O preparador físico Fábio Mahseredjian aquece os jogadores,
Taffarel bombardeia os goleiros, Tite anda pelo centro do campo, e, na lateral,
pelo menos quatro pessoas estão envolvidas num processo de levantar uma haste
fina e preta com uma câmera no topo. É a nova rotina de início de treinamentos
do Brasil.
Num manuseio ainda cheio de cuidados, de repente o suporte estica
a ponto de filmar todo o treino da Seleção, que investe em tecnologia para
turbinar as chances de ir à Copa de 2018.
Matheus Bachi, auxiliar técnico e tecnológico, e Mauricio
Dulac, analista de desempenho, são os mais íntimos do novo integrante da
comissão técnica, o tripé norte-americano que propicia imagens aéreas das
atividades. Ele substitui métodos antigos. Antes, alguém filmava da arquibancada
para ter uma tomada mais aberta do campo.
Ou então, no Corinthians, grande parte dessa mesma comissão
utilizava uma grua que, como um elevador, subia com um analista e uma câmera.
Um objeto impossível de ser transportado para todo lugar onde vai a Seleção.
– Além da particularidade de ter uma altura maior para
filmar, agora conseguimos ficar na beira do campo. No momento do treino já
temos a edição. O Matheus pede na hora para cortar tal lance. Trabalhamos muito
com imagens do treino para corrigir movimentos não tão bons, em conversas individuais
ou reuniões do grupo. É totalmente diferente estar em campo, ver contato,
velocidade, força – explicou Dulac, que trabalha no CPA (Centro de Pesquisa e
Análise) da CBF em conjunto com Thomáz Araújo, responsável pela análise de
adversários.
A câmera também fotografa, e Matheus Bachi colhe informações
de seu time e dos rivais por meio de fotos. A primeira chance de gol do Brasil
nos 5 a 0 sobre a Bolívia, uma finalização de Gabriel Jesus, surgiu num lance
em que a zaga boliviana estava posicionada de maneira semelhante a uma imagem
do empate sem gols contra o Chile, mostrada antes aos jogadores (a imagem abaixo, distribuída pela comissão técnica aos jogadores, mostra, iluminados, o jogador desmarcado a fazer o lançamento e seu companheiro se infiltrando na linha de defesa adiantada da Bolívia. Em seguida, o vídeo do primeiro lance de perigo do brasil diante dos bolivianos, numa construção bem parecida aos olhos dos auxiliares de Tite).
– Queríamos mostrar exaamente que a linha estava alta,
proporcionar esse espaço para infiltração. Mostramos para os atletas que, com a
bola descoberta, teríamos possibilidade de fazer isso aqui (o lançamento para o
atacante). Até comentamos isso lá em cima quando o Gabriel teve essa chance,
foi um lance de linha alta – afirmou Dulac.
O novo acessório é parte do investimento em modernidades. Na
vitória por 2 a 1 sobre a Colômbia, por exemplo, foi testada uma câmera que tem
visão total do gramado. Na verdade, são duas, imóveis, cada uma virada para um
lado. As imagens se juntam e dão uma visão impressionante do que está
acontecendo (abaixo, um frame tirado pela comissão técnica da filmagem da vitória do Brasil, em Manaus, em cima da Colômbia).
A comissão técnica – que faz questão de valorizar o respaldo
da CBF no investimento – tem trabalhado em conjunto com desenvolvedores para
ter produtos que atendam às suas necessidades específicas. Programas de scout
(estatísticas), chips e GPS anexados ao corpo do atleta que entregam uma leva
de informações, isso tudo já existe e é acessível a diversos clubes. Tite e sua
comissão querem algo mais peculiar.
– É um sistema que vai nos permitir montar nossos
protocolos. Vai se adaptar ao que queremos. O GPS não nos dá a questão tática,
a técnica do atleta. Vamos poder controlar a velocidade do passe, quanto tempo
cada jogador fica com a bola, a movimentação simultânea de todas as linhas –
disse Matheus.
Essas duas câmeras, que estão sendo trabalhadas para também ficarem
sobre o tripé, identificam a movimentação pela cor dos coletes (nos treinos) ou
camisas (jogos) após um reconhecimento prévio, portanto, não exige uso dos
chips.
A intenção é apressar cada vez mais as correções. Agora, o
que sai errado no primeiro tempo já é visto no intervalo. Enquanto Matheus se
ocupa da parte tática, Dulac foca nas estatísticas, e filtra de acordo com seus
interesses: por exemplo, escolhe vídeos de todas as vezes em que o Brasil
pressionou o adversário no campo de ataque. Se Tite achar necessário, exibe
isso num projetor entre a primeira e etapa final.
Um próximo passo será um
aplicativo para oferecer aos jogadores o conteúdo de ideias a serem aplicadas
no time. Em entrevista ao GloboEsporte.com, Tite mostrou uma tela que seus
convocados acessam. São vídeos de no máximo 1:30 minuto de lances que ocorrem
pelo mundo, e que revelam conceitos que devem usados na Seleção. O aplicativo
facilitará o acesso.
Brasil x Venezuela
Local: Estádio Metropolitano, em Mérida (VEN)
Data e horário: terça-feira, às 21h30 (horário de Brasília)
Escalação: Alisson,
Daniel Alves, Marquinhos, Miranda e Filipe Luís; Fernandinho; Paulinho,
Renato Augusto, Willian e Philippe Coutinho; Gabriel Jesus.
Desfalque: Douglas Costa, Marcelo e Casemiro (lesionados); Neymar (suspenso).
Pendurados: Daniel Alves, Filipe Luis, Giuliano, Lucas Lima e Miranda
Arbitragem: Victor Carrillo (PER), Jonny Bossio e Raúl López Cruz (PER).
Transmissão: TV
Globo (com Galvão Bueno, Casagrande, Junior e Arnaldo Cezar Coelho) e
SporTV (com Milton Leite, Lédio Carmona e Edinho). O GloboEsporte.com
também transmite ao vivo, a partir das 20h, e acompanha em Tempo Real.