A Odebrecht, responsável pela construção da Arena Corinthians, contratou a Temon para as instalações de sistemas hidráulico e elétrico. No contrato, de R$ 31,5 milhões, havia uma cláusula que estipulava o seguinte: se o custo da instalação não chegasse ao valor combinado, a diferença entre o que foi contratado e o que foi efetivamente gasto seria dividida em 55% para a Odebrecht e 45% para a Temon. O caso foi revelado pelo Globo esporte na semana passada. A construtora, em entrevista concedida a ÉPOCA na quinta-feira (17), voltou a defender a cláusula de "reengenharia" – como é chamado o procedimento. Mas contradisse o parceiro de obras.
Ricardo Corregio, engenheiro que atuou como diretor de contrato da Arena Corinthians, o responsável pela obra, afirma que a cláusula no contrato funciona como um estímulo para tornar a construção mais barata. "Você estabelece essa cláusula imaginando que vai ter a possibilidade de fazer modificações de tal forma que gere economia. Você estimula o contratado porque está dando um percentual a ele. Você estimula ele a propor reduções, como a modificação de qualidade do material, do posicionamento de alguma coisa", disse. Dois contratos, de acordo com ele, tinham esse dispositivo – o da Temon e o da Heating & Cooling, responsável pelo ar condicionado.
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O ponto-chave nesta história é: houve economia? O engenheiro diz que não no caso da Heating & Cooling. O valor contratado para instalar o sistema de ar condicionado foi todo usado. Mas que sim no contrato da Temon, de sistemas hidráulico e elétrico. Isso foi possível, segundo Corregio, porque a execução foi feita de modo diferente do que fora projetado. Um exemplo prático. O Corinthians, na época da construção do estádio, decidiu substituir as louças e os metais fornecidos pela Temon pelos de outra empresa. "Em um determinado momento, o clube disse: 'Ó Temon, eu não quero que você forneça louças e metais. Quem vai fornecer é a Toto. Você vai ajustar o seu sistema, fazer ajustes para ele absorver a tecnologia da Toto'. Tanto é que nas planilhas [da Odebrecht sobre as obras da Temon] você vê que tem uma subtração nessa composição", afirma.
A versão é diferente da que foi dada por Cyro de Albuquerque Miller, diretor operacional da Temon, ao Globo esporte. O executivo disse ao veículo que não houve sobras no contrato em questão.
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Corregio garante que o valor economizado por mudanças no contrato da Temon foi devolvido à construção da Arena Corinthians. O engenheiro afirma que, do valor economizado, os 55% que cabiam à Odebrecht voltaram para a obra e foram utilizados em outros itens. As louças e os metais mencionados pelo engenheiro na entrevista, de acordo com ele, subtraíram R$ 1,6 milhão. "Quem ficou com isso? O clube. No final das contas, o próprio projeto", afirma Corregio. "Tudo o que aparece na contabilidade, nos R$ 985 milhões, é o que foi exatamente fornecido e está implementado no estádio."
O engenheiro também afirma que as cláusulas de reengenharia foram inseridas nos contratos da Temon e da Heating & Cooling a pedido do Corinthians. O clube, na época da construção do estádio representado por Luís Paulo Rosenberg, acreditava que poderia reduzir os valores de alguns serviços e materiais se negociasse diretamente com os fornecedores. O Corinthians cedeu, por exemplo, um camarote para a Heating & Cooling para baixar o valor da instalação do ar condicionado. Procurado por ÉPOCA, Rosenberg confirmou as negociações com fornecedores para baratear, mas disse não ter ciência das cláusulas de reengenharia. "Isso nunca constou em nossos contratos, ainda que pareça uma norma usual da construção", disse por telefone o ex-vice-presidente corintiano.
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