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Dez anos da Série B: personagens e histórias do título da redenção do Galo

O GloboEsporte.com relembra a conquista - que completa uma década neste 18 de novembro - com lembranças de jogadores que participaram da campanha campeã

Por Belo Horizonte

Dezoito de novembro de 2006. Data que marca a virada de página no capítulo mais triste da história do Clube Atlético Mineiro. Sete meses e 38 jogos depois, o Galo conquistava o título da Série B e o direito de retornar à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Alívio para milhões de atleticanos que sofreram com a queda, aguentaram provocações de rivais, mas que nunca abandonaram o time - que teve, naquele ano, a melhor média de público entre todas as equipes, de todas as séries. Nas 16 partidas que fez em casa, levou mais de 605 mil torcedores (média de quase 32 mil por jogo).

 


O título da Série B veio com a vitória de 1 a 0 em cima do Ceará, no Castelão, gol de Marinho logo no primeiro minuto de jogo (reveja os melhores momentos no vídeo acima). A conquista foi longe de casa, mas a festa foi em Belo Horizonte. Dia 25 de novembro, o Galo empatou com o América-RN por 2 a 2. Festa da torcida, com Beth Carvalho cantando no gramado: "Vou festejar, vou festejar!". Não cabia todo mundo no Mineirão. Muitos torcedores foram para o Independência, onde assistiram ao jogo em telões (relembre no vídeo abaixo).

 

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De 2006 para cá, muita coisa mudou. Mas o time ainda patinou nos dois anos seguintes. Em 2007, chegou a ter oito treinadores, entre efetivos e interinos (Levir Culpi, Tico dos Santos, Zetti, Marcelo Oliveira, Silas, Jorge Valença e Leão). Em 2008, nenhum título e luta para não cair novamente para a segunda divisão. A arrancada começou, de verdade, em 2009. E teve auge nos anos de 2013 e 2014, com a conquista da Taça Libertadores, da Copa do Brasil e da Recopa. Nos últimos três anos, o Galo está sempre entre os primeiros colocados do Brasileiro.

O GloboEsporte.com relembra a conquista e bate um papo com alguns jogadores que participaram da campanha campeã de 2006. O Atlético-MG que venceu o Ceará, comandado pelo técnico Levir Culpi, teve Diego Alves, Luisinho Netto, Daniel Marques, Marcos e Thiago Feltri; Rafael Miranda (Danilinho), Márcio Araújo, Bilu, Marcinho e Éder Luis (Galvão); Marinho (Tchô).

Alguns, como o autor do gol do título, o atacante Marinho, já penduraram as chuteiras. O lateral Luisinho Netto virou fazendeiro. Outros ainda estão correndo atrás da bola, como o goleiro Diego Alves - que cumpriu bem a função de substituir Bruno na meta atleticana - e o volante Rafael Miranda, revelado na base alvinegra e que está no futebol português. Confira, abaixo, lembranças, histórias e o momento atual de alguns dos protagonistas da conquista de 2006.


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diego alves

Diego Alves Valencia (Foto: Getty Images)Diego Alves, hoje no Valencia, foi um dos destaques do Galo na campanha de 2006 (Foto: Getty Images)




- Chegou uma hora que a situação estava bem crítica, com sequência de derrotas. A chegada do Levir foi determinante. Estávamos em 14º. Duas histórias me marcaram: na primeira reunião ele falou que a gente ia ser campeão da Série B e levar o Atlético para onde ele merece, mas primeiro iríamos trabalhar muito. A reunião ficou na cabeça de todos. Quando terminou o ano conversamos com ele e foi a chave para arrancar e conquistar o título. Outra história engraçada é que a gente sempre gostava de escutar uma música do grupo Revelação antes de ir para os jogos e acabou virando o hino do time. 

- O titulo foi a consagração do trabalho. Quando estava numa situação difícil, conseguimos colocar o Atlético na zona de classificação e o titulo veio consagrar nosso trabalho. Aprendi muito nesse ano a suportar pressão, se impor e mostrar personalidade. O Atlético pede por isso. Eu aprendi muita coisa e levo sempre isso. É uma coisa marcante que ficou na historia do clube e ficamos muito feliz em fazer parte deste momento no Atlético Mineiro.


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Luisinho Neto e seu filho em partida de futebol (Foto: Arquivo pessoal )Luisinho Netto, acompanhado do filho: parou de jogar em 2010 (Foto: Arquivo pessoal)







- Todos os jogos foram batalhas importantes, até pela responsabilidade de cada um jogar por estar no Galo e devolver o Galo para a Série A. Naquele ano, como diz na língua do futebol, fechamos todo mundo. Fizemos um pacto nas concentrações, as famílias conviviam com todo mundo junto. Foi muito familiar o ambiente que o Levir conseguiu formar. Cada vitória era comemorada com a família, tinha, nas concentrações, visita das famílias. Foi um ano bem marcante.

- Terminei a carreira em 2010, no Mixto de Cuiabá. Ainda tenho contato com o Roni, Lima, Bilú, Danilinho, Marcinho, Diego. Já tinha uma fazenda quando jogava, e agora continuo mexendo com gado. Além disso, sou assessor parlamentar da câmara de vereadores de Curitiba junto com o vereador Paulo Rink (também ex-jogador).


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lima

Lima, zagueiro do Fortaleza (Foto: Kid Júnior/Agência Diário)Lima defendeu o Fortaleza em 2016 e aguarda fim da temporada para definir futuro (Foto: Kid Júnior/Agência Diário)








- Não consigo nem ter a dimensão. O título sendo na Série A, B ou C é sempre marcante.  Principalmente vestindo a camisa de um time de tanta tradição como o Atlético. Estar iniciando a carreira e poder reerguer o Atlético em um momento difícil, fazer parte do elenco erguendo este gigante, ainda mais com o titulo, foi uma confirmação da minha carreira com essa marca em um clube tão expressivo no cenário mundial. O que me marcou mesmo foi a nossa arrancada pelo acesso, quando o Levir chegou, e a gente vinha de um momento ruim. Fizemos uma intertemporada em Itu, por causa da Copa do Mundo, e quando voltamos teve o jogo dentro de casa contra a Portuguesa. Vencemos por 2 a 1, virada no final. Depois disso o time tomou corpo, e daí em diante buscamos as forças do grupo e do elenco e tivemos uma arrancada muito grande. Acredito que esse jogo foi o inicio de tudo. 

- Ainda sou um torcedor apaixonado (do Galo), sempre acompanhando e torcendo. Comemorando as vitórias e chateado nas derrotas. O que vivi esse tempo todo não tem como esquecer. O carinho e o amor continuam. Torcendo muito, ainda mais agora que o time pode conquistar esse titulo da Copa do Brasil. Continuo jogando. Meu contrato terminou lá no Fortaleza, e estou aguardando outras possibilidades, algumas coisas encaminhadas, mas tem que esperar acabar a temporada para decidir. 


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Thiago feltri

thiago feltri atlético-go (Foto: Futura Press)Thiago Feltri, que também jogou pelo Atlético-GO, atualmente está buscando por um novo clube (Foto: Futura Press)








- Para mim, aquele título foi muito especial e muito importante. Foi o meu primeiro título, primeiro ano como titular, sem contar que foi o título mais importante que conquistei até hoje na carreira. Eu ainda acompanho muito o Atlético, fiquei muito feliz pelos últimos anos do clube, tem conquistado títulos importantes. Naquela época a gente sempre ficava no meio da tabela, não disputava títulos. A torcida merece muito, sempre apóia, cobra quando tem que cobrar, mas está sempre apoiando. Hoje em dia eu ainda encontro um ou outro torcedor, eles sempre comentam. Foram quatro anos no clube, foi um tempo importante.

- Eu joguei até o primeiro semestre de 2016, no Tigres (do Rio de Janeiro). Estou parado, mas estou querendo voltar ano que vem. Estou conversando com alguns clubes, mas nada certo ainda.


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rafael miranda

Rafael Miranda em ação pelo Vitória de Guimarães, de Portugal (Foto: Divulgação)Ainda em atividade, Rafael Miranda está atuando pelo Vitória de Guimarães, de Portugal (Foto: Divulgação)








- Foi um ano muito especial. Depois de um ano trágico como o de 2005, aquele grupo conseguiu recolocar o Atlético no seu devido lugar. Foi um ano de muitos jogadores da base, com a ajuda de outros experientes. No fim das contas, o objetivo foi cumprido. Um dos momentos mais marcantes para mim foi o meu primeiro gol como profissional, contra o Paysandu, no Mineirão. Dois dias antes, minha vó (Dona Helena) tinha ido ao CT ver meu treino. Ela encontrou o Levir e pediu para ele deixar eu fazer um gol, porque eu nunca subia para o ataque (risos). No caminho para o Mineirão, dentro do ônibus, o Levir me chamou, atendeu o pedido dela e disse para eu ir para a área nos lances de bola parada. Não deu outra. Numa cobrança de falta do Luizinho Neto pela direita, cabeceei e fiz meu primeiro gol como profissional, ficando conhecido como o "gol da vovó" (risos). Até hoje, quando estou em BH, as pessoas me param na rua pra falar desse gol. Isso ficou tão marcado que uma vez, no aeroporto em Lisboa, uma pessoa apontou pra mim e disse: "Olha o xodó da vovó!" (risos).

- Nunca escondi que meu clube de infância foi o Atlético, de ir torcer nas arquibancadas. Seria muito legal para mim retornar um dia, quem sabe ao encerrar a carreira. Mas o Atlético tem hoje um elenco de alto nível, talvez o melhor do Brasil, e isso dificulta. Mas isso é coisa para pensar depois. Hoje estou com 32 anos e muito feliz aqui em Portugal. O Vitória de Guimarães briga pelas competições europeias, e tenho contrato até 2018. Vamos ver o que o futuro nos reserva.


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márcio araújo

Márcio Araújo Flamengo (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)Márcio Araújo está desde 2010 no Flamengo (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)


- Formamos um grupo muito bom, uma mescla de jogadores jovens e experientes. Foi um grupo que marcou muito naquele ano pela campanha que fez na série B. Principalmente no segundo turno, quando demos uma arrancada muito boa e conseguimos sair com o título. Ainda tenho contato com alguns jogadores: com o Eder Luis, Thiago Feltri, Rafael Miranda, Marinho, Marcão, Roni. Foi um ano muito importante. Demos a volta por cima, principalmente no segundo turno, e conseguimos marcar a volta do Galo para série A.

- O título foi muito importante para nós. Principalmente pelo ano anterior. Eu tinha sido emprestado ao Guarani no segundo semestre, e, quando retornei, o time tinha sido rebaixado. Tinha uma cobrança muito grande. Mas mesmo com o time jovem, conseguimos fazer um bom campeonato, o pessoal se entrosou bem, conhecia a história do galo, a situação do clube. Lembro que quando o Levir assumir, estávamos lá embaixo na tabela, longe das primeiras colocações. Demos a volta por cima, fizemos uma bela recuperação e acabamos com o título. Foi um ano muito especial, marcou a carreira de todos que participaram, pelo dever que tínhamos de retornar a série A. Mas pela arrancada que demos, fomos muito valorizados, ficamos com muito prestígio pela campanha. O Galo é um time histórico, marcou muito a minha vida. Foi o meu primeiro time grande no cenário nacional, no início da minha carreira profissional. Um clube muito importante na minha vida. Toda vez que retorno, revejo os amigos, o pessoal da segurança, diretoria, comissão, os caras que são especiais. Fica sempre a lembrança e o carinho. Sou muito grato ao Galo por tudo.


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bilu

Murici x CSA - Semifinal Campeonato Alagoano - Bilu (Foto: Ailton Cruz/ Gazeta de Alagoas)Bilu se dedica à carreira de treinador: comandou o Murici de Alagoas em 2016 (Foto: Ailton Cruz/Gazeta de Alagoas)








- Só guardo momentos bons. O início foi ruim. Depois, com a chegada do Levir, a gente foi para Itu, ficamos 10 dias, e começou a ascensão. O jogo do título foi no Ceará, com gol do Marinho. Voltamos para BH como campeões. Lembro da torcida no aeroporto, do caminhão dos bombeiros. A torcida vibrava, agradecia. Passa rápido demais, mas é muito bom relembrar. O time era muito unido, a comissão técnica também. Era um ambiente muito bom. Guardo o Atlético com muito carinho. Ficou muito marcado. Torcedor do Atlético é muito apaixonado, a gente leva para o resto da vida essa dedicação do torcedor, a identificação. O Atlético está onde está hoje graças à torcida que nunca abandona. E está onde está porque merece. É um time de massa. O torcedor faz a diferença.

- Fiz estágio com o Dorival Júnior, no Flamengo, em 2012 e 2013, e sou treinador desde 2014, quando assumi o Murici, aqui de Alagoas. Este ano ficamos em terceiro lugar no alagoano e conquistamos vaga para a Copa do Brasil do ano que vem. Na Série D, fomos eliminados pela Campinense, mas vamos jogar a Série D de novo em 2017. Acabou meu contrato, mas estamos conversando para uma possível renovação. Estamos na luta. Futebol aqui não é muito fácil, mas pretendo continuar como técnico. Todo início é difícil, mas o pensamento é sempre em progredir, chegar em times de maior expressão. Tem que fazer um bom trabalho no Nordeste para abrir mercado.


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éder Luís

Eder Luis Vasco Remo São Januário (Foto: Alexandre Durão)Éder Luís está no Vasco desde 2010 (Foto: Alexandre Durão)


- Ainda tenho contato com alguns jogadores, sim... Era um grupo muito bom, convivemos em um momento muito legal. Além do título da série B, na virada do ano ainda conseguimos conquistar o estadual, e isso marca. Falo mais com o Marcão (capitão), Thiago Feltri, Bilu, Marinho e Márcio Araújo. Outros eu perdi o contato, mas ainda guardo ótimas lembranças daquele grupo.
Quando ganhamos aquele título eu tinha acabado de subir para o profissional e aquela experiência certamente foi fundamental na minha carreira para que eu pudesse chegar onde cheguei. Foi o inicio de tudo para mim. Aquele ano não foi fácil, não fizemos um bom primeiro turno de competição, mas com a chegada do Levir Culpi as coisas melhoraram muito. Muito do que eu tenho no futebol eu devo a ele, pois foi uma pessoa que me ensinou muito. São lembranças que não se apagam. Sou muito grato a tudo que o Atlético fez por mim durante os quatro anos que estive lá, e sei que existe um reconhecimento de parte da torcida para comigo. Até hoje, quando vou a Belo Horizonte o torcedor me para na rua para demonstrar esse carinho. Isso é muito gratificante.
 
- Se você perguntar para qualquer um daquele grupo, é claro que existe uma vontade de voltar (para o Galo). Além da grandeza do clube, todos sabemos o quanto o Atlético se estruturou de lá para cá, conquistou títulos importantes e ficou ainda maior no cenário nacional. Hoje estou muito feliz no Vasco, mas o futuro pertence a Deus.Tenho uma identificação muito grande com o Galo. 


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Tchô

Tchô meia Boa Esporte (Foto: Régis Melo)Tchô, hoje no Boa Esporte: lembra do "alívio" proporcionado pela conquista da Série B (Foto: Régis Melo)


- Tenho pouco contato ainda com os jogadores daquela época. Tenho com Marinho, que mora aqui perto, pelas redes sociais. Consegui ser campeão de novo pela Série C, relembrei bastante este ano por causa da conquista, guardando as devidas proporções. Fiquei muito feliz esse ano e muitos atleticanos relembraram esta conquista 2006. Seria um sonho voltar a jogar lá. Passei 14 anos da minha vida e tenho um carinho muito grande. Eu era muito novo quando ganhamos esse título, 19 anos. Isso dá coragem. O que eu adquiri em 2006 consegui passar para os meninos mais novos do Boa: a experiência do titulo e de ser campeão.

- Foi um alívio (conquistar o título). O Atlético não poderia ficar na segunda divisão e conseguimos voltar. E voltar com título. O torcedor não quer estar na posição de novo, mas devolvemos o lugar que nunca deveria ter saído. Hoje tem Libertadores e Copa do Brasil. É maior ainda do que era antes. Estou na torcida, acompanho os jogos, sou torcedor pela telinha. Se Deus quiser e eu puder, vou lá no Mineirão assistir a final da Copa do Brasil.


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Roni, diretor de futebol do Vila Nova (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Roni, atualmente, é empresário de jogadores de futebol (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)









- Aquele foi um grupo muito legal, que marcou a minha vida. Tenho amizade até hoje com o Márcio, Marcinho, Danilinho, Edson... Foi muito legal. Era um grupo bem fechado, e realmente foi uma campanha maravilhosa. Guardamos isso. Quando você faz amigos no futebol, você não esquece. Foi uma retomada da minha carreira, fiquei na Rússia e resolvi trocar a Série A, com o Goiás, pela Série B (com o Galo). Quando cheguei estávamos em 12º ou 14º, e com a minha chegada, coincidentemente, houve essa mudança, a arrancada e o título. Encontro mais o Marcos quando vou para BH. Saímos para almoçar ou jantar. Éder Luís e Danilinho quando vou ao Rio. Quem ficou mais difícil de fazer contato é o Diego, que está na Espanha.

- Parei de jogar em 2012, no Vila Nova de Goiás. Moro em Goiânia e hoje trabalho como empresário de jogadores. Eu trabalho também com produção de jogos. Esses que são em Manaus, Cuiabá, Cariacica, eu tenho uma empresa que organiza.


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Atacante Marinho do Guarani-MG (Foto: cunha10.com.br/Divulgação)Antes de parar, Marinho jogou no interior mineiro e defendeu o Guarani de Divinópolis (Foto: cunha10.com.br/Divulgação)





- Aquele título foi muito marcante. O Atlético vinha de um momento difícil com a queda, eu como torcedor sofri muito, mas depois nós chegamos ao maior prêmio que foi o título. Ali, o Atlético reergueu, conquistou muitos títulos depois disso. Sou um privilegiado por fazer parte daquele grupo, daquele momento que o Atlético não poderia de forma nenhuma ter vivido, que é a Série B. Mas aconteceu, são 10 anos de um título que guardo até hoje, cada dia que passa eu lembro. Está na minha memória e no meu coração tudo o que vivi.Mesmo jogando no interior, um ano antes da Série B eu estava na arquibancada torcendo pelo Atlético, gritando o nome dos jogadores. No outro ano, pude vestir a camisa do Galo, fazer gols, receber o carinho do torcedor. Isso é tentar explicar o inexplicável. Foi um momento marcante. O gol do título, o último jogo contra o América-RN onde só a torcida do atlético consegue fazer isso, encher dois estádios... Momentos marcantes daquele ano eu posso falar durante um dia inteiro. São muitos.

- O Atlético me proporcionou tudo. Tudo que eu posso usufruir com minha família, meus filhos, tudo que conquistei foi através do Atlético. Independentemente de ter conquistado ou não, sempre fui atleticano, tenho um amor muito grande por esse clube. Independentemente da situação, sempre serei atleticano. O atleticano é diferente, tem um amor muito grande. Vou ao estádio, grito, rodo a camisa, esqueço que um dia eu joguei. Atleticano é isso, é amor, é um torcedor diferente. Eu parei de jogar em 2013, meu último time foi o Democrata de Sete Lagoas. Com o que ganhei no futebol, consegui comprar umas coisas e vivo de aluguel. A vida agora é acompanhar o filho (Marcos Vinícius, de 18 anos). Ele joga no Villa Nova (de Nova Lima-MG), e minha filha joga vôlei de areia e praia (Ana Clara, de 14 anos). Fico viajando com os filhos. Eu apoio os dois, mas não forço nada. Sei como é difícil a vida de atleta profissional. É o desejo deles (seguir carreira no esporte). Eu me entrego. Levo, busco, arco com o que é necessário. Eles têm meu apoio, mas eu também tenho que cobrar um bom desempenho nos estudos. Cobro porque o sucesso no futebol pode chegar ou não. Se não chegar, é necessário pelo menos uma base no estudo.


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Levir Culpi; Atlético-MG (Foto: Bruno Cantini/CAM)Depois de treinar o Galo em 2006, Levir voltou em 2014 e conquistou Recopa e Copa do Brasil (Foto: Bruno Cantini/CAM)




- Essa ficou marcada por ser disputa da Série B, me lembro de coisas interessantes. Time grande disputar a Série B é igual navio encalhado, é muito difícil tirar porque a pressão é muito grande. O time, quando eu peguei, estava em 10º lugar. Eu estava cheio de esperança, era jovem também, no primeiro jogo nós perdemos e fomos para 14º lugar da Série B. Não tinha dimensão da gravidade que era eu estar no Atlético, naquela circunstância. Hoje não sei o que fiz, num passe de mágica... Claro que teve trabalho, houve um resgate junto da torcida. Foi um dos trabalhos com uma lembrança muito boa, pelo grau de dificuldade.

- O Ceará fez um gol, mas o bandeira anulou, e o árbitro não olhava para o bandeira, ele ia andando para o centro do campo. Me deu um desespero e eu saí correndo, invadi o campo e fui expulso. Todo mundo desesperado no banco. Aí ele voltou atrás. Mas fui suspenso. Me lembro da nossa chegada em BH, a torcida comprou a volta para a primeira divisão, não foi um demérito. Se transformou em força para o Atlético. Foi um resgate do que é mais puro no futebol: torcer pelo clube. Foi pegar o Atlético e colocar onde ele deveria estar. Quando chegamos a BH teve carro de bombeiro, desfile, pessoas frenéticas. Nas pequenas coisas estão as grandes alegrias. Certamente foi uma cicatriz que marcou certa época do clube. Os clubes não passam só por bons momentos, quase todos passam por situações parecidas. Aí a gente vê a grandeza. Emerge de um momento difícil como foi esse.