WASHINGTON - A menos de duas semanas das eleições, o magnata Donald Trump fez uma pausa na campanha para inaugurar um novo hotel, em Washington. Localizado na Avenida Pensilvânia, a duas quadras da Casa Branca, o o Trump International Hotel já nasce sob polêmica. A inauguração — sob forte protesto de trabalhadores e democratas — foi vista como sinal de que Trump pode estar voltando a priorizar os negócios, já que continua ladeira abaixo nas pesquisas eleitorais.
Trump estava junto com toda a família e tentou se mostrar calmo — disse que espera uma grande vitória em 8 de novembro. Questionado se não é ruim tratar de negócios na reta final, afirmou que o empreendimento é um exemplo para o país:
— Meu tema hoje tem cinco palavras (na verdade, foram seis): “Abaixo do orçamento, antes do previsto”. Você não ouve muito estas palavras no governo. Isto (a inauguração do hotel) é um exemplo do que quero fazer para o nosso país — discursou o magnata, cuja estrela na Calçada da Fama de Hollywood apareceu vandalizada na manhã de quarta-feira.
Trump misturou campanha e negócios em diversas oportunidades. Promoveu eventos num resort na Flórida para mostrar como os funcionários eram felizes. Nas primárias republicanas, fez propaganda de produtos no meio de um comício. A campanha afirma que isso reforça a imagem de empresário vencedor.
Perdas financeiras
Mas isso pode estar afetando os negócios. Segundo a revista “Forbes”, a fortuna de Trump encolheu US$ 800 milhões em um ano, para US$ 3,7 bilhões (R$ 11,5 bilhões). A principal causa seria o desaquecimento do mercado imobiliário em Nova York. Mas há uma depreciação da marca Trump, que o magnata imprime na maior parte dos empreendimentos. Há indícios de queda no interesse das pessoas por seus hotéis, por conta das polêmicas. O jornal britânico “The Guardian” fez uma comparação e constatou que o novo empreendimento de Trump na capital americana tem preços até 40% menores do que outros do mesmo padrão na cidade. E o grupo já informou que futuros projetos podem ter nome diferente do sobrenome do candidato: Scion. Além disso, Trump também perdeu o contrato com a NBC, onde apresentava “O Aprendiz”, e a famosa loja de departamentos Macy’s deixou de vender sua linha de roupa masculina.
Na quarta-feira, diversos grupos protestaram diante do novo hotel e pediram o boicote aos empreendimentos de Trump:
— Ele é uma pessoa tóxica, que se recusa a negociar com os sindicatos, paga mal os trabalhadores. Temos que defender um boicote aos negócios. Ele só sentirá o quanto é rejeitado quando isso atingir seu bolso — afirmou Sarah, que pediu para não divulgar seu sobrenome, durante o ato.
Já Nancy Hwe, de 53 anos, segurava uma planta intitulada “mulher nojenta”, em referência à forma como Trump chamou a rival democrata, Hilllary Clinton, no último debate:
— Ele é racista, sexista, mentiroso. É o pior candidato que eu já vi em toda a minha vida.
Outros grupos estavam mais organizados. Sindicalistas pediam o boicote ao hotel para afetar os negócios do candidato bilionário. Mas quem estava em maior número eram os carteiros:
— Isso é uma vergonha para nós e para o país. Este prédio é histórico (o hotel é onde ficava a antiga sede dos Correios dos EUA) e agora está com este porco capitalista. Ele persegue minorias e sindicatos — esbravejou o presidente do Sindicato Nacional dos Carteiros, Kenneth Lerch.
Republicanos sofrem
Já a candidata democrata, Hillary Clinton aproveitou um comício na Flórida para atacar o novo empreendimento do magnata, afirmando que o hotel foi feito com mão de obra irregular.
— O hotel pode ser novo, mas a história é velha: ele contou com trabalhadores em situação irregular para fazer seu projeto mais barato. E a maioria dos produtos nos quartos foi fabricada no exterior — discursou ela, questionando a promessa de Trump de “colocar os EUA em primeiro lugar”.
Ainda na quarta-feira, Trump avisou ao partido que não tem mais agendado nenhum evento para levantar doações, num sinal de racha interno. Isso aumenta a pressão para os candidatos da legenda a outros cargos, como ao Congresso e legislativos estaduais, que dizem estar sofrendo nas pesquisas pela alta rejeição ao bilionário.
Trump também foi questionado sobre a promessa de colocar US$ 100 milhões do próprio bolso na campanha, embora os números informem apenas US$ 56 milhões em doações. Questionado por uma repórter da CNN sobre o assunto, o republicano apenas afirmou que chegará à cifra prometida, sem dar detalhes.