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Pequim vai despejar 1,5 milhão de pessoas para Olimpíada, diz ONG

PEQUIM - Cerca de 1,5 milhão de moradores de Pequim serão despejados antes da Olimpíada de 2008, muitos dos quais a contragosto, informou nesta terça-feira uma entidade suíça. O governo chinês negou a informação.

O Centro para os Direitos de Habitação e o Despejo (Cohre, na sigla em inglês), com sede em Genebra, disse que os moradores muitas vezes são expulsos das suas casas quase sem aviso prévio ou indenização, por causa das gigantescas obras na cidade para receber os Jogos Olímpicos.

- Em Pequim, e na China como um todo, o processo de demolição e despejo é caracterizado pela arbitrariedade e falta de um devido processo - disse relatório do grupo.

Após a demolição das suas casas, os moradores são frequentemente obrigados a se recolocar longe de suas comunidades e locais de trabalho, com redes inadequadas de transporte aumentando significativamente seu custo de vida, alertou o grupo.

O comitê organizador dos Jogos e a chancelaria chinesa disseram que o relatório não tem fundamento e que seus números foram muito inflados - só 6.037 pessoas teriam sido despejadas desde 2002 para a construção de estádios olímpicos.

- Durante o processo, os cidadaos tiveram a indenização pelos bens acertada. Nem uma única pessoa foi forçada a sair de Pequim - disse Jian Yu, porta-voz da chancelaria.

Em toda a China, disputas entre moradores e empreendedores imobiliários se tornaram comuns neste período de forte desenvolvimento, que engole zonas rurais e bairros antigos para dar lugar a arranha-céus e shopping centers.

As indenizações nem sempre são adequadas, segundo a ONG, e até 20% dos envolvidos acabam sofrendo um declínio significativo nas suas condições de vida.

- Assim que você é despejado, perde parte de sua subsistência - disse um morador, segundo o grupo.

Em um bairro, muitos dos despejados dizem que nem se tivessem recebido indenização poderiam pagar condomínio, luz e á gua nas novas casas.

Embora as desapropriaçoes sejam comuns em cidades de todo o mundo que preparam grandes eventos, o grupo disse que, na China, há pouco espaço para que a imprensa ou entidades de bairro divulguem abusos ou proponham alterações, já que tudo é rigidamente controlado pelo Partido Comunista.

Moradores que falaram aos pesquisadores da ONG também relataram corrupção dos governos locais, que segundo eles aceitavam pagamentos ilegais de construtoras.

O grupo citou vários casos de advogados e ativistas presos, como Ye Guozhu, sentenciado em dezembro de 2004 a quatro anos de prisão por organizar protestos contra as desapropriações. Particularmente vulneráveis são os migrantes pobres de origem rural, que costumam morar na periferia.