Época Esporte Clube

Presidente do Corinthians também fraudou contrato de estacionamento da Arena

Presidente do Corinthians também fraudou contrato de estacionamento da Arena

Além de se identificar como presidente em reunião do estádio, como revelou ÉPOCA, Roberto de Andrade, ainda candidato, assinou o contrato do estacionamento da Arena Corinthians 27 dias antes de ser eleito

RODRIGO CAPELO
01/11/2016 - 09h42 - Atualizado 01/11/2016 10h16
Roberto de Andrade, presidente do Corinthians (Foto: Daniel Augusto Jr.)

Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, assinou a lista de presença da assembleia-geral da Arena Corinthians que decidiu pela contratação da Omni, parceira do clube em outras áreas, para administrar o estacionamento do estádio. A reunião aconteceu oficialmente em 5 de fevereiro de 2015, e o mandatário só viria a ser eleito dois dias depois, em 7 de fevereiro de 2015. A assinatura configura falsidade ideológica, uma fraude. Mas as irregularidades não cessaram aí. O próprio contrato do estacionamento, assinado em 10 de janeiro de 2015, contém a assinatura de Andrade e o carimbo de presidente, cargo que o dirigente só ocuparia 27 dias depois.

ÉPOCA teve acesso ao contrato de locação de espaço para estacionamento entre Corinthians, Omnigroup e o fundo de investimento que comanda a Arena Corinthians, representado pela BRL Trust. O documento possui as assinaturas de Roberto de Andrade Souza, reconhecida pelo Cartório de Registro Civil do Tatuapé, de Daniela Bonifácio, diretora jurídica da BRL Trust, e de Marta Alves de Souza Cruz, dona da Omni, além de duas testemunhas.

>> Presidente do Corinthians fraudou ata que favorecia Odebrecht

O contrato de estacionamento da Arena Corinthians (Foto: Reprodução)

O contrato estabelece que a Omni é responsável por administrar o estacionamento da Arena Corinthians por dez anos – o documento começa a valer em 10 de janeiro de 2015, mas o início da operação é retroativo e considera a data de 14 de outubro de 2014. A parceria, portanto, valeria até 2024. Nela o estádio tem direito a 70% da receita líquida, isto é, após descontados os gastos da Omni com pessoal e tecnologia, enquanto os 30% restantes vão para a empresa.

A parceria com a Omni tinha pegadinhas. O contrato afirma que a empresa deveria fazer um pagamento mínimo de R$ 1,35 milhão ao fundo independentemente de suas receitas. A cláusula a seguir, no entanto, condiciona o repasse a dois fatores: o estádio precisaria ter o Habite-se, uma autorização emitida pela prefeitura, e o estacionamento deveria ter sua infraestrutura toda concluída. A obra não foi finalizada conforme projeto. A Omni também tem liberdade para romper o contrato, sem pagar nenhuma multa, se em algum momento houver discordância entre as partes sobre os "parâmetros" a serem adotados na gestão do estacionamento.

>> Como a ata fraudada blindaria a Odebrecht de prejuízos

O contrato do estacionamento da Arena Corinthians (Foto: Reprodução)

A assinatura de Andrade no contrato representa mais uma fraude, falsidade ideológica – crime que ocorre quando alguém inclui informação falsa ou omite informação necessária em documento público ou privado. O então candidato se identificou como presidente, com carimbo do clube, não só na assembleia-geral do fundo que deliberou sobre o contrato, como no próprio contrato. O ato se agrava pelo fato de uma cláusula estabelecer que "as partes declaram e garantem que possuem todos os poderes e autoridade" para assinar aquele documento. Andrade não tinha. A pena prevista pelo Código Penal é de multa e um a três anos de reclusão.

Andrade deu a mesma justificativa que usou para a ata fraudada: alegou, por meio de advogado, que já estava em exercício quando assinou o contrato, que levou mais de um mês para ser confeccionado, validado pelo departamento jurídico do clube e encaminhado para a assinatura das partes. ÉPOCA reitera que, como no caso da ata, conforme ouviu de advogado especializado em Direito Societário, o contrato precisa refletir exatamente o que era válido na data da assinatura legal. Em 10 de janeiro de 2015 era Mário Gobbi o presidente corintiano, portanto apenas ele poderia se identificar como tal. Marta Alves de Souza Cruz, dona da Omni, e Rodrigo Cavalcante, sócio-diretor da BRL Trust, foram procurados pela reportagem às 19 horas de segunda-feira (31), mas não responderam às mensagens. Gobbi não quis comentar.

>> Polícia Civil abre inquérito para investigar ata fraudada

+ Siga o autor de ÉPOCA EC no Facebook, no Twitter e no Google+.

TAGS:







especiais