas e acoplado ao metrô".

Sobre a saúde, Marcelo Freixo garantiu que nenhuma Clinica da Família será fechada e que chegará aos 100% de cobertura territorial com a atenção básica e valorização dos agentes de combate a endemias. "Também vamos controlar o SisReg, que foi terceirizado e ampliar número de especialisas e exames através de controle dos leitos federais, além de ampliar número de maternidades na cidade".

Um eleitor perguntou sobre desemprego e Crivella respondeu que é preciso melhorar a qualificação, com a criação de oficinas do emprego em convênio com o Senai e o Senac para 230 mil desempregados: "Eles dão a bolsa e eu darei o estágio".

A um estudante que fez uma pergunta sobre segurança, Freixo disse ser importante que tenha vindo de um jovem, segundo ele está entre os mais atingidos hoje pela violência. "Vamos apostar na produção de dados para saber como atuar em cada lugar. Onde tem furto tem que identificar e atuar, distribuir melhor polícia e Guarda Municipal, que tem de ser treinada e valorizada. Outras formas de violência pedem ações preventivas, orientadas pelo mapa da criminalidade por bairro", explicou.

Crivella, em sua vez, falou que a regularização do aplicativo de transporte Uber é uma "questão muito controversa" e lembrou seu passado ao volante. "Fui taxista quando estudava engenharia e sei a luta que é. Hoje piorou muito, está sem competitividade, com a diária não tem como competir com o Uber. Precisamos esperar decisão da Justiça sobre se é válido legalizar ou não. Havia candidato que dizia que ia acabar com Uber, é mentira".

Freixo prometeu rever o contrato que concedeu a Transolímpica à iniciativa privada, com cobrança de pedágio, e concluir a obra do BRT Transbrasil, enquanto Crivella assegurou o apoio público ao carnaval, que chamou de "festa mais importante do calendário de eventos do Rio" e "vitrine que arrecada muitos recursos e gera empregos".

Nas considerações finais, Freixo destacou que segundo turno é um aprimoramento da democracia e que os debates são fundamentais. "Lamento que meu adversário não tenha ido a outros, espero que não falte a mais nenhum".

Já Crivella destacou ser hoje mais maduro e que tem sido questionado por posições que defendeu "com ardor na juventude, mas bem intencionado", e aproveitou para mais uma alfinetada no adversário: "Ele dizia que ia aumentar IPTU, agora não vai mais, que ia criar secretarias, agora que vai cortar. Logo, logo, do 'Fora Temer' vamos ouvir o 'Fica Temer'. Eduardo Paes tirou foto apoiando o 50, não a mim".

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