25/10/2016 21h26 - Atualizado em 25/10/2016 21h33

Estudantes fazem novas ocupações em escola estadual e na Ufes

Agora, seis escolas estaduais e dois Institutos Federais estão ocupados.
Na Universidade Federal, o Cemuni V foi ocupado na noite desta terça.

Naiara Arpini e Mariah FriedrichDo G1 ES

Cemuni V foi ocupado na Ufes (Foto: Luana Cabral/ Arquivo Pessoal)Cemuni V foi ocupado na Ufes (Foto: Luana Cabral/ Arquivo Pessoal)

Mais uma escola estadual foi ocupada por alunos nesta terça-feira (25). A ocupação da EEEFM Rômulo Castello, na Serra, foi divulgada em uma página no Facebook e a ocupação foi confirmada pela Secretaria Estadual de Educação (Sedu). Os alunos disseram que 100 pessoas passaram o dia na escola e 25 vão dormir. Na Ufes, a nova ocupação aconteceu no Cemuni V. O prédio abriga os cursos de Comunicação Social e Música.

Ao todo, seis escolas estaduais e dois Institutos Federais estão ocupados por estudantes, em protesto contra à Proposta de Emenda à Constituição que limita o aumento dos gastos públicos pelos próximos 20 anos, a PEC 241. Na Ufes, além do Cemuni V, os universitários também ocuparam a reitoria, o IC2 e o Cemuni 6.

A escola Filomena Quitiba, em Piúma, também teve as atividades paralisadas durante esta manhã, das 7h as 11h, de acordo com o Grêmio Estudantil. Não há informação sobre uma possível ocupação permanente na instituição.

Na escola Almirante Barroso, a ocupação recebeu a apresentação do grupo de samba Regional da Nair, na noite desta terça-feira. O show foi transmitido, ao vivo, na página da ocupação, no Facebook.

"A gente sempre assumiu a postura de apoiar os movimentos em que a gente acredita. Em setembro tocamos na feira do MST na Costa Pereira, também fomos para a ocupação da Ales, em 2013", conta Caetano Monteiro, um dos membros do Regional.

O Regional também aproveitou a visibilidade da sua página no facebook pedir doações para a escola.  "Acho que é uma ocupação extremamente importante para ampliar o diálogo sobre educação e expor o absurdo da PEC 241 e tudo de ruim que representa. Não existe país que cresceu congelando investimento em educação", completa.

Grupo de samba Regional da Nair se apresenta na Almirante Barroso (Foto: Reprodução / Facebook)Grupo de samba Regional da Nair se apresenta na Almirante Barroso (Foto: Reprodução / Facebook)

As escolas estaduais ocupadas são:
- Almirante Barroso, em Goiabeiras, Vitória.
- Professor Agenor Roris, em Itaparica, Vila Velha.
- Francelina Carneiro Setúbal, em Itaparica, Vila Velha.
- Professora Maria Penedo, em Itacibá, Cariacica.
- Colégio Estadual, no Forte São João, Vitória.
- Rômulo Castello, em Carapina, na Serra

Os Ifes ficam em São Mateus e Cachoeiro.

A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou, nesta terça-feira (24), que as aulas foram suspensas e profissionais estão acompanhando o movimento, no intuito de manter as aulas e evitar prejuízos aos estudantes. "Professores acompanham o movimento no intuito de retomar as aulas o mais breve possível e evitar prejuízos aos 6.673 estudantes das seis unidades, principalmente, devido a realização das provas do Enem", diz nota.

A Sedu informou, ainda, que "devido a manifestações realizadas na entrada das unidades, as aulas das escolas estaduais Florentino Avidos (Vila Velha) e Mário Gurgel (Vila Velha) foram suspensas, nesta terça-feira (25), para evitar maiores transtornos aos 1.914 estudantes das duas unidades".

O Ifes informou que respeita o direito dos estudantes de se manifestarem e entende que são justas as reivindicações que vão ao encontro de uma educação pública cada vez melhor.

A Ufes disse que uma comissão se reuniu com a direção do DCE para garantir a liberação do prédio da reitoria para as atividades administrativas, mas o movimento disse que não haverá negociação até a finalização da votação da PEC no Congresso Nacional.

Atividades
Em algumas das escolas, os próprios alunos estão organizando aulas, oficinas e debates.
Eles contam com a ajuda de alguns voluntários, que são convidados ou se oferecem para elaborar alguma atividade.

Nas redes sociais, os alunos divulgaram que tiveram atividades como aula sobre a PEC 241, aulas de ioga, educação ambiental, filosofia e português; debates sobre a importância das cotas nas Universidades, gênero, gravidez na adolescência, feminismo; e oficinas de teatro, por exemplo.

Números
Nas ocupações das escolas estaduais, a Sedu informou, nesta segunda-feira (24), que tem 30 pessoas na Almirante Barroso, 15 na Professor Agenor Roris, 25 na Francelina Carneiro Setúbal, 20 na Professora Maria Penedo e 25 no Colégio Estadual. Os organizadores na Estadual dizem 62; na Penedo, 64; na Francelina, 37; e na Almirante, passaram 350 pessoas durante o dia. Os estudantes da Agenor não responderam.

Nesta terça-feira, nem Sedu, nem as organizações das ocupações falaram de números de pessoas nas escolas, com excessão dos alunos da Rômulo Castello.

Na ocupação da reitoria da Ufes, o diretor de organização do DCE, Raphael Simões, disse que há, em média, 10 estudantes ocupando, sendo que em alguns horários do dia esse número aumenta ou diminui.

Motivo
Os movimentos são em protesto contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que estabelece um limite para os gastos públicos, e contra a reforma do Ensino Médio proposta pelo governo.

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (25), em segundo turno, por 359 votos a 116 (e 2 abstenções), o texto-base da PEC 241. Quando o texto foi aprovado em primeiro turno, há cerca de duas semanas, 366 deputados haviam votado a favor, enquanto 111, contra, e dois se abstiveram.

A PEC 241 é uma das principais propostas do governo de Michel Temer . Para os defensores da proposta, o gasto público chegou a um patamar insustentável e seu crescimento precisa ser limitado. Para os críticos, a PEC vai prejudicar os mais pobres e estrangular os gastos sociais. A proposta reduzirá o peso do Estado na economia, sem o aval das urnas.

A Câmara dos Deputados aprovou a PEC 241 em votação em primeiro turno. A proposta final será submetida a uma segunda votação na Câmera e seguirá para o Senado antes de entrar em vigor. Veja os principais pontos que estão no texto que foi aprovado pela Câmara.

Apoio
Órgãos como a Defensoria Pública manifestaram apoio do movimento nacional de ocupação das escolas públicas por estudantes e manifestantes a favor da educação.

“A instituição também emitiu uma nota, encaminhada às secretarias de educação, com recomendações quanto ao tratamento que dever ser dado aos estudantes e manifestantes, como a manutenção do direito de liberdade de expressão e de pensamento e a promoção constante do diálogo como ferramenta de negociação”, disse.

Organização
O professor de sociologia da escola Almirante Barroso, Felipe Sellin, contou que os professores estão impressionados com a organização dos alunos. "Não sou ocupante, mas estive lá no final de semana e hoje. Podemos dizer que a ocupação está muito bonita. Os alunos estão organizados e estudando. Eles fazem de tudo lá. A escola está extremamente limpa, cheia e com muita gente se propondo a contribuir", disse.

Os estudantes organizam tudo: limpeza, programação das aulas e das oficinas, alimentação e alojamento. O professor disse ainda que ele e os colegas não sabiam que a ocupação aconteceria. "Foi uma organização dos alunos, inteiramente feita por eles. Na medida que eles ocuparam na sexta-feira, a gente percebeu que as reivindicações são muito justas. Algo que a gente mesmo está criticando", disse.

As decisões durante a ocupação são tomadas sempre em assembleias. "Os professores não participam dessas reuniões. Eles estão inclusive em processo de negociação com os eventos que acontecem na escola. Nas eleições, que tem a escola como local de votação, eles estão negociando com a Justiça Eleitoral. Na semana seguinte acontece o Enem, e eles estão negociando com a comissão de organização", completou.

Em assembleia de alunos na noite deste domingo (23), eles decidiram trocar o nome de Almirante Barroso por Fátima Soares, em homenagem à ex-cozinheira da escola. Segundo eles, a ex-funcionária nunca deixou faltar merenda para os estudantes e mesmo em tempos de gastos reduzidos, levava ingredientes de casa, comprados com o próprio dinheiro.

Escolas ocupadas
A escola Rômulo Castello, localizada em Carapina, na Serra, foi ocupada na tarde desta terça-feira (25). A ocupação foi comunicada em uma página no Facebook.

O Colégio Estadual do Espírito Santo, localizado no Forte São João, em Vitória, foi ocupado pelos estudantes durante o protesto dos alunos do Ifes, na tarde desta segunda-feira (24). Os alunos comunicaram a ocupação em uma página no Facebook.

A ocupação da escola Francelina Carneiro Setúbal também foi comunicada nesta segunda-feira (24), pelo Facebook.

A escola Maria Penedo, também conhecida como Polivalente de Itacibá, em Caracica, foi ocupada pelos estudantes secundaristas na tarde desta segunda-feira (24).

Nas escolas Almirante Barroso e Agenor Roris, as ocupações começaram na sexta-feira (21). Nesses locais, os alunos participam de aulões e oficinas, ministradas por professores voluntários.

Ocupação em escola de Vila Velha (Foto: Reprodução/Facebook)Ocupação em escola de Vila Velha (Foto: Reprodução/Facebook)
Ocupação em escola de Vitória (Foto: Reprodução/Facebook)Ocupação em escola de Vitória (Foto: Reprodução/Facebook)
Ocupação na Escola Professora Maria Penedo (Foto: Reprodução/Facebook)Ocupação na Escola Professora Maria Penedo (Foto: Reprodução/Facebook)

Sem internet e sem água
Na página Ocupa Almirante, uma publicação diz que a maioria das escolas ocupadas os alunos estão sem internet, o que estaria dificultando a comunicação entre a organização do movimento. Na escola Rômulo Castello, alunos reclamam que estão sem água, devido ao racionamento no município da Serra. Eles pedem doação de água mineral.
 

Agressão foi comunicada em página do Facebook (Foto: Reprodução/ Facebook)Agressão foi comunicada em página do Facebook
(Foto: Reprodução/ Facebook)

Agressão
Na pagina Ocupa Estadual, uma publicação diz que a presidenta do Grêmio, Margarida Maria Alves foi agredida por um vigilante da escola durante a ocupação. A Sedu foi procurada para dar um posicionamento, mas não respondeu até o final da reportagem. 

Ifes
Os estudantes de alguns campi do Ifes estão mobilizados em protesto contra a PEC 241, a reforma do ensino médio e o projeto da escola sem partido. Nas ocupações, os alunos organizam atividades, atos públicos e debates.

Um dos prédios do Campus São Mateus está ocupado por alunos desde o dia 11 de outubro. Segundo o Ifes, a direção tem mantido o diálogo com os estudantes para que o prédio seja desocupado e a rotina do campus volte à normalidade.

"Os estudantes concordaram em liberar o acesso dos demais alunos ao prédio Anexo II para aulas, a partir desta semana. As aulas serão alternadas com atividades pertinentes à ocupação. Também será liberado o acesso aos laboratórios localizados no prédio ocupado. As atividades administrativas estão ocorrendo normalmente no campus", disse o Instituto.

No Campus Cachoeiro de Itapemirimx, a ocupação teve início na segunda-feira (17). As atividades administrativas estão ocorrendo normalmente, mas as aulas estão suspensas.

"O Instituto Federal do Espírito Santo respeita o direito dos estudantes da manifestarem suas reivindicações e entende que são justas as reivindicações que vão ao encontro de uma educação pública cada vez melhor", completou a nota.

Ufes
Em nota, a Administração Central da Ufes informou que o prédio da Reitoria, situado no campus de Goiabeiras, está fechado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) desde a noite desta segunda-feira (24) devido ao movimento nacional de ocupação de universidades públicas.

Uma comissão formada pela Reitoria, composta pela pró-reitora de Graduação Zenólia Figueiredo, pelo pró-reitor de Assuntos Estudantis e Cidadania Gelson Junquilho, e pelo prefeito universitário Renato Schwab, se reuniu na manhã desta terça-feira (25) com a direção do DCE para garantir a liberação do prédio para as atividades administrativas.

A resposta do movimento foi de que, enquanto não for finalizada a votação da PEC no Congresso Nacional, não haverá nenhum tipo de negociação.

"No final da votação da PEC vamos convocar uma assembleia da ocupação para ver as próximas ações. Como tem a possibilidade de acabar de madrugada, vamos marcar para amanhã de manhã. Estamos acompanhando ao vivo a votação no prédio da reitoria, e estamos convidando todos os estudantes”, disse Raphael Simões, diretor de organização do DCE.

"Os estudantes foram informados dos prejuízos que a ocupação plena causa ao funcionamento da Universidade", finalizou a nota da Ufes.

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