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Protestos marcam inauguração de hotel de Trump em prédio histórico

Diversos grupos levaram cartazes para rechaçar republicano em Washington

Aposentado colocou focinho de porco falso para protestar contra Trump Hotel em Washington
Foto: Henrique Gomes Batista
Aposentado colocou focinho de porco falso para protestar contra Trump Hotel em Washington Foto: Henrique Gomes Batista

WASHINGTON - A menos de duas semanas das eleições, o magnata Donald Trump fez uma pausa na campanha para inaugurar um novo hotel, em Washington. Localizado na Avenida Pensilvânia, a duas quadras da Casa Branca, o o Trump International Hotel já nasce sob polêmica. A inauguração — sob forte protesto de trabalhadores e democratas — foi vista como sinal de que Trump pode estar voltando a priorizar os negócios, já que continua ladeira abaixo nas pesquisas eleitorais.

Trump estava junto com toda a família e tentou se mostrar calmo — disse que espera uma grande vitória em 8 de novembro. Questionado se não é ruim tratar de negócios na reta final, afirmou que o empreendimento é um exemplo para o país:

— Meu tema hoje tem cinco palavras (na verdade, foram seis): “Abaixo do orçamento, antes do previsto”. Você não ouve muito estas palavras no governo. Isto (a inauguração do hotel) é um exemplo do que quero fazer para o nosso país — discursou o magnata, cuja estrela na Calçada da Fama de Hollywood apareceu vandalizada na manhã de quarta-feira.

Trump misturou campanha e negócios em diversas oportunidades. Promoveu eventos num resort na Flórida para mostrar como os funcionários eram felizes. Nas primárias republicanas, fez propaganda de produtos no meio de um comício. A campanha afirma que isso reforça a imagem de empresário vencedor.

Perdas financeiras

Mas isso pode estar afetando os negócios. Segundo a revista “Forbes”, a fortuna de Trump encolheu US$ 800 milhões em um ano, para US$ 3,7 bilhões (R$ 11,5 bilhões). A principal causa seria o desaquecimento do mercado imobiliário em Nova York. Mas há uma depreciação da marca Trump, que o magnata imprime na maior parte dos empreendimentos. Há indícios de queda no interesse das pessoas por seus hotéis, por conta das polêmicas. O jornal britânico “The Guardian” fez uma comparação e constatou que o novo empreendimento de Trump na capital americana tem preços até 40% menores do que outros do mesmo padrão na cidade. E o grupo já informou que futuros projetos podem ter nome diferente do sobrenome do candidato: Scion. Além disso, Trump também perdeu o contrato com a NBC, onde apresentava “O Aprendiz”, e a famosa loja de departamentos Macy’s deixou de vender sua linha de roupa masculina.

Na quarta-feira, diversos grupos protestaram diante do novo hotel e pediram o boicote aos empreendimentos de Trump:

— Ele é uma pessoa tóxica, que se recusa a negociar com os sindicatos, paga mal os trabalhadores. Temos que defender um boicote aos negócios. Ele só sentirá o quanto é rejeitado quando isso atingir seu bolso — afirmou Sarah, que pediu para não divulgar seu sobrenome, durante o ato.

Já Nancy Hwe, de 53 anos, segurava uma planta intitulada “mulher nojenta”, em referência à forma como Trump chamou a rival democrata, Hilllary Clinton, no último debate:

— Ele é racista, sexista, mentiroso. É o pior candidato que eu já vi em toda a minha vida.

Outros grupos estavam mais organizados. Sindicalistas pediam o boicote ao hotel para afetar os negócios do candidato bilionário. Mas quem estava em maior número eram os carteiros:

— Isso é uma vergonha para nós e para o país. Este prédio é histórico (o hotel é onde ficava a antiga sede dos Correios dos EUA) e agora está com este porco capitalista. Ele persegue minorias e sindicatos — esbravejou o presidente do Sindicato Nacional dos Carteiros, Kenneth Lerch.

Republicanos sofrem

Já a candidata democrata, Hillary Clinton aproveitou um comício na Flórida para atacar o novo empreendimento do magnata, afirmando que o hotel foi feito com mão de obra irregular.

— O hotel pode ser novo, mas a história é velha: ele contou com trabalhadores em situação irregular para fazer seu projeto mais barato. E a maioria dos produtos nos quartos foi fabricada no exterior — discursou ela, questionando a promessa de Trump de “colocar os EUA em primeiro lugar”.

Ainda na quarta-feira, Trump avisou ao partido que não tem mais agendado nenhum evento para levantar doações, num sinal de racha interno. Isso aumenta a pressão para os candidatos da legenda a outros cargos, como ao Congresso e legislativos estaduais, que dizem estar sofrendo nas pesquisas pela alta rejeição ao bilionário.

Trump também foi questionado sobre a promessa de colocar US$ 100 milhões do próprio bolso na campanha, embora os números informem apenas US$ 56 milhões em doações. Questionado por uma repórter da CNN sobre o assunto, o republicano apenas afirmou que chegará à cifra prometida, sem dar detalhes.