Política Eleições 2016

Crivella desiste de participar de sabatina em O GLOBO

Candidato do PRB alegou que estará Brasília, mas disse que não iria de qualquer maneira por se sentir indignado com a cobertura do jornal
O candidato do PRB à prefeitura do Rio, Marcelo Crivella, após reunião com o ministro da Saúde, em Brasília Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
O candidato do PRB à prefeitura do Rio, Marcelo Crivella, após reunião com o ministro da Saúde, em Brasília Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo

RIO - Depois de se comprometer e não comparecer a entrevistas no RJ-TV, no portal G1 e na rádio CBN , o candidato do PRB à prefeitura do Rio, Marcelo Crivella, desistiu de participar de sabatina do GLOBO marcada para as 10h30m desta quinta-feira. O senador também já havia desistido de participar de um debate no SBT e no próprio GLOBO . A TV Record, cujo dono é o bispo Edir Macedo, tio de Crivella, cancelou seu debate neste segundo turno.

Como justificativa para a nova desistência, Crivella alegou em nota enviada à Redação que teria compromissos no Senado, em Brasília, mas que "mesmo se estivesse no Rio, não iria à sede do jornal por estar muito indignado com a cobertura manipuladora e tendenciosa que tem sido feita contra sua candidatura, especialmente no segundo turno". A mensagem é semelhante à enviada na véspera à TV Globo.

O GLOBO publicará na edição impressa desta quinta-feira uma página especial com as perguntas que seriam feitas ao candidato. A entrevista, marcada originalmente para esta quarta, foi remarcada para quinta-feira a pedido do próprio candidato.

DO QUE RECLAMA CRIVELLA

Após reportagens publicadas no último fim de semana, Crivella tem afirmado nos últimos dias que é vítima de uma campanha de parte da imprensa, baseada em “manipulação de informações”, para supostamente beneficiar seu adversário, o candidato do PSOL, Marcelo Freixo.

Do que reclama Crivella:

1. Os livros

O senador reclama da divulgação de reportagem sobre o livro "Evangelizando a África" , pelo GLOBO, em que ataca a homossexualidade, o catolicismo, que chamou de “doutrina diabólica”, e outras religiões. O livro em questão foi escrito pelo próprio Crivella. No ato da publicação da reportagem, Crivella pediu desculpas e disse que sua intolerância se devia ao fato de ser um jovem missionário à época. Quando o livro foi publicado no Brasil, em 2002, Crivella tinha 42 anos. Desde ontem, porém, Crivella tem dito em seu programa de TV que a reportagem é uma mentira.

2. Os vídeos

O candidato contesta reportagens sobre vídeos em que ele manifesta posições diferentes das de seus discursos de campanha. Na campanha, Crivella tem reiterado que não mistura política com religião. Também tem dito que é tolerante com homossexuais e outras religiões. No entanto, num dos vídeos, publicados pelo GLOBO, ele diz em discurso que defende a importância de um projeto político para os evangélicos, chegando a afirmar que a meta é eleger um presidente da República .

Em outra gravação, de abril de 2011, também publicada pelo GLOBO, Crivella diz que candidatou-se ao Senado em 2002 não por sua livre e espontânea vontade, mas por determinação da Igreja Universal . Num terceiro vídeo, de 2012, publicado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, Crivella diz que a homossexualidade pode ter origem no sofrimento do bebê ainda no útero da mãe.

3. Lava-Jato

Crivella se queixa da informação publicada por Lauro Jardim, neste domingo . Em sua coluna, o jornalista revelou que, em negociação de delação premiada, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque disse que na, campanha de Crivella ao Senado, em 2010, o senador o procurou em busca de financiamento para material de campanha. Segundo Duque, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari acionou Carlos Cortegoso, dono de gráficas investigadas, e foram impressas 100 mil placas para a campanha de Crivella. O custo estimado deste material seria de R$ 12 milhões.

O GLOBO publicou diversas reportagens sobre revelações feitas à Lava-Jato por investigados durante negociação de delação. As informações têm como alvo agentes públicos e políticos de diversos governos e partidos. O próprio senador utilizou informações de delatores para atacar adversários, como, Pedro Paulo (PMDB), no primeiro turno.

4. Revista “Veja”

O senador reclama de foto e reportagem publicada pela revista “Veja” , do último sábado, que mostrou que o candidato chegou a ser preso numa delegacia por um dia em 1990, quando tentou desocupar um terreno de propriedade da Igreja Universal. Para se explicar, Crivella negou a prisão e disse que tudo não passou de uma grande confusão. No entanto, em áudios divulgados por Veja, Crivella havia dado uma versão bem diferente.

Disse Crivella: “Eu não aguentava mais aquela situação. Fui lá e bum! Tirei tudo! E o advogado, muito esperto, que queria fazer uma chantagem, já tinha chamado os policiais, e me deram o flagrante sobre o seguinte crime: uso arbitrário das próprias razões. E me prenderam. Aí, na delegacia, por incrível que pareça, fiquei preso um dia. Carceragem da 9ª DP lotada de gente”, disse Crivella aos repórteres da “Veja”. Crivella não explicou a razão que o levou a apresentar diferentes versões para o caso. E passou a acusar a revista de mentir.

5. Freixo

Crivella diz que O GLOBO tem poupado o candidato e se referiu a ele como “novo amiguinho do GLOBO”. O jornal, ao contrário, tem publicado matérias críticas em relação à campanha e ao histórico político do candidato Marcelo Freixo (PSOL).

Por exemplo, O GLOBO mostrou que Freixo voltou atrás e mudou de tom durante a campanha sobre seu posicionamento sobre os black blocs . Reportagem informou também que a jornalista Renata Stuart, ex-mulher de Freixo, esteve empregada no gabinete do vereador e correligionário Renato Cinco . O jornal noticiou que Freixo teve de se desculpar, após uma corrente do PSOL emitir uma nota chamando o ex-primeiro mistro de de Israel Shimon Peres de genocida . O caso provocou revolta entre a comunidade judaica e uma crise na campanha de Freixo.

O GLOBO mostrou ainda que, em seu programa de governo, Freixo não explica de onde virão os recursos para viabilizar suas propostas. Outra reportagem revelou que Freixo suprimiu do programa de governo entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o trecho em que defende uma proposta de reforma tributária a ser apresentada à Câmara de Vereadores, caso seja eleito.