Série ASérie BEuropa

- Atualizado em

Alex garante: "Ninguém terá o prazer de ver o Inter na segunda divisão"

Envergonhado pela situação, capitão reconhece débito com torcida e assume protagonismo para ajudar o Inter a fugir do rebaixamento no Brasileirão

Por Porto Alegre

 



Há quatro meses, Alex convive com sentimentos diferentes. O amor pelo Inter não diminuiu. Até por isso, o fracasso da equipe no Brasileirão o faz se sentir envergonhado. A preocupação em manter o time na Série A o fez perder horas de sono. Após tantos títulos, o meia se vê  em débito com a torcida. Para amenizar esta conta, promete lutar para evitar o rebaixamento.

LEIA MAIS
> Carvalho pede foco no Fla para evitar "tragédia"
> Briga coloca Anderson em xeque no Inter
> Inter suspende Anderson e William após briga

A sequência de 14 partidas sem vitória – com nove derrotas e cinco empates – limou a possibilidade de título e aproximou o time na zona de rebaixamento. Há mais de um mês entre os quatro piores da competição, o Colorado convive com o fantasma da queda. O que aflige o capitão. Na tarde da última sexta-feira, em uma das suítes do Beira-Rio, Alex conversou por 30 minutos com o GloboEsporte.com e comentou sobre a fase conturbada:

– É o momento mais tenso da minha carreira. Não quero, não desejava viver isso nunca. Estou muito envergonhado. Você perde a paz, o sono. Não pode deitar no travesseiro tendo feito o melhor. Temos buscado fazer o melhor, mas você fica com autoestima baixa, sabendo que está devendo. Veremos se conseguiremos pagar essa dívida e chegar em dezembro com este alívio.

Alex meia Inter (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)Alex tem sofrido com situação do Inter (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)


A bagagem, principalmente no clube, e o respaldo da torcida dão ao meia o estofo para ajudar os parceiros, em especial os garotos, a não desanimar. A titularidade e braçadeira recuperadas com a chegada de Celso Roth, o colocaram novamente como protagonista. Falta o gol, que não sai há mais de dois meses e que ele espera saldar no duelo contra o Flamengo, neste domingo, às 17h.

Confira trechos da entrevista: 

GloboEsporte.com - O que fez o Inter disputar a permanência na Série A? 

Alex - É difícil explicar. Um ano promissor, até pelo lado de renovar a equipe, com jogadores jovens, vencemos o Gauchão, iniciamos o Brasileirão bem, mas ficamos muitas partidas sem ganhar. Houve uma queda de rendimento, individual e coletiva. Com duas, três vitórias, não estaríamos nesta situação. Isso acarreta em uma pressão muito grande e nos traz até estas oito rodadas com uma carga de tensão, preocupação, medo, uma atmosfera que não é positiva. Os últimos jogos. Estas rodadas nos surpreenderam e por isso buscamos algo para terminar. Se pensarmos muito, a carga emocional pesa. Precisamos ter equilíbrio e agir daqui para frente.

Preciso mostrar confiança. Eles esperam segurança. A vida não é feita de glórias. O pessoal precisa saber como ficar resistente. O trabalho duro precisa ser o ano inteiro"
Alex, capitão do Inter

O que pesou neste período sem vitórias? 
É algo do futebol, o inesperado. Você não vê um time do Inter ficar tanto tempo sem vencer. Isso pega de surpresa. Você nunca acredita que ficará duas, três partidas sem vencer. Fugiu do nosso controle. Como criamos uma gordura boa, parecia que não chegávamos nem perto da zona. Não vimos isso passar. Foi um tsunami. Tínhamos convicção que daríamos a volta o quanto antes, mas não ocorria. Foi nos consumindo, corroendo, até chegar a esta situação.

Vocês já entenderam o que ocorreu para explicar essa queda de rendimento no Brasileirão? 
Tivemos quedas anímica, emocional e de desempenho. Quando não consegue fazer, isso o corrói, vai matando pouco a pouco. Naturalmente falta o resultado. Você precisa saber vencer jogos em que você não joga bem, não é melhor que o adversário, seja dentro ou fora de casa. Foi passando o tempo. Talvez de uma maneira muito rápida e não conseguimos recuperar nosso potencial. Até hoje estamos em busca. Acho que melhoramos nossa concentração, doação. Isso também foi um ponto que ficou para trás. Pelo menos encontramos o básico para as individualidades aparecerem.

O que passa pela sua cabeça neste momento? 
Mesmo quando pude sair, jamais pensei nisso. Sempre quis ficar. É o momento mais tenso da minha carreira. Não quero, não desejava viver isso nunca. Estou muito envergonhado. Você perde a paz, o sono, poder deitar no travesseiro tendo feito o melhor. Temos buscado fazer o melhor, mas você fica com autoestima baixa, sabendo que está devendo. Veremos se  conseguiremos pagar essa dívida e chegar em dezembro com este alívio.

alex inter internacional gol brasil de pelotas beira-rio gauchão (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)Alex retomou o protagonismo com Celso Roth (Foto: Diego Guichard/GloboEsporte.com)

Você sofreu pressão da torcida? 
Eu também sofri, mas. Sou reservado, caseiro em qualquer momento. A história no clube faz o torcedor confiar. Eu recebi apoio. Ninguém entendia muito. O maior declínio foi o jogo com o Vitória (derrota por 1 a 0). O ano é típico para a decepção. Mas depois todo mundo se abraçou. O torcedor nos apoiou. Entendemos que juntos somos mais fortes para brigar por este caminho difícil.

As voltas de Fernando Carvalho e Chumbinho e a chegada de Celso Roth o colocaram novamente como protagonista. Você voltou ao time, é o capitão. O que isso o ajuda nesta caminhada para liderar o Inter para fugir do rebaixamento? 
Eu nunca deixei de fazer o que faço hoje. Óbvio que quando joga e tem a possibilidade de colocar a cara, isso naturalmente tem a notoriedade maior. Quando o Celso resolveu me colocar em Fortaleza na lateral esquerda... desde quando o Fernando voltou me coloquei à disposição. Ele me conhece muito bem, assim como o Chumbo. Me jogaram essa responsabilidade. Como eu já fazia, não tem problema. Mas como estou atuando, posso comprar esse olho no olho com o torcedor. O importante é que me sinto seguro para utilizar tudo o que conquistei na minha vida de bagagem. A responsabilidade é de todos, mas me sinto mais útil, importante para fazer alguma coisa.

Está faltando o gol? 
Falta, falta. Nem sempre você tem possibilidades. Tenho a responsabilidade de ter o protagonismo, seja do gol ou assistência. E quando falta isso me incomoda. É um grande incômodo que tenho. Mas no momento certo ele acabará saindo. Não deixei de treinar, não desaprendi. E a coragem para executar.... Estou bem preparado.

 Alex no Inter

- 316 jogos
- 78 gols
- Campeão gaúcho em 2004, 2005, 2008, 2014 e 2015
- Campeão da Libertadores 2006
- Campeão do Mundial 2006
- Campeão da Recopa 2007
Campeão da Sul-Americana 2008

Você divide quarto com o Valdívia. Contra o São Paulo, ele perdeu um pênalti, virou alvo da torcida e se abateu. Como é buscar reanimar os mais jovens? 
Eu tenho uma estrada mais longa, com uma casca maior. Já passei por algumas coisas, embora não tenha sido algo assim. Preciso mostrar confiança. Eles esperam segurança. E acreditam. O Valdívia é um menino bacana, do bem, que sabe ouvir. A vida não é feita de glórias. O pessoal precisa saber como ficar resistente. O trabalho duro precisa ser o ano inteiro. O trabalho é de mostrar o potencial deles e que coloquem para fora. Há muita gente que acredita neles.

A torcida abraçou o time nesta fase. Como você vê essa atmosfera criada nos últimos jogos no Beira-Rio? 
Cada jogo é uma guerra. A mobilização é como se lutasse por um título, só que quando você está em uma decisão é diferente. Há confiança, ambiente positivo.  Porém, fica também no fio da navalha. É muito bacana o que a direção fez para chamar o maior número de torcedores e tentar reconquistar a torcida, que estava magoada. O pessoal diz agora que tem gosto de nos ver competir. Estamos mais unidos que antes. Até por isso demos uma melhorada.

Você declarou que o Inter não cairá. Ainda mantém essa confiança? 
Uma família, quando tem alguém doente, espera do médico que passe a confiança diante do conhecimento que fará de tudo para salvar seu familiar. O torcedor pensa igual. Eu não falei como político. Eu falo com o meu coração. Eu sei o que nos compete. Lutaremos contra tudo e contra todos. Eu disse que não nos entregaríamos e não nos entregaremos. Nosso emocional estará forte. Eu reitero que ninguém terá o prazer de ver o Inter na segunda divisão. Conto com sua ajuda.

Alex meia Inter (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)Alex tem 78 gols em 316 partidas pelo Inter (Foto: Tomás Hammes / GloboEsporte.com)

 O que o Inter fará para escapar? 
Todo mundo daria a vida para sair desta situação. Tem sido um aprendizado. A vida é assim. Você não pode pensar que nunca ocorrerá. Em 2013 não tínhamos o Beira-Rio. Isso servia de muleta. Hoje, sem isso, vivemos de novo três anos depois. É momento de repensar. Eu digo que temos que entregar a vida. O povo tirará desta situação e os anos de glória voltarão.

Há como esquecer o número mágico dos 45 pontos? 
Não sai da cabeça, mas quero os três pontos do Flamengo, que são necessários. Eles escaparam contra o Botafogo, quando a rodada nos ajudou. Esse do Flamengo temos que ir atrás. É jogo a jogo. Agora, quando vencemos, parece que não andamos tanto. Queremos chegar neste objetivo final a partir de domingo.

 Tenho a responsabilidade de ter o protagonismo, seja do gol ou assistência. E quando falta isso me incomoda. É um grande incômodo que tenho. Mas no momento certo ele acabará saindo"
Alex

O Flamengo está embalado. Qual será a postura do Inter? 
Agressivo tem que ser. Atacar mais ou menos depende de como agiremos conforme a nossa estratégia. Você pode marcar no ataque, mas não ser tão efetivo. Você pode dar dois passos para trás, não deixar o rival jogar e jogar no contra-ataque. Estaremos bem preparados. Até quem não jogar sairá daqui destruído.

 O que o Flamengo encontrará? 
Há jogadores experientes lá que já sabem como é o Beira-Rio. O estádio estará explodindo de energia. Tivemos alguns momentos que não cativamos o torcedor, mas eles encontrarão um grande adversário fora de campo alimenta, para nem que seja na marra buscar a vitória e suar sangue.

O que significará a vitória? 
Cada vitória significa esperança. Não podemos perdê-la nunca. Esperança do verbo esperançar, não do verbo esperar. O grande (escritor) Mário Sergio Cortella já disse. A esperança de ir em busca, não espera ocorrer. Cada três pontos são uma grande vitória, uma batalha dura, que fortalece a esperança de escaparmos.

Já deu para pensar no Gre-Nal? 
Pensaremos lá. Sei que está chegando, mas não há como desviar o foco. Está tudo muito difícil. O que nos importa hoje é o Flamengo. 

Confira as notícias do esporte gaúcho no globoesporte.com/rs