Política Eleições 2016

Cooperação entre prefeituras é pouco explorada por candidatos no Grande Rio

Ações conjuntas entre os municípios vizinhos não são citadas em planos de governo
Poluição na Baía de Guanabara desafia próximos prefeitos da Região Metropolitana do Rio Foto: “Extra” / 2-3-2016 / Roberto Moreyra
Poluição na Baía de Guanabara desafia próximos prefeitos da Região Metropolitana do Rio Foto: “Extra” / 2-3-2016 / Roberto Moreyra

RIO — Todos os dias, dois milhões de moradores da Região Metropolitana do Rio deixam suas casas para trabalhar ou estudar na capital, movimento diário equivalente a um réveillon em Copacabana. Um fluxo sem fronteiras que exigirá dos futuros prefeitos da região disposição para trabalhar em equipe, se quiserem enfrentar desafios em áreas estratégicas. O problema é que, ao menos no papel, a previsão de atuação conjunta dos gestores municipais está fora do radar de quem disputa o segundo turno no Grande Rio.

Dos 12 candidatos nas cidades da área metropolitana que definirão seu novo prefeito no próximo domingo, apenas quatro citam em seus planos de governo propostas com impacto para municípios vizinhos. São eles Marcelo Freixo (PSOL), no Rio; Washington Reis (PMDB), em Caxias; Rogério Lisboa (PR), em Nova Iguaçu; e Felipe Peixoto (PSB), em Niterói. Nenhum, no entanto, fala em integração.

— Cada candidato olha exclusivamente para o seu município. Não dá para cada prefeito ter uma solução para problemas comuns — critica o diretor da Câmara Metropolitana, Vicente Loureiro.

Para José Marcelo Zacchi, coordenador da Casa Fluminense, a dificuldade de integração é explicada pela fragmentação política, pela falta do sentimento de unidade no imaginário coletivo e, principalmente, pela ausência de um espaço institucional para que as prefeituras se articulem. Um plano de desenvolvimento urbano e a criação de uma agência executiva da metrópole estão em debate na Alerj, o que demandará apoio dos futuros prefeitos para que os projetos saiam do papel.

— Se cada prefeitura agir isoladamente, dispersará recursos e avançará pouco. Se há um problema para quem mora no Rio, em Niterói, em Caxias ou em São Gonçalo, terá de ser enfrentado de maneira coordenada — diz Zacchi.

Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, mobilidade, segurança e saneamento básico são os principais desafios da metrópole. Em todas essas áreas, a atuação conjunta dos próximos prefeitos e do governo do estado é essencial, assim como a liderança de quem comandar a capital a partir de 2017.

A integração entre os diferentes modos de transporte e a unificação do sistema, incluindo as tarifas, são citadas como prioridades em mobilidade. Pedro da Luz, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), destaca a necessidade de investimento na malha ferroviária. Ele ressalta que, na década de 1960, os trens transportavam 1,2 milhão de pessoas no Grande Rio. Hoje, esse número não passa de 620 mil.

— Se tivéssemos sistemas de transporte complementares aos trens, melhoraríamos a qualidade de vida das pessoas. Como quem vem de outros municípios não confia no sistema, acaba vindo de ônibus ao Rio e encontra engarrafamento. A infraestrutura vem se degradando — alerta.

A coordenadora de Políticas Públicas do ITDP Brasil, Letícia Bortolon, lembra que a desigualdade na geração de postos de trabalho tem relação direta com o deslocamento massivo em direção ao Rio. Em Japeri, Guapimirim, Magé, Belford Roxo e Paracambi, por exemplo, a capacidade de oferecer trabalho com carteira assinada alcança apenas 10% da população, enquanto a capital concentra 73,8% dos postos de trabalho:

— É preciso criar oportunidade de emprego e pensar a mobilidade como o direito de não se deslocar ou de pelo menos ter o tempo de deslocamento reduzido.

Na área de Segurança, o compartilhamento de informações pode fazer a diferença:

— É importante estabelecer um diagnóstico sobre a violência para ações de integração das secretarias. A redução de homicídios pode ser proposta em conjunto — afirma Douglas Almeida, do Fórum Grita Baixada.

Na avaliação de Zacchi, da Casa Fluminense, a expansão da cobertura de saneamento só vai avançar se os municípios do entorno da Baía de Guanabara, o governo do estado e a Cedae se comunicarem.

— É preciso dividir competências, ter consenso sobre as obras necessárias e buscar recursos em conjunto — afirma.